*Pedro Cardoso da Costa
É de conhecimento público que a esquerda mundial defende a inclusão de minorias em posições de destaque, especialmente na política. Entretanto, na prática, esse discurso costuma ficar restrito a manifestos e documentos internos, sem refletir ações concretas. Essa postura é tão ineficaz quanto ideologias opostas.
No Brasil, o presidente da República e seu partido seguem pregando a igualdade nos discursos, mas praticando desigualdade absoluta nas ações.
Quando assumiu, surgiu uma vaga no STF de forma natural, coincidentemente de uma das duas ministras mulheres da Corte. Eram apenas duas mulheres e nove homens. O presidente, sem hesitar, indicou seu ministro da Justiça, branco, homem, de alta posição política e integrante de seu governo, reforçando a desigualdade. A Corte passou a ter dez homens e uma única mulher.
Após a aposentadoria de outro ministro, a vaga foi ocupada, sem questionamento, pelo advogado de defesa do presidente em um caso recente, cuja decisão foi anulada pela própria Corte. A composição permaneceu humilhantemente desequilibrada: 10 a 1.
Como dizia o presidente, “nunca antes na história do Brasil” uma minoria foi tão privilegiada! — uma frase que evidencia a discrepância entre discurso e prática.
Agora, surge mais uma vaga com a aposentadoria de outro ministro. Mais uma vez, a indicação segue critérios pessoais, e não meritocráticos ou de igualdade.
É urgente que a sociedade, especialmente defensores da igualdade e das minorias, manifeste-se para que a vaga seja ocupada por uma mulher, preferencialmente preta. Essa mesma sociedade que venceu o Congresso na PEC da blindagem, agora precisa se impor perante o presidente para ajudar a fazer um pouco de justiça.
Qualquer justificativa de que “o importante é ter conhecimento e preparo” equivale a afirmar indiretamente que não há mulheres preparadas. Nesse contexto, seria relevante conhecer a opinião da única ministra da Corte, já que, tradicionalmente, os ministros influenciam fortemente as indicações. Ou talvez ela valorize mesmo ser a única mulher da Corte.

*Pedro Cardoso da Costa nasceu em 29 de abril de 1962, em Nova Soure, Bahia. Como a maioria dos nordestinos que migram em busca de melhores condições de vida, em 1980, mudou-se para São Paulo. Depois de sucessivas tentativas e desistências por não concordar com as metodologias do ensino, cursou Direito nas Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU e é pós-graduado em Direito Eleitoral e Processual Eleitoral pelas Faculdades Claretiano. Inventou curso particular de alfabetização de adultos em São Paulo, bairro do Grajaú. É responsável pela manutenção de uma biblioteca comunitária em sua cidade natal e mais dois pontos de livros (minibibliotecas). É servidor público federal concursado. É crítico contumaz da inércia da sociedade brasileira nas várias questões de cidadania, especialmente com relação à morosidade vergonhosa das Justiças brasileiras. Escreveu o livro Cultura da Sujeira (1996), com uma visão crítica sobre o hábito brasileiro de se jogar todo tipo de objeto nas ruas.


