Por Lúcio Albuquerque – [email protected]
São pouco mais de 5 horas da manhã do dia 3 de fevereiro de 1982, uma quarta-feira como qualquer outra, e havia pouca gente acordada na ainda pequena cidade de Cacoal, com 13 mil habitantes na zona urbana e mais 55 mil na zona rural, município emancipado há pouco mais de quatro anos, a 478 quilômetros de Porto Velho, a capital de Rondônia, mas aquela quarta-feira entraria para a história do Estado, instalado há menos de um mês, como o dia em que aconteceu a maior tragédia da região.
Fevereiro é período do “inverno amazônico”, chovia, mas isso era normal, assim como o vento um pouco forte que balançava a fiação do sistema de distribuição da Centrais Elétricas de Rondônia, Ceron, que fornecia uma energia fraca, com gerador movido à óleo diesel, serviço que a população reclamava muito e que algum tempo depois gerou uma situação muito difícil, quando a população se rebelou e incendiou as instalações da empresa na cidade.
Os dois mais graduados do contingente da Polícia Militar em Cacoal, o tenente Teixeira e o sargento Ubirajara seriam personagens diferentes do drama. O oficial teria chegado de férias e pernoitado na casa de uma família conhecida – na época houve citação de que seria sua noiva, e t5 horas da manhã entrou no quartel. O sargento estava lá e saiu um pouco antes para dar uma passada em casa e retornar para o expediente. No quartel apenas a guarda e alguns policiais que residiam lá mesmo.
O prefeito Clodoaldo Nunes de Almeida, neto do pioneiro do plantio de café naquela região, estava em sua casa. Acordados e trabalhando àquela altura a turma da madrugada, padeiros, taxistas, vigias e, a caminho do trabalho, algumas pessoas, que se dirigiam a seus postos em serrarias e outros serviços, dentre os quais o operário Zedequias Domiciano, àquela altura a menos de 150 metros do local onde trabalhava, ia encolhido, tentando chegar antes de se molhar todo, porque passaria o dia “no batente”.
A Rádio Rondônia estava “aquecendo” o transmissor, lá no alto da colina onde agora fica o “Bairro da Rádio”. O vigia, como todos os finais de madrugada, era o responsável desse trabalho à espera dos jornalistas que abririam as transmissões às 5h30.
Pouquinho depois desse horário a cidade, e toda a região, foi abalada pelo estrondo de uma imensa explosão que, depois se verificou ter acontecido num paiol onde a empresa que fazia o calçamento das ruas, para a prefeitura, guardava uma quantidade razoável e “bananas” de dinamite. O incidente pode ter sido causado por um curto-circuito ou pela fragmentação da lâmpada pendurada e pendente dentro do paiol.
Na hora da explosão ninguém sabia ainda onde havia acontecido. Uma das testemunhas ouvidas disse ter acordado com o barulho pensando que fora uma panela de pressão na cozinha de casa, mas olhou e a esposa ainda estava deitada, então não foi. Outro personagem ouvido pelo site disse que acordou atordoado, saindo de casa para dar uma olhada e ouviu do vigia do Incra que a explosão fora muito forte, “talvez na serraria”.
Bastaram alguns minutos para acabar a dúvida: o paiol ficava dentro do quartel da Polícia Militar, e quando detonou levou pelos ares todo o pequeno prédio que abrigava a guarnição. Morreram 10 policiais, dentre eles o oficial, e o civil Ezequias.
Essa é a história não só da tragédia, mas de personagens que estavam no local, em profissões ou situações totalmente diversas, por exemplo a então jovem Lurdes Kemper, que residia com seus pais num sítio na zona rural e viera visitar a irmã, onde pernoitou. O jornalista Adair Perin havia, menos de dois anos antes, lançado o primeiro número do jornal “Tribuna Popular” que em 2017 tornou-se o jornal impresso mais antigo do Estado devido ao fechamento do centenário “Alto Madeira”.
A professora Lindomar Santos foi outra testemunha daquele fim de madrugada e início do dia. O ex-motorista do Incra Luiz Gonzaga era o diretor da rádio Rondônia local. O agrônomo José Lopes de Oliveira era o executor do Incra em Cacoal. A história desses personagens e os momentos difíceis que viveram aquele 3 de fevereiro, um dia que, certamente para suas memórias, nunca vai acabar.
5ª feira, 13 de agosto, os depoimentos de quem estava lá quando os fatos aconteceram.