Porto Velho/RO- Um antibiótico natural poderosíssimo, capaz de prevenir e combater diversas doenças, tem diversos adeptos em Rondônia, apesar de sua comercialização ter sido proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É a vacina do sapo, também conhecida como kambô. Essa palavra indígena é usada tanto para se referir a rã phylomedusa bicolor quanto ao veneno obtido da secreção desse anfíbio. Na realidade não se trata de um sapo, e sim de uma rã.
Os índios katukinas, do Acre, inicialmente eram os únicos detentores desse conhecimento. A vacina foi levada da selva para a cidade nos anos 60 pelo seringueiro Francisco Gomes Muniz, já morto. Ele viveu com os katukinas e aprendeu com o pajé a aplicar a vacina e a identificar a rã. De lá para cá, o kambô começou a ser aplicado nos centros urbanos do país.
Em Porto Velho, a chamada vacina do sapo ganhou adeptos como a autônoma Maria Lopes, de 36 anos, que há cerca de um ano fez uma aplicação da substância. No caso, quem aplica a vacina não é chamado de doutor, e sim de “sapeiro”.
“Soube que um sapeiro do Acre estava na cidade e fui procurá-lo”, conta ela. “Ele recomendou que eu tomasse quatro copos de água e fez três furinhos na batata da minha perna direita com um cipó incandescente. Com a ponta de um canivete, passou a secreção do sapo em cada furinho e me mandou sentar em uma cadeira. Comecei a sentir uma pressão muito grande na cabeça. Meus olhos se encheram de lágrimas e pareciam saltar para fora do meu rosto. Senti um mal estar horrível. Confesso que cheguei a me arrepender de ter feito aquilo. Vomitei várias vezes, mas logo depois já estava me sentindo bem. Minhas energias foram renovadas. Hoje, tenho mais disposição”, diz.
Mas enquanto os adeptos e os “sapeiros” garantem a eficácia da chamada vacina do sapo, a Anvisa busca cada vez com maior insistência, a conscientização da população, além da regulamentação, para evitar abusos no consumo. A Anvisa já determinou a suspensão de toda a propaganda sobre as propriedades terapêuticas e medicinais da vacina. A agência considera o veneno algo típico da rotina indígena que está migrando descontroladamente para a cultura do homem branco e faz um alerta: Quem consome a substância está sujeito a sérios danos na saúde, já que o veneno está inserido em uma cultura, com rituais e alimentação apropriada. Ainda segundo a Anvisa, o uso do veneno fora das comunidades indígenas é perigosíssimo porque não há segurança comprovada e sequer uma avaliação científica.
Reações são sinais de intoxicação
As fortes reações provocadas pela vacina do sapo, de acordo com o cirurgião Alexandre Brito, de 33 anos, são sinais evidentes de intoxicação. Ele explica que a tontura, desorientação, aumento na freqüência dos batimentos cardíacos e na pressão arterial, deslocamento da pupila dos olhos e vômitos, reações típicas da vacina, são características tóxicas.
“A forma como eles aplicam o veneno é muito perigosa. O furo feito na pele dos pacientes, para depois inserir a secreção, coloca a substância em contato direto com a circulação sanguínea e isso pode ser muito perigoso, porque há o risco de provocar sérias complicações e até uma parada cardíaca”, explica.
Alexandre Brito alerta para que a população tenha cuidado antes de fazer a utilização de substâncias sem o poder de eficácia comprovado cientificamente, como o kambô.