(DA EDIÇÃO IMPRESSA DE TRIBUNA POPULAR, DO DIA 26.06.2020).
A população de Cacoal certamente não está totalmente satisfeita com as pessoas que atualmente exercem mandatos na esfera municipal de poder. Entretanto, e por enésimas razões diferentes, isto não se aplica a todos os mandatários e, muito menos, a todos os eleitores. Há detentores de mandato que procuram cumprir suas atribuições, como há os eleitores conscientes de sua responsabilidade, porque a alienação, a Síndrome de Estocolmo, o masoquismo, o sadismo e a indiferença não tomaram conta de todos os conterrâneos de Obedis. As sinecuras ou prebendas também não são suficientes para promover a cooptação em massa dos anisienses, deixando margem para amplos debates sobre a situação. Todavia, como teremos eleições este ano, o eleitor precisa estar atento pelo menos em uma coisa: o amor incondicional dos candidatos pela cidade e a conversão eleitoral são sentimentos eleitoralmente eternos…
Claro que todos os eleitores devem lembrar, com muita emoção, dos discursos de todos os candidatos em 2016. Entre os sentimentos mais emocionantes, estavam o pioneirismo, o amor pela cidade, o amor pela educação, agricultura, saúde, segurança, cultura… Além do amor, esse sentimento avassalador que toma conta dos corações dos candidatos, está o “fazer diferente”; a geração de empregos; a construção de escolas, creches, praças, hospitais; o “trazer indústrias”; a reconstrução da cidade; a colocação da cidade como a melhor do estado, do Brasil e do mundo. O curioso em tudo isso é que esses discursos acontecem, há décadas, mas o eleitor finge que nunca ouviu e que é tudo uma grande novidade. Se todas as indústrias prometidas em campanha na cidade de Cacoal tivessem sido instaladas, São Paulo já teria perdido, há décadas, o posto de região mais industrializada da América do Sul. Se todos os empregos prometidos em campanha fossem realidade, Cacoal era hoje uma República Checa, Alemanha, Hungria, Holanda… Nem os bebinhos da Praça da Matriz estariam ociosos…
Outro tema que causa muita emoção durante a campanha é a agricultura. Os agricultores eleitorais aparecem do nada! Em geral, eles são pioneiros, trabalham na lavoura em Cacoal, desde 1932, e já eram agricultores em outros estados. Quando alguém fala de eleição para essas pessoas, elas logo dizem: eu amo a agricultura, sou pioneiro de Cacoal, meu pai é pioneiro, trabalho na lavoura desde criança. Esse discurso é tão rotineiro em campanha que é usado por candidatos a vereadores, prefeitos, deputados, senadores…Há três coisas que todos os candidatos de Cacoal possuem em comum e que deveriam constar como regras eleitorais: é que todos amam a cidade, todos são pioneiros e todos são agricultores. Daqui mais um tempo, vai ser necessário abrir mais umas 20 ruas no bairro Green Ville, em Cacoal, para colocar os nomes dos candidatos a vereadores. Claro que a agricultura não é o único tema de campanha. Se alguém falar sobre educação com os candidatos, eles vão dizer que a avó era professora; a bisavó era professora; a trisavó era professora; a tataravó era professora; a pentavó; hexavó, heptavó; octavó… No período eleitoral, o amor dos candidatos pela educação é uma coisa alucinante! É necessário discorrer sobre os esportistas eleitorais ou sobre o cristianismo eleitoral??? Claro que não!!!!
O leitor pode imaginar que haverá alguma mudança de temas este ano. Obviamente que não!! A única novidade é que os neófitos e debutantes pregam a redução do salário dos vereadores atuais, como se isso fosse a solução para todos os problemas da cidade. Na cabeça dessas pessoas, o grande problema dos vereadores está no salário. Com a redução do salário pela metade, teremos, segundo esses teóricos, uma Casa de Leis exemplar. Há, ainda, os que defendem a redução do número de cadeiras. Isso não possui nenhuma coerência, porque a redução de salário não pode ser vista como sinônimo de qualidade. Se salário alto fosse sinônimo de problema, Floyd Mayweather, Tiger Woods, Roger Federer e Cristiano Ronaldo seriam grandes dejetos. E não são!!! O que todos os municípios precisam é eleger pessoas que valham o salário. Até os dois filósofos da honestidade vão concordar com essa tese, porque pregar a redução de salários é pregar a mediocridade…
Então, o que é pior, o salário dos vereadores ou o amor eleitoral?? O eleitor precisa, muito mais do que abominar os salários de políticos, abominar este amor eleitoral, que abriga todos os temas da administração pública e que tem prazo de validade. Esse amor infinito pelo povo, esta conversão multifacetada, essa paixão inveterada pela cidade tinham data de validade marcada para 04 de outubro, quando o eleitor se entregaria cegamente ao amor dos candidatos. Como a pandemia mudou muitas coisas da rotina da sociedade, a data de validade deste amor agora depende do Congresso Nacional, isso se os bolsominions não institucionalizarem a Monarquia Absolutista no Brasil… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Articulista