Nos últimos dias, o Brasil assistiu, estarrecido, à decisão do Governo de Rondônia de recolher mais de 100 livros da Literatura Brasileira e mundial das bibliotecas de escolas públicas do estado. Esta medida representa um dos atos mais abomináveis adotados em Rondônia, até hoje, contra os princípios de democracia e contra a classe estudantil rondoniense, ainda que não seja a única medida do atual governo em prejuízo da educação. A Portaria 239/2020/SEDUC – GCAE, encaminhada para as escolas logo após a censura dos livros, pode causar prejuízos incalculáveis para os estudantes de Rondônia. É lamentável constatar que medidas como estas encontrem defensores em uma cidade como Cacoal…
Atualmente, é possível encontrar muitos pais de alunos que defendem o governo de Rondônia e acreditam que este governo pode garantir às futuras gerações um ensino de qualidade, como foi pregado na campanha do então candidato Marcos Rocha. Tudo não passou de papo furado!! Todas as medidas deste governo, no setor educacional, têm sido para piorar a qualidade do ensino. No início, o secretário queria impedir que os professores pudessem fazer o lanche junto com os alunos, sem saber que, em muitas escolas, esta estratégia é adotada para aproximar alunos e professores, objetivando proporcionar o diálogo, o debate e a troca de informações entre eles, além da sala de aula. Quando foi questionado, o secretário argumentou que não sabia de nada e que a culpa era de algum subordinado. Poucos tempo depois, o mesmo secretário enviou documento para as escolas, informando que somente ele poderia autorizar a realização de palestras em escolas. Imagine o leitor que para uma escola de Vilhena fazer uma palestra sobre meio ambiente, por exemplo, com uma autoridade municipal, tinha que mandar um ofício para a Coordenação de Ensino, que mandaria para Porto-Velho, para o secretário analisar se iria autorizar ou não a palestra. Ridículo isso!!!
Muitos professores que votaram no coronel do Pé Quebrado já esqueceram que em outubro do ano passado o mesmo secretário e o governador gravaram vídeos, distribuíram em todas as redes sociais do estado e mandaram publicar documentos no Diário Oficial de Rondônia, informando que o governo pagaria todos os valores referentes ao Piso Salarial dos professores, incluindo todos os atrasados. As publicações foram feitas pela manhã. Na parte da tarde, o secretário e o governador mandaram cancelar as publicações, foram às redes sociais e à imprensa e declararam que tudo era uma brincadeira e que a culpa era, mais uma vez, de um funcionário subordinado. Nas escolas, centenas de professores aliados do governo zombaram dos colegas que não acreditavam na promessa. Um dia depois, a revolta era geral e hoje nenhum professor acredita no secretário e muito menos no governador, caso eles façam novas promessas.
Agora, no começo do ano, o mesmo governo, o mesmo governador e o mesmo secretário determinaram o recolhimento de mais de 100 livros das bibliotecas de escolas. As pessoas mais inocentes imaginam que eram somente 43 livros, mas havia, no final da lista, uma observação para recolher todos os livros de Rubem Alves. Ele escreveu mais de 100 livros… Dessa vez, a reação foi geral e até mesmo o ministro da educação, conhecido no país inteiro como um imbecil, criticou a censura de livros em Rondônia. Mais uma vez, como é de costume, o secretário declarou que algum funcionário subordinado pode ter feito a censura de livros. Então vejamos: os documentos sobre a censura foram publicados no Sistema Eletrônico de Informações do governo (SEI). Todos os documentos da Seduc tramitam neste SEI, todos os servidores que entram ficam devidamente identificados, com horário de acesso e tudo. Como que pode o governo mentir que não sabe quem publicou e que iria investigar os fatos??? Todas as vezes em que eles fizeram essas lambanças, prometeram investigar os fatos. Até hoje ninguém ficou sabendo quem eram os funcionários subordinados que tinham feitos as publicações. Claro que o governo não vai dizer, porque era tudo papo furado…
A última lambança, já esta semana, é a portaria citada na introdução desse texto. Nela está escrito que o aluno pode reprovar em todos os bimestres, reprovar na recuperação, reprovar nos exames finais, reprovar em todas as avaliações possíveis do ano letivo. Mesmo assim, determina a portaria do Secretário de Educação, o aluno terá direito de fazer outra prova no começo do ano letivo seguinte, depois de ter ficado de férias. Nunca houve uma medida mais medíocre do que essa!! Isso vai estimular os alunos a não terem nenhum interesse pelos estudos. Quem foi que disse que isso melhora a qualidade ensino??? Duvido que os dois filósofos da honestidade concordem com esse absurdo!!! Vale lembrar que a portaria está publicada no mesmo portal onde foram publicadas todas as outras medidas que o governo negou depois. Então, não se surpreenda o leitor se o governo negar a existência da portaria ou declarar que algum funcionário subordinado é que elaborou. O engraçado de tudo isso é ver que em Cacoal, uma cidade universitária, existem pessoas que defendem essa portaria e acreditam que essa Portaria da Mediocridade precisa ser colocada em prática. Por causa desse proselitismo desqualificado é que nossa educação vai mal, muito mal…Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Articulista