A população de Rondônia já conhece bem de perto alguns dos principais cabos eleitorais em praticamente todos os municípios do estado. Eles têm como principal perfil ficarem escondidos durante vários anos e aparecer no período de campanha, dizendo em quem a população deve ou não deve votar. Nos municípios rondonienses com mais de 30 mil habitantes, esses gênios da sociologia eleitoral geralmente são lideranças religiosas que usam pessoas inocentes para atender seus interesses particulares e mandam os fieis votarem nos candidatos que atendem exclusivamente suas conveniências eleitorais. Claro que nem todos os líderes religiosos se envolvem em campanhas eleitorais, porque muitos deles cuidam apenas de pregar a bíblia para os fiéis. Infelizmente há outros que esqueceram completamente a bíblia, Jesus Cristo e a religião e hoje se dedicam a interferir na opinião dos eleitores que frequentam igrejas, como se esses eleitores fossem vacas de presépio. A atuação desses políticos vestidos de lideres religiosos é bem conhecida em Rondônia e claro que Cacoal não é nenhuma exceção…
Inicialmente, cabe esclarecer que a condição religiosa de uma pessoa, qualquer que seja ela, não serve como parâmetro para que esta pessoa se coloque como conselheira de uma cidade, decidindo sozinha em quem os eleitores de sua igreja devem votar ou não votar. Além disso, a disseminação de conceitos completamente distorcidos, sobre partidos ou candidatos, torna a eleição muito desigual e prejudica partidos e candidatos que, muitas vezes, possuem boas propostas para resolver os problemas da cidade. O fato de uma pessoa se declarar religiosa não significa que tal pessoa tenha o direito de determinar como devem agir os eleitores de uma cidade. Apenas para lembrar um fato muito conhecido em Rondônia, quando o ex-deputado Valter Araújo era candidato a deputado, centenas de lideranças religiosas aderiram à campanha de Valter Araújo. Ele acabou eleito e se tornou presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia. Como todo mundo sabe, o ex-deputado nomeou dezenas de lideranças religiosas de Rondônia nos gabinetes da Assembleia Legislativa, apenas para ter o controle de algumas igrejas em diversos municípios do estado, para uso exclusivamente eleitoral. O curioso é que Valter Araújo foi apresentado em muitas igrejas de Rondônia como um enviado de Deus e como a pessoa que resolveria todos os problemas do estado. Não resolveu nada!!
Muitas pessoas não lembram como foi o mandato do ex-deputado Valter Araújo, mas a Polícia Federal o acusou de ter montado um grande esquema de corrupção dentro da Assembleia Legislativa e de ter cooptado muitos líderes religiosos. Após a prisão de Valter Araújo, todas as lideranças religiosas que pregaram seu nome como ungido de Deus se esconderam e ficaram vários anos no anonimato, com vergonha de tudo que aconteceu. Agora, passados vários anos, essas pessoas estão de volta às campanhas eleitorais, pregando a moralidade e falando que elas é que sabem o que é bom para o estado e para os municípios. Vale registrar que Valter Araújo não foi a primeira pessoa eleita usando igrejas e que depois deu problema. Como já ocorreram diversos casos em Rondônia, os fieis de todas as igrejas usadas em campanha deveriam acordar e perceber que muitos desses candidatos escolhidos por seus lideres religiosos não servem para representar a honra e a decência das milhares de pessoas que frequentam igrejas em nosso estado e que não merecem passar por esse tipo de vexame.
A realidade sobre esses fatos é que existem milhares de pessoas muito boas e muito decentes em todas as religiões. A verdade é que nem todas as igrejas estão envolvidas em campanhas eleitorais, impondo candidaturas aos fiéis. A grande maioria de lideres religiosos se dedica mesmo a pregar a palavra de Deus e a bíblia. Depois de tudo que aconteceu no estado, com a eleição de Valter Araújo, qual a credibilidade que as lideranças religiosas envolvidas na campanha dele ainda possuem, a ponto de quererem determinar em quem os fiéis devem votar? Por que alguns desses líderes inventam conceitos sobre política que somente existe na cabeça deles? Quem disse que os milhares de pobres que militam em muitas igrejas são pessoas da direita? O fato de o dono de uma igreja ser muito rico e ser de direita não significa que os fiéis da igreja o são também de direita. Quais foram os benefícios que os fiéis dessas igrejas tiveram, nos últimos 30 ou 40 anos, votando em candidatos escolhidos por seus conselheiros religiosos? Essas e outras perguntas precisam ser respondidas pelos fiéis de todas as igrejas que são usadas como comitês eleitorais em todas as campanhas. Depois de tudo que já aconteceu com o uso de igrejas em eleições, não se pode mais aceitar a ideia medieval de que lideranças religiosas, sem nenhuma formação política, têm qualidade de orientar eleitores. Não se pode confundir as pessoas.
O fato de algumas pessoas terem a capacidade de decorar alguns versículos da bíblia para citar em microfones não significa que tais pessoas possuam qualificação para discutir conceitos e concepções sobre política, e muito menos que conheçam as demandas de uma população. O fato de pessoas usarem terno e gravata e lerem versículos da bíblia, fazendo a interpretação que bem entendem não quer dizer que essas pessoas têm o direito de desqualificar partidos ou candidatos que não são controlados por suas igrejas. Aliás, a Justiça Eleitoral precisa abrir os olhos, para evitar que milhares de fiéis sejam vendidos a candidatos ou partidos apenas para atender interesses de alguns líderes religiosos cuja principal finalidade é alienar pessoas desinformadas para vender prestígio político. Certamente os dois filósofos da honestidade são muito mais qualificados para dar orientações à sociedade, sobre as eleições desse ano do que os cabos eleitorais, conselheiros políticos e carpideiras de Valter Araújo. Não é possível que os eleitores de Cacoal se deixem manobrar pelas flordelis cacoalenses e façam escolhas que sirvam apenas para garantir as prebendas de pseudolideranças que não contribuem em nada para que tenhamos uma cidade melhor e livre da alienação… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES é Professor da Rede Estadual e Articulista