Porto Velho/RO – No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado hoje, 05 de junho, uma triste constatação para os mais de 1,5 milhões de habitantes de Rondônia: o Estado se tornou mais quente nos últimos 16 anos. E este seria apenas um dos sintomas do aquecimento global.
A previsão é de que até o final deste século teremos na Amazônia, uma vegetação de savana – árvores de pequeno e médio portes, com caules retorcidos e pobreza de diversidade.
Segundo a expectativa de estudiosos do aquecimento global, este fenômeno seguirá um arco, começando pelo Pará, indo para Mato Grosso e atingindo Rondônia.
Estudo realizado pelo Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), revela que nos últimos 16 anos a temperatura em Rondônia aumentou em torno de 0,2 a 0,5 graus centígrados. A elevação pode parecer pouca, mas na região tropical, onde Rondônia está situada, as mudanças acontecem de forma gradual.
“Pesquisei as temperaturas locais desde 1928 até 2006, consideramos variações anuais e dividimos pelos 16 anos. Isto significa que em determinados períodos o calor ficou realmente mais intenso”, afirma o meteorologista e climatologista do Sipam, Ranyere Nóbrega.
Segundo Nóbrega, a elevação de temperaturas também está relacionada com o crescimento da cidade. A junção de prédios, asfalto e a retirada de vegetação natural contribuem com o aumento de temperatura e nem mesmo a arborização da cidade iria resolver o problema de excesso de calor. “As árvores podem transmitir uma impressão de menos calor por causa das sombras, mas isso não significa a diminuição no registro dos termômetros, que manteriam altas temperaturas”, revela.
Savana
Pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) calculam o tamanho do estrago que o aquecimento global trará à Amazônia neste século. Eles cruzaram dados de 15 modelos de computador usados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) com outros de vegetação e clima feitos no Brasil e constataram que até 18% da área que atualmente é mata deve virar uma vegetação rala, semelhante ao cerrado. Com o clima mais seco, a savana tende a crescer. Pelo estudo, a floresta amazônica vai ganhar 30,4% de savana entre 2090 e 2099.
Explicações
O pesquisador Ranyere Nóbrega, do Sipam de Rondônia, ressalta que o clima na Terra está mudando e a tendência é que estas alterações sejam mais notadas nos próximos anos. “Estamos tendo o fenômeno La Niña, que traz mais chuvas e tem entrada de ar frio. O El Niño é o contrário disto. Estes dois fenômenos antes aconteciam uma vez a cada década, hoje eles não têm mais um padrão”, explicou.
As principais causas do aquecimento global são: alta emissão de dióxido de carbono (CO²) e metano no ar. O Brasil é o quarto lugar na emissão de CO² e cerca de 60% deste total vem das queimadas e do desmatamento. Os Estados Unidos estão em primeiro lugar no ranking de países poluidores.
Rondônia não possui dados separados sobre sua contribuição no aquecimento global, mas o pesquisador afirma que a junção de queimadas e agropecuária é um fator preocupante. O modelo de pecuária extensiva, por exemplo, que utiliza grandes áreas, influi diretamente na emissão de gases poluidores. Na queimada usada para limpar as áreas, se forma o dióxido de carbono. Já a pecuária gera o metano.
Outra fonte bem conhecida na emissão de CO² é a descarga dos carros. A queima dos combustíveis fósseis, como os derivados do petróleo também é muito poluente. “Independente da origem, uma coisa é certa: os níveis de dióxido de carbono nunca estiveram tão altos”, ressaltou.
Mudanças
As mudanças começam a ser sentidas com ondas de frio ou épocas de seca intensa. As friagens em Rondônia, por exemplo, estão mais constantes e rápidas. Os fenômenos que antes aconteciam com raridade, agora estão mais intensos e freqüentes, um problema que não está acontecendo só em Rondônia, todo o mundo começou a perceber alterações no comportamento climatológico nos últimos anos, segundo Ranyere Nóbrega.
Consequências
O aquecimento global pode ocasionar falta de água potável, dificuldades para cultivo de alimentos e o aumento de doenças tropicais como malária e dengue. Além disso, seca como a que aconteceu em 2005 poderão ser bem mais frequentes.
Como colaborar
Com o uso racional da energia elétrica. “Principalmente porque temos em Rondônia, termoelétricas, que queimam o diesel, altamente poluente”, lembra Nóbrega.Troca das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes – as brancas e utilizando transportes não poluentes, como a bicicleta, por exemplo.