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sexta-feira, dezembro 20, 2024

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Fórum Mundial Amazônia+21: É preciso conhecer a realidade dos povos da Amazônia, dizem debatedores

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O público que acessou o quarto debate prévio do Fórum Mundial Amazônia+21, realizado nesta quarta-feira, 14, pelas plataformas online, conheceu um pouco mais da história e da vida na Amazônia, a diversidade dos povos e os desafios da floresta, através da participação de profundos conhecedores do assunto: o escritor Márcio Souza, o cacique Almir Suruí – acompanhado da esposa Janete Suruí – e o geógrafo Gustavo Gurgel que debateram no primeiro painel, tendo como moderador o presidente da FIERO, Marcelo Thomé.

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Marcelo Thomé lembrou que a Amazônia é imensa e precisa crescer ainda mais. Mas esse desenvolvimento precisa ser sustentável, disse. “A região impõe inúmeros desafios. É preciso conhecer a Amazônia, mas não apenas com um olhar voltado à preservação do meio ambiente. Pois existem duas Amazonas, a real e a invisível. Neste quarto e último debate prévio do Fórum, o foco são pessoas, negócios e o papel das cidades no desenvolvimento da região amazônica”.

O escritor Márcio Souza citou a inexistência de conhecimento sobre a realidade da Amazônia invisível. Para ele, é fundamental falar o Brasil a partir da Amazônia deixando de lado a visão bandeirante e exploratória da região, tratada como subdesenvolvida, mas cuja riqueza atrai a atenção de todo o mundo.

“Sem conhecimento, o que acontece é o desmatamento para criar pastos para bois. É preciso conhecer a cultura tradicional desses povos. O governo federal não tem interesse em preservar este conhecimento para as futuras gerações. A política nacional é manter a Amazônia atrasada. Queimar sem saber e sem conhecer a biodiversidade da região é uma estupidez. Estamos vivendo um momento trágico e temos que continuar alertas contra as ações em detrimento das lutas das etnias indígenas para preservar seu território ”, afirmou.

Em sua participação, o chefe Almir Narayamoga Suruí ressaltou a importância do Fórum Mundial Amazônia+21 como marco histórico na luta pelo futuro de novas gerações. “Este debate é fundamental para mostrar o que a Amazônia representa para o Brasil e seu papel importante na história do nosso país. Somos responsáveis por construir este futuro melhor. A Amazônia está viva. Vamos sonhar juntos para o que queremos para o povo brasileiro”, disse.

Almir lembrou que o maior desafio dos povos indígenas é a gestão do território, mas desenvolvido sem necessidade de desmatamento e preservando o meio ambiente. Além disso, outro desafio é conscientizar sobre o respeito pela cultura, as tradições e a história das etnias. “Existem diferenças e precisam ser respeitadas”, disse.

“Viver na Amazônia é um privilégio, e sabemos o que significa lutar pela melhoria da qualidade de vida”, afirmou Almir. “A floresta gera sabedoria e os mecanismos que ela oferece são para todos. Se todos tivessem consciência de como fazer e o quê, a realidade seria muito diferente. Minha história de luta começou aos 17 anos, trabalho para mostrar o papel da floresta para o mundo. Buscar caminhos e conhecimentos para uma economia mais consciente faz parte desta minha luta. Estamos juntos buscando o Brasil melhor, tratando a sustentabilidade como a força que pode valorizar a floresta. Outro ponto é a inserção do povo indígena neste debate de um país mais justo para todos. Viver na Amazônia é um grande desafio”, falou.

O geógrafo Gustavo Gurgel destacou o chefe Almir Suruí como um grande ativista em defesa do povo da região. “Temos experiência da realidade dos povos da floresta e precisamos valorizar a floresta em pé e contribuir para o desenvolvimento dos povos da Amazônia. Ao falar sobre a Amazônia, que viveu vários ciclos de exploração, é preciso falar das mudanças ambientais. Temos uma perda desta matéria viva, pois é da floresta que se extrai toda informação”.

Ainda de acordo com Gurgel, nos últimos 40 anos continuamos utilizando as mesmas ferramentas, que não contribuem para o desenvolvimento. “São muitos os problemas. A discussão deve extrapolar o meio acadêmico e atingir o âmbito popular. Precisamos olhar e atender as pessoas que vivem na floresta. Olhar para a diversidade dos povos da Amazônia, cuja demanda é enorme. Há condições de desenvolver de maneira mais eficiente, equilibrada e sustentável, através de investimentos em pesquisas e ações efetivas. E mais importante, com a inclusão dos povos da floresta. Se não pensarmos nisso agora, sem dúvida os prejuízos serão irreversíveis”, disse.

Cooperativas apresentam resultados para desenvolvimento sustentável da Amazônia

O Especialista em Políticas e Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mário Cardoso atuou como moderador do segundo painel intitulado “AmazoniAtiva – Conectando pessoas, florestas e mercados” com a apresentação de cases de cooperativas e redes que atuam na região e enfrentam os desafios para o desenvolvimento da Amazônia.

Maria Jaqueline Freire, da Saboaria Rondônia contou que o projeto foi iniciado em 2015, mas formatado em 2018, com a produção de sabonetes artesanais e cosméticos com matéria prima da Amazônia. “Valorizamos a cadeia produtiva e a ideia é colher, produzir e preservar. Esses são os três objetivos principais da Saboaria de Rondônia, uma associação de mulheres que produz sabonetes e produtos de higiene orgânicos a partir de matéria-prima colhida diretamente da floresta de Ouro Preto do Oeste, no Vale do Jamari de Rondônia”.

“Nós idealizamos a saboaria em formato de associação para ajudar as mulheres da região. Nosso foco são as mulheres rurais, mas pensamos em expandir também. Queremos mostrar que unidas somos fortes e sozinhas não somos ninguém. O mais interessante é que conseguimos preservar o buritis e babaçu, pois são palmeiras que as pessoas derrubam para colocar o capim, e nós estamos revertendo essa ideia. Lembrando que somos nós mesmas que colhemos os frutos, quebramos e retiramos o óleo, nós que entramos na mata para termos o que precisamos”, explicou Maria.

A empreendedora falou sobre os desafios enfrentados. O primeiro, o capital. “O banco só empresta dinheiro para quem tem dinheiro”, desabafou. Outra dificuldade citada é trabalhar a consciência do público. A logística também é outro gargalo, principalmente pelo alto valor do frete, a burocracia por parte da Legislação Ambiental e a Lei da Biodiversidade. Conseguir a matéria prima também constitui mais um desafio.

O gestor ambiental Sávio Gomes, da Rede da Floresta-RO agradeceu a oportunidade de mostrar a experiência. “Nossa história começou em 2003 através de um projeto que partiu do Mato Grosso com foco maior na castanha do Brasil. A iniciativa Pacto das águas tem sede em Rondônia tem como foco apoiar os grupos indígenas, através de capacitação, assessoria técnica, suporte para a produção e logística. “Apoiamos a cogestão dos empreendimentos locais até alcançarem a autonomia. Apoiamos diretamente 900 produtores indígenas e indiretamente mais de 3 mil pessoas. A castanha do Brasil é o cerne do nosso trabalho desenvolvido. O açaí nativo e a mandioca também são trabalhados. Hoje desenvolvimentos o projeto Rede da Floreta com a participação de vários parceiros que se uniram para comercializar a produção”.

Gomes ensina que entender a verdadeira rede de negócios das comunidades é um dos primeiros passos rumo ao sucesso, daí a importância de conhecer a produção e a cultura destes povos. “Nossa luta foi dar formalidade a estas iniciativas. Na etapa do manejo padronizar o produto é difícil. O povo da floresta precisar profissionalizar seus produtos. O acesso é muito complicado às áreas de produção. Conseguir retirar essa matéria prima da floresta é um grande desafio. Encontrar preço justo também é outro desafio, assim como encontrar empresas que reconheçam a qualidade dos produtos. Saber aonde se quer chegar é principal para o sucesso do negócio. Claro, que o acesso a linhas de créditos também é fundamental”, disse.

Segundo Paulo César Nunes, da Coopavam, que atua na região Noroeste de Mato Grosso e está sediada no município de Juruena, atuando também nos municípios de Juína, Castanheira, Cotriguaçu, Colniza, Aripuanã, Juara e Brasnorte. Nesta área, superior a 100.000 km2, ela é a única Cooperativa que trabalha com produtos da sociobiodiversidade envolvendo agricultores familiares de assentamentos, aldeões de três Terras Indígenas e atende um público de pelo menos 42 mil crianças de oito Municípios, parte delas, em risco de insegurança alimentar e nutricional.

A cooperativa nasceu em 2008, do interesse de um grupo de agricultores familiares do Assentamento Vale do Amanhecer, Juruena MT, em trabalhar com produtos florestais não-madeireiros. O Vale do Amanhecer é um dos poucos Assentamentos do MT que possui Reserva Legal Comunitária bem conservada e com Licença Ambiental Única aprovada na SEMA-MT, com uma área de 7.200 hectares de floresta amazônica com alto potencial para o extrativismo da castanha do Brasil. Atualmente a Coopavam conta com 67 sócios registrados, sendo que uma parte deles trabalha dentro da unidade industrial e outro grupo trabalha na Reserva Legal do PA Vale do Amanhecer, durante o período da coleta de castanha do Brasil.

Em quase quatro anos de atuação, a Coopavam envolveu um grupo importante de parceiros governamentais, iniciativa privada e da sociedade civil organizada. Parceria com seis etnias indígenas do Mato Grosso. “As atividades são realizadas de acordo com as características da Economia Solidária, envolvendo em torno de 500 famílias de coletores de castanha do Brasil, que após a constituição da Cooperativa deixaram de vender para os atravessadores”.

Beto Mesquita, da BVRio também falou dos desafios para empreender atividades produtivas na Amazônia, para desenvolver bioeconomia primeiro tem a ver com gestão de negócios, como lidar com a floresta, a questão logística é outro desafio, principalmente para as áreas rurais. Por último, o crédito diferenciado. Formação de mão de obra, logística e crédito.

O representante da BVRio relatou que há três anos foi firmada uma parceria com o Governo de Rondônia para o desenvolvimento da Governança Climática para RO. Destacou a parceria com a SEDAM, que tem alcançado frutos positivos. Destacou ainda a Amazônia Ativa, plataforma digital criada para servir como vitrine para produtos e ativos da Amazônia, conjunto de oferta de serviços de gerenciamento e planejamento financeiro e logística para escoar esses produtos possam chegar aos centros consumidores do Brasil e do exterior. Agregando valor à floresta e desta forma lutando contra o desmatamento, para aumentar a renda e da qualidade de vida daqueles que defendem a floresta em pé, através da preservação de sua biodiversidade.

Finalizaram destacando a importância da plataforma. Amazônia Ativa como uma vitrine que conecta os produtos da Amazônia com o mundo. Oportunidade de mostrar os produtos com mais abrangência e que a parceria pode ir mais além, como desenvolver a criação de novas embalagens, aperfeiçoamento da curadoria de apresentação dos produtos e mostra como estes empreendimentos são realizados.

(Assessoria de Comunicação Social da FIERO)

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