O histórico pomerano de nossa Urbe Obediana certamente configura um obstáculo colossal para discutir a cultura negra no município. Todavia, não se pode dizer que a cultura pomerana atropela a cultura negra, pois seria equivocado pensar ou dizer isto. As duas culturas são ignoradas pelas autoridades municipais e pelas próprias pessoas que compõem essas comunidades. Hoje, por exemplo, é o Dia Nacional da Consciência Negra. Qual a programação do município?? Nenhuma!! Esses fenômenos deixam claro que a cultura está muito longe de ser uma prioridade na cabecinha de muitos conterrâneos de Obedis…
A situação, entretanto, não pode ser colocada na conta do atual presidente da FUNCAL, porque talvez ele não tenha um mês no cargo. A questão é mesmo histórica. A única vez que recebi um convite para um “evento de cultura negra”, por parte da FUNCAL, o convite chegou pelo uatízápi, às 23 horas; e o seminário seria no dia seguinte, pela manhã. Claro que entendi a razão e, justamente por ter entendido, ignorei o convite. Tratava-se apenas de uma reunião com meia dúzia de pessoas, com a finalidade de oficializar seus nomes para o encontro nacional da cultura negra que aconteceria em Brasília. No evento nacional, as mesmas pessoas que “organizaram” o seminário local estavam todas pomposas. Como eu fazia parte da lista de professores convidados para ir a Brasília, constatei que era exatamente como eu imaginara. Então, a FUNCAL nunca promoveu a cultura negra; a autarquia cuidava apenas de alguns gatos pingados que nunca militaram, de verdade, no Movimento Negro. Obviamente que algumas pessoas farão beicinho, porque elas nunca aceitam serem questionadas. Mas eu pergunto: qual a estrutura para promover a cultura negra que existe na FUNCAL? Absolutamente nenhuma!!!
Algumas pessoas menos informadas acreditam que promover a cultura negra é fazer um desfile para “eleger” a negra “mais bonita” da cidade. Que coisa ridícula!!! Quem falou que isso é promover a cultura negra? Isso deve ser “cultura” para as pessoas sem nenhuma formação. Vale lembrar, para fazer justiça, que a UNESC já realizou belíssimos eventos sobre a cultura negra em Cacoal. Este ano, certamente em função da crise sanitária, as atividades da UNESC serão em canais eletrônicos, mas é necessário que se registre a promoção da temática pela instituição. Se depender da FUNCAL, as únicas marcas da cultura negra na cidade serão algumas ruas com nomes de pessoas muito ilustres do movimento negro, mas completamente desconhecidas pelas autoridades municipais. José do Patrocínio e Machado de Assis são apenas alguns dos principais nomes da cultura negra que possuem os nomes em ruas da cidade. A participação deles foi determinante na História do Brasil.
A cultura negra não é a única vítima do descaso do município, no campo cultural. Basta parar e perguntar: onde fica o Museu Pomerano de Cacoal? Não tem! Muito estranho isso, numa cidade em que a imensa maioria da população é descendente de pomeranos. A ausência do museu pomerano é tão grave que muitas pessoas da cidade falam que são alemães. É lógico que pomeranos possuem relação étnica com a Alemanha, mas a cultura pomerana precisa ser assumida pelos pomeranos de Cacoal. A Funcal precisa acordar para essas situações; ou ficará, para sempre acorrentada nos grilhões da desinformação e do descaso… Tenho dito!!!
Francisco Xavier Gomes – Professor da Rede Estadual e Articulista
