A influência dessa polarização na sociedade brasileira tem causado um estrago incomensurável na cabeça de muitos brasileiros e na cultura do país. Claro que nossa antiga Nova Cassilândia não pode ficar de fora; e todos os segmentos da sociedade cacoalense são envolvidos na situação, assim como todas as instituições, como é o caso da briosa Polícia Militar de Rondônia. Logicamente que a intenção desse arrazoado não é macular a imagem da Polícia Militar, mesmo porque não existe razão para isso. Entretanto, o episódio ocorrido no último dia 07 de março precisa ser objeto de uma breve reflexão, para que não caia no esgoto do rio Pirarara, sem que façamos uma análise, porque a Nossa Amada Cacoal não merece pagar micos como este…
Inicialmente, vale registrar que temos em Rondônia uma das melhores polícias militares do país e isto acontece, porque os membros da corporação são estudiosos, equilibrados, inteligentes e honestos, embora tenhamos algumas exceções que lamentavelmente não contribuem para a excelente imagem da PM/RO manter, integralmente, o conceito que a sociedade rondoniense concebeu neste estado, que hoje tem no cargo de governador um coronel da PM. Aliás, é bom que o leitor saiba que o governador está entre os exemplos de policiais militares que não merecem elogios, pela insuficiência de atos que justifiquem alguém enaltecê-lo até este momento. Além dele, o sargento que atendeu ao telefonema referente ao episódio epigrafado e o cabo que fazia parte da guarnição precisam aprender muito, para lidar com pessoas livres e de boa formação técnica e política. É necessário destacar que no episódio ocorrido em Cacoal chegaram inicialmente dois policiais militares, um cabo e um sargento; e o sargento resolveu chamar mais 15 policiais que, segundo ele, seriam para “reforçar” a guarnição.
O fato propriamente dito aconteceu, quando cerca de 13 pessoas estavam reunidas na varanda de uma casa no Jardim Eldorado. A ideia era tocar violão, ouvir a boa música e assar um pedaço de carne, para não tornar o dia tão melancólico, visto que no dia seguinte seria o Dia Internacional das Mulheres. Faziam parte do grupo cinco professores, três advogados, duas advogadas, um empresário e dois policiais. Até o momento não se pode saber com precisão a razão pela qual uma viatura da PM parou na frente e o sargento chamou o proprietário da casa. Duas ou três pessoas, entre as que estavam ali, resolveram ir ao portão saber do que se tratava. O sargento informou que um vizinho estava muito incomodado com o barulho do violão e que a “Lei do Silêncio” e o “toque de recolher” deveriam ser aplicados. Importante registrar que eram aproximadamente 19 horas; o sol havia acabado de se por; o violão não estava conectado a nenhuma caixa de som; as músicas executadas eram canções de Djavan, Tim Maia, Tom Jobim, Roupa Nova, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gal Costa, Adriana Calcanhoto… Vê-se que eram canções naturalmente suaves e apenas duas ou três pessoas faziam as vozes. Não era um baile funk…
Um vizinho decente e de bom gosto musical certamente teria ido até o local e pedido para parar a música, se efetivamente estivesse incomodado. Como o grupo era constituído de pessoas absolutamente polidas, dificilmente alguém tentaria brigar. Entretanto, o obtuso vizinho resolveu incomodar a valorosa Polícia Militar de Rondônia e fez uma confusão que culminou com a chegada ao local de quatro viaturas e quase 20 policiais. Para fazer a devida justiça, apenas dois policiais falaram com o grupo, como diria o apologista do AI-5: um sargento e um cabo. Todos os demais policiais da guarnição ficaram serenos, parados no meio da rua e não agrediram nenhuma pessoa. Isto precisa ser registrado, para não parecer que a PM de Cacoal é truculenta. Não é mesmo!! E os dois ou três policiais que apontavam as escopetas para o grupo também não fizeram nenhum disparo. Possivelmente, o que motivou a retirada daquele “pelotão” de policiais foi o fato de eles terem percebido que não havia razão nenhuma para terem se deslocado até o local. Alguns ficaram visivelmente constrangidos.
Mas o constrangimento da maioria do grupamento não afetou o cabo. Ele declarou que iria levar preso o violão. Justamente o violão!!! Aquele ser inocente e cujo crime teria sido produzir alguns belos acordes que despertaram a cólera do obtuso vizinho, no fim de tarde. O vizinho, o grande néscio do episódio, não apareceu sequer um momento e deve estar rindo até hoje dos policiais. Um fato muito curioso é que o comando do Batalhão da PM de Cacoal deslocou 18 policiais fortemente armados, inclusive com escopetas, para prender um inocente violão; porém, no dia seguinte, o mesmo comando enviou apenas quatro policiais, para fazerem a segurança em um jogo importantíssimo da União Cacoalense, no estádio local. Sinceramente não dá para entender a lógica desse aparato estatal; e certamente nem mesmo os dois filósofos da honestidade conseguiriam entender. Todavia, enquanto o sargento e o cabo procuram, no ordenamento jurídico brasileiro, um dispositivo para prender violões inocentes, ficamos por aqui, ouvindo a canção “POLÍCIA”, da banda Titãs, e aplaudindo a PM de Rondônia, porque não pode ser julgada pela ação pueril de um sargento e um cabo… Tenho dito!!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Articulista