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quarta-feira, dezembro 18, 2024

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Ceará pode se tornar grande produtor de trigo com a transposição do São Francisco

A expectativa é que as águas do Rio São Francisco garantam boa distribuição e disponibilidade hídrica, permitindo crescimento da produção do grão no Estado

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Foto: Honório Barbosa – Trigo começou a ser produzido em 2019 pelo empresário Alexandre Sales

Apesar de recente no Ceará, a cultura do trigo tem potencial para elevar o Estado ao patamar de grande produtor do grão. A prospecção considera o sucesso do plantio e colheita na região do Apodi desde 2019 (com boa produtividade e ciclos rápidos) e a expectativa de abastecimento hídrico a partir da transposição das águas do Rio São Francisco, liberadas para o Açude Castanhão em 1º de março.

A avaliação é do empresário Alexandre Sales, responsável por iniciar a produção de trigo no Estado há dois anos em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Ele reforça, porém, que ainda há uma forte dependência de irrigação no Estado. “Acredito que quando tivermos um abastecimento equilibrado e constante na ligação do São Francisco, poderemos pensar em grandes volumes”.

Os primeiros experimentos foram em Tianguá e em Limoeiro do Norte, com plantio e colheita manual. “Depois, no primeiro semestre do ano passado, fizemos experimentos maiores com áreas de cinco hectares. Foi um plantio já mecanizado, com plantadeiras e colheitadeiras”, lembra Alexandre.

“O resultado foi surpreendente. Não só pela produtividade, de 5,3 toneladas com uma semente chamada BR264, mas pela velocidade do ciclo, de apenas 75 dias.” ALEXANDRE SALES – empresário.

A produtividade do grão na empreitada de Alexandre Sales chegou a ser maior, de 6 toneladas por hectare, porém em um ciclo de 90 dias e com a semente BR400.

“Para compararmos, se olharmos para o Sul, geralmente um ciclo leva em média 150 dias e a produtividade entre 2,6 toneladas e 2,8 toneladas. Nosso resultado foi muito bacana!”, comemora.

A região Sul concentra os principais produtores de trigo do Brasil, com Rio Grande do Sul e Paraná. De 6,2 milhões de toneladas de trigo produzidos pelo País em 2020, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a região Sul foi responsável por 5,3 milhões de toneladas.

PESQUISA E TECNOLOGIA

O presidente da Câmara Setorial do Agronegócio no Ceará, Alexandre Fontelles, avalia que o Estado possui um forte potencial na produção de alimentos, considerando fatores a exemplo da transposição das águas do São Francisco e do uso da tecnologia no campo.

Ele pondera, entretanto, que é necessário maior suporte do poder público. “O Ceará, investindo em pesquisa e em assistência técnica, com acesso mais prático e rápido aos recursos financeiros bancários, tem tudo para crescer na produção de alimentos, incluindo o trigo”, diz.

Ele também defende que, para o fortalecimento da produção, é necessário dar segurança aos investidores, com regulamentação de leis que tratam da atividade.

“Cito como exemplo a aprovação da lei que proíbe a pulverização aérea, no lugar da sua regulamentação”, avalia Alexandre Fontelles. “O trigo tem um potencial de crescimento grande, mas só poderá avançar em larga escala com grandes investimentos. E, para isso, é preciso previsibilidade”.

NOVO CICLO

Diante das experiências positivas e que mostram o potencial da produção do grão no Estado, Alexandre Sales revela que já foi iniciado recentemente mais um experimento na região de Apodi.

“Estamos agora experimentando em uma fazenda sem ser irrigada, à base de sequeiro. Estamos plantando 30 hectares e o resultado vai depender muito do volume de chuvas”, explica.

Ele detalha que, após consolidado o projeto e a viabilidade financeira do plantio, devem ser definidos os próximos passos para o trigo no Ceará. “Aí a gente vai definir quais são os rumos e quais projetos a gente vai desenvolver”, diz Sales.

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Além da região do Apodi, este ano o plantio está sendo expandido para Piauí e Maranhão. “Nós já fizemos experimentos lá e estão indo bem. Agora, vamos passar para áreas bem maiores”.

O trigo que é produzido atualmente na região do Apodi é utilizado no moinho, que possui capacidade para moer três mil toneladas por mês, e indústrias de Alexandre.

“Usamos todo ele no nosso consumo. Com a indústria de massas, temos o moinho de trigo, e agora também temos a indústria de biscoitos e de casquinha de sorvete”.

MOINHOS

Sobre a possibilidade de expandir o uso do trigo para outros moinhos, Alexandre Sales acredita que por enquanto “é difícil”. “Como o nosso consumo é relevante, precisaríamos ter uma área gigantesca para atender aos demais moinhos”.

O trigo consumido atualmente pelos grandes moinhos no Ceará vem, sobretudo, de fora do País, com destaque para o produto oriundo da Rússia e Argentina.

O produto está entre os principais da pauta importadora cearense, com participação de 8,7% nas compras feitas pelo Ceará de janeiro a março deste ano, conforme dados do Ministério da Economia. No primeiro trimestre, as importações cearenses do grão somaram US$ 65,3 milhões.

(DIÁRIO DO NORDESTE)

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