(Artigo de opinião de Yohei Sasakawa – Embaixador da Boa Vontade da OMS para a Eliminação da Hanseníase)
O último domingo de janeiro é o Dia Mundial da Hanseníase. Desde 2006, emiti um Apelo Global anual pedindo o fim do estigma e da discriminação contra as pessoas afetadas pela hanseníase, endossado por um conjunto de diferentes indivíduos e organizações a cada ano. Durante a pandemia de covid-19, acredito que este apelo para eliminar o estigma e a discriminação é mais importante do que nunca.
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. Afeta principalmente a pele e os nervos periféricos e é considerada uma das doenças mais antigas da história da humanidade. A cada ano, cerca de 200.000 novos casos são relatados globalmente.
Hoje existe um tratamento eficaz na forma de poliquimioterapia (PQT) e, com detecção e tratamento precoces, a doença pode ser curada sem complicações. Mas, se o tratamento for tardio, a doença pode causar comprometimento progressivo e levar à incapacidade permanente.
Hoje, estima-se que 3 a 4 milhões de pessoas vivem com algum tipo de deficiência devido à hanseníase. Isso, somado com medos e percepções errôneas arraigados sobre a doença, têm submetido as pessoas afetadas pela hanseníase e até mesmo seus familiares, a uma severa discriminação, que continua até hoje.
Desde que me tornei Embaixador da Boa Vontade da OMS para a Eliminação da Hanseníase em 2001, visitei cerca de 120 países para ver com meus próprios olhos a situação, incluindo o Brasil.
Essas missões no exterior me levaram a pensar na hanseníase em termos de uma motocicleta: a roda dianteira simboliza a cura da doença e a roda traseira representa a eliminação da discriminação. A menos que ambas as rodas estejam girando juntas, não alcançaremos nosso objetivo final: zero hanseníase.
No que diz respeito à roda dianteira, os esforços de enfrentamento à doença, incluindo a detecção de novos casos, foram gravemente interrompidos pela disseminação do novo coronavírus e pelos esforços para impedir a transmissão. Em 2020, o número de novos casos relatados caiu cerca de 37%, com o Brasil experimentando uma queda de cerca de 35%, segundo a OMS, em grande parte devido ao impacto do Covid-19.
Em relação à roda traseira, trabalhei duro para que a hanseníase fosse reconhecida internacionalmente como uma questão de direitos humanos desde o início dos anos 2000, quando entrei em contato com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Um dos resultados foi a adoção em 2010, pela Assembleia Geral da ONU, de uma resolução sobre a eliminação da discriminação contra as pessoas afetadas pela hanseníase e seus familiares.
Mas a medida real do sucesso será quando os princípios e diretrizes que acompanham a resolução forem totalmente implementados. Por causa da pandemia, no entanto, os esforços de conscientização em muitas áreas pararam e algumas pessoas afetadas pela hanseníase e suas famílias acham que a covid-19 está exacerbando a discriminação que já sofrem por causa da hanseníase.
Por isso, em agosto passado, lancei uma campanha chamada “Não esqueça da hanseníase”/ “Don’t forget leprosy” para garantir que a hanseníase e os acometidos pela doença não sejam ignorados, mesmo em meio à pandemia, e para ressaltar a importância da detecção e tratamento precoces, bem como a necessidade de eliminar o estigma e a discriminação.
O termo ‘não se esqueça’ abrange muitas coisas: que a hanseníase ainda existe; que as pessoas afetadas pela hanseníase e suas famílias ainda enfrentam estigma e discriminação; e que existem profissionais de saúde dando o melhor de si em circunstâncias difíceis para fornecer os serviços necessários.
Minha esperança é que pessoas de todo o mundo participem desta campanha e falem de sua própria perspectiva sobre por que a hanseníase não deve ser esquecida. Vozes individuais levam apenas até certo ponto, mas juntas podem ser ouvidas em todos os lugares.
“O último meio século nos aproximou de um mundo sem a doença, mas nosso trabalho ainda não terminou”
O último meio século nos aproximou de um mundo sem hanseníase, mas nosso trabalho ainda não terminou. Para continuar a progredir, precisamos que pessoas de todo o mundo se envolvam na campanha “Não esqueça da hanseníase” e falem de sua própria perspectiva sobre por que não podemos negligenciar a hanseníase e as pessoas afetadas pela doença.
Como indivíduos, nossas vozes só vão até certo ponto, mas juntos podemos nos fazer ouvir em todos os lugares. Espero sinceramente que você adicione sua voz a esse esforço.
Yohei Sasakawa
Embaixador da Boa Vontade da OMS para a Eliminação da Hanseníase. Embaixador da Boa Vontade do Governo Japonês para os Direitos Humanos das Pessoas Afetadas pela Hanseníase. Presidente da Fundação Nippon. Contatos no Brasil – assessoria de comunicação do Morhan. Nanda Duarte (11 99979-9650) e Fernanda Guedes (55 984345972)