Aos 71 anos, Carolinda Silva, que trabalha desde os 13, planeja agora cursar uma universidade
Natural de Alto Longá (PI), a 80 km da capital, Teresina, dona Calu, como é conhecida, nunca frequentou uma sala de aula durante a vida. Ela lembra que, ainda muito pequena, aos oito anos, se viu obrigada a ajudar os pais cuidando dos irmãos e das tarefas da casa, o que dificultou sua ida à escola. “Naquela época era muito difícil. A gente era muito pobre e não tinha escola na região”, conta.
Carolinda trabalhou desde os 13 anos como costureira, ofício que exerce até hoje, e só conheceu a “cidade grande” aos 20 anos, onde se casou com Etevaldo da Silva, hoje com 70 anos, pouco depois que se transferiu para a capital piauiense. Recorda ainda que frequentemente recebe parentes e amigos em sua casa e sempre aconselha os mais jovens a estudar, “ser alguém na vida”. “Vontade de estudar nunca me faltou, mas sempre dei preferência aos meus filhos. Não tinha como estudar e cuidar da casa ao mesmo tempo. Além disso, material de estudo é caro, né?”.
Carolina é assistida pelo Projeto de Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos (Proaja), no qual foi inserida pela própria filha, Maria de Deus, 41 anos, que trabalha no programa. Lançado pelo governo do Piauí em meados de 2021, o projeto pretende alfabetizar 200 mil jovens e adultos até o fim deste ano. A turma da aposentada é composta por 20 alunos, e as aulas ocorrem três vezes por semana.
“Tem gente que eu conheço que nunca se interessou em estudar, mas agora está mudando de ideia”, diz, revelando que adotou a “mania” de, todos os dias, convidar vizinhos para assistirem às aulas.
Maria de Deus diz que o projeto é gratificante e que sua mãe sempre foi muito esforçada e disposta a aprender coisas novas. A história de dona Calu ganhou o noticiário de seu estado, onde, nos últimos dias, passou a ser assediada por vários veículos de comunicação.