Da noite para o dia, no início de 2020, a palavra “pandemia” se tornou parte do nosso cotidiano. Muitas pessoas nem conheciam este termo. Após dois anos de Covid-19 no mundo, hoje chegamos a um ponto no qual começa-se a discutir, em todo o planeta, uma nova categorização da pandemia para endemia. Vale, então, sabermos o que cada definição dessas, epidemia, pandemia e endemia, significa.
Uma epidemia é caracterizada pelo aumento de casos de uma doença específica em determinados locais geográficos ou comunidades, e que vão se espalhando para outras localidades além daquela em que foram identificados inicialmente. Um exemplo histórico e assustador de epidemia foi a rápida disseminação do ebola, na África, em 2013 – embora haja diversos casos de doenças com letalidade bem mais baixa que também foram, em algum momento, uma epidemia, como a do H1N1, que ocorreu no Brasil em 2009.
Muitos fatores podem causar o surgimento de epidemias, como hábitos de higiene precários, hábitos alimentares pouco saudáveis, falta de saneamento básico, poluição, estresse e mutações genéticas.
Como uma epidemia se transforma em uma pandemia?
Quando a epidemia extrapola fronteiras geográficas rapidamente, atingindo pessoas que não possuem imunidade a ela e se disseminando sem controle. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, três pontos são considerados essenciais para se classificar uma pandemia:
1) o aparecimento de uma nova doença;
2) uma infecção em humanos que ainda não têm resistência imunológica à doença;
3) a disseminação rápida e descontrolada. Resumindo, uma enfermidade se torna pandêmica quando atinge diversos países ou continentes, afetando assim muitas pessoas. No caso da SARS-CoV-2, os primeiros casos registrados surgiram no fim de 2019 na cidade de Wuhan, na China. Em março de 2020, o vírus já havia se disseminado globalmente, levando a OMS a declarar a pandemia. Um outro exemplo bem conhecido de situação pandêmica é a gripe espanhola, que se disseminou globalmente principalmente devido à movimentação de tropas durante a 1ª Guerra Mundial, afetando o mundo todo em 1918 e matando entre 30 e 50 milhões de pessoas.
Porém, a grande dúvida que paira sobre a comunidade médica global, hoje, é: chegamos ao momento de recategorizar a Covid-19 de pandemia para endemia?
Uma endemia existe quando uma doença recorrente permanece criando novos casos em uma determinada região, mas sem um aumento significativo no número total de ocorrências e com controle, por parte da saúde pública, da situação. A dengue, por exemplo, é um caso atual de endemia no Brasil.
Dizer, portanto, que uma doença tornou-se endêmica tem relação direta com o controle no número de casos, que deve permanecer em um nível pré-determinado (e que varia de doença para doença), redução de óbitos e uma alta taxa de imunização da população no caso de enfermidades causadas por vírus. Já existe uma discussão sobre se a Covid-19 se tornará uma endemia, mas, para que isso aconteça, é necessário que muitas pessoas estejam protegidas contra o vírus, e o melhor caminho para isso é a vacinação.
Infelizmente, a vacinação em massa ainda não é a realidade de todos os países que sofrem com a Covid-19. Somente o aumento nos níveis vacinais, principalmente no continente africano e em regiões da Ásia, cessará a propagação do vírus e o surgimento de novas variantes, o que, consequentemente, reduzirá os números de hospitalizados e mortos.
Desta forma, cada país terá o seu tempo para se livrar da Covid-19, e somente aí o mundo sairá da situação pandêmica, passando gradativamente para um cenário de endemia. Pois já sabemos que o vírus, assim como o causador da gripe espanhola, o H1N1, não irá sumir. Mas se continuarmos com cuidados contra a disseminação, algumas restrições sociais e imunização de cada vez mais pessoas, chegaremos a um momento no qual a Covid-19 se tornará uma endemia. Conviveremos com a doença ainda por muito tempo, mas já temos vacinas e tratamentos, o que reduz significativamente sua potência letal.
Ainda é cedo para afirmar, com certeza, que veremos o coronavírus tornar-se endêmico. Mas nós, profissionais da saúde, acreditamos que essa mudança é o resultado de um esforço coletivo que ainda está longe de terminar.
* Sandra Gomes de Barros é infectologista e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa