Por FRANCISCO XAVIER GOMES
O eleitor rondoniense tem alguns hábitos que não diferem muito daquilo que se verifica em outros estados, mas temos algumas particularidades que realmente refletem a distância das informações corretas acerca dos mandatos eletivos, especialmente a bancada que compõe o Congresso Nacional e deveria representar o estado de Rondônia. As contradições são igualmente visíveis, em relação à Assembleia Legislativa do Estado. É evidente que São Paulo e Rio de Janeiro são, disparados, os estados em que o eleitor tem uma predileção doentia por excrementos eleitorais e nem convém apresentar a lista, por questões de economia de espaço. O problema é que Rondônia caminha perigosamente para superar os citados estados do Sudeste, embora muitos rondonienses façam ufânicos discursos em nome da “renovação”. Todavia, a coisa que meus conterrâneos mais gostam de renovar é a paixão avassaladora que objetiva manter no poder políticos jurássicos, viciados e completamente nocivos aos anseios sociais do estado. Em nome dessa paixão, muitos rondonienses adotaram uma estratégica claramente estúpida contra diversas pessoas que pretendem disputar os cargos em discussão nas eleições deste ano. E claro que Nossa Urbe Obediana não poderia ficar de fora…
O esquema de obtusidade funciona mais ou menos assim: sempre que aparece uma pessoa dizendo ser pré-candidata a algum cargo, a turma da tiflose reage com o discurso de que a pessoa não possui experiência na política, nunca teve mandato, nunca teve mandato diferente de vereador, ou que está no mandato de vereador pela primeira vez. Esses discursos têm a clara pretensão de rejeitar a renovação que muitas vezes é decantada, em prosa e verso, pelos mesmos eleitores jurássicos que não aceitam os neófitos candidatos. Algumas dessas pessoas, inclusive, possuem cônjuges, ou outros apaniguados nomeados em cargos da Assembleia Legislativa de Rondônia, Câmara Federal e outras sinecuras. Eis a razão pela qual refutam os neófitos. Com novas candidaturas, os políticos surrados perdem espaço e seus asseclas não aceitam esse tipo de coisa. Outro argumento absolutamente fajuto é o de que apenas pessoas ricas devem ser candidatos. Para muitos eleitores, o principal critério para eles aprovarem uma candidatura é que o candidato seja rico. Eles dizem que, sendo rico, o indivíduo “não precisa roubar”. Não existe argumento mais estúpido!!! Basta parar e pensar: quantos pobres participaram dos maiores escândalos de corrupção do Brasil, desde 1889? Absolutamente nenhum, a não ser asseclas usados como bodes expiatórios de picaretas. O fato de alguém ser pobre ou rico não implica dizer que é ladrão. Esse tipo de raciocínio é absurdo. Milton Ribeiro, para citar apenas um exemplo, não montou o esquema de corrupção no MEC porque é rico; ele o fez porque é um picareta…
Na mesma toada, a turma da tiflose faz questão de rasgar elogios, quando aparece um pré-candidato que tem fama de ser rico, tenha amigos ricos ou seja parente de político. Esses são idolatrados e não importa se são neófitos. Sendo ricos, são ídolos! Os comentários são sempre na seguinte linha: “fulano é um grande administrador”; “sicrano pode ser um bom senador, porque tem muitos bois”; “fulano é dono de uma rede de lojas, ou de uma grande frota de ônibus, portanto pode ser excelente deputado”. Os melhores senadores do Brasil e os melhores deputados federais nunca foram ricos. Os congressistas mais ricos nunca apresentaram nenhum projeto que tenha mudado a vida da camada mais pobre da população. O máximo que fazem é defender suas próprias empresas e seus ´parentes. Todas as reformas relacionadas com o trabalhador e que causam apenas prejuízos aos trabalhadores são lideradas pelos congressistas mais ricos. Não dá para entender essa Síndrome de Estocolmo de muitos brasileiros (milhares de rondonienses inclusos). A grande problemática reside no fato de que esses eleitores que vivem de contradições recusam completamente a ideia de estudar. E tem mais: as pessoas que gostam muito de estudar são agredidas pelos eleitores que se formaram nas redes sociais. A inversão de valores é absurda!!! Na cabeça de muita gente, o que tem que mudar é o STF; não os políticos. Muitos eleitores que adoram endeusar políticos picaretas fazem discursos emocionantes contra o STF. Não dá para entender como alguém se diz patriota e prega o ódio contra as instituições da nação. É óbvio que o Poder Judiciário tem defeitos; mas pregar o fechamento desta importante instituição é uma ideia absolutamente burra!! Renovar as instituições é uma ideia salutar, mas não é bem aceita pelas pessoas que se formaram no feicibuque, tique-toque, uatizápi, iutube…
Então, este ano, diversos pré-candidatos apresentam seus nomes, dizendo que pretendem entrar na Assembleia Legislativa, Senado Federal ou Câmara dos Deputados. Os que fazem isso e são ricos, não enfrentam nenhuma restrição; os que fazem isso e são pobres, são duramente rejeitados, sob os discursos de: “Você não acha que é melhor começar como vereador”? “Por que você não apoia fulano, que tem mais chance (é rico), e depois tentar ser candidato a vereador”? Será que você tem 15 mil votos”? E outras teses claramente preconceituosas. As pessoas têm direito de serem candidatas. Isso é tão básico!! Agora, os eleitores que não votam nessas pessoas não têm o direito de fazer esses discursos. Não há problema no fato de um eleitor idolatrar candidatos ricos; não há problema em votar em candidatos ricos; não há problema em dizer que tem amigos ricos; mas querer tirar das pessoas o direito legítimo de participar da disputa é uma conduta, no mínimo, incoerente. Condenar os neófitos é uma doença complicada e condenar neófitos, apenas porque não são ricos, é tirar do estado e do país a chance de renovar de verdade… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista