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quarta-feira, dezembro 18, 2024

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Iara, de Benjamin Sanches (1915 -1978)

Surgiu do leito do rio sem margens
Cantando a serenata do silêncio,
Do mar de desejos que a pele esconde,
Trazia sal no corpo inviolável.

Banhando-se no sol da estranha tarde
Cabelo aos pés mulher completamente,
Tatuou nas retinas dos meus olhos,
A forma perfeita da tez morena.

Com a lâmina dos raios penetrantes,
Arando fortemente as minhas carnes,
Espalhou sementes de dor e espanto.

Deixando-me abraçado à sua sombra,
Desceu no hálito da boca da argila
E, ali, adormeceu profundamente.

 

Benjamin Sanches foi um contista e poeta amazonense que fez parte do Clube da Madrugada, uma associação artística e literária dos anos 50. Em Iara, evoca a lenda de origem indígena com o mesmo nome, também conhecida como lenda da Mãe d’água.

Trata-se de uma criatura aquática, semelhante a uma sereia, que aparenta ser a mais bela mulher. No poema, o sujeito lírico recorda o momento em que foi agraciado com a visão da Iara nas águas do rio.

A imagem, parte das crenças regionais com as quais cresceu, ficou gravada na sua memória. Segundo o folclore, era comum que os homem que vissem a Iara ficassem encantados por ela, acabando no fundo do rio.

Mesmo tendo sobrevivido para contar a história, o sujeito permaneceu sob o efeito da entidade, “abraçado à sua sombra”.

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