Por Lúcio Albuquerque, repórter, membro da Academia de Letras de Rondônia
Sobrinho do líder da criação do Território na fronteira. Paulo Saldanha garante: fraude na eleição de 1946 (F. Newsrondonia.com)
Presidente Getúlio Vargas veio a Porto Velho em 1940 e mudou a proposta inicial do Território. (F. Esron Menezes/Lúcio Albuquerque
Vou retornar a um fato político nessa proposta de contar “um pouco” da nossa história política. A narrativa envolve várias partes, a primeira remonta à criação do território Federal do Guaporé, passa pela primeira eleição de deputado federal do Território, em 1946, quando só era eleito um deputado, até à cassação, em 1964, do deputado federal Renato Medeiros.
Ouvi, de alguns atores, lamentavelmente já falecidos, versões distintas sobre as razões de não ter sido o coronel Aluízio Ferreira, primeiro governador do Território (1944/46) o candidato único, e do coronel Paulo da Cruz Saldanha ter-se lançado à disputa.
Líder inconteste da região dos rios Guaporé e Mamoré, com muitos e bons serviços prestados àquela faixa da fronteira brasileira, Paulo da Cruz Saldanha em 1937 encabeçou um documento ao presidente Getúlio Vargas para criar um Território Federal, com capital em Guajará-Mirim, abrangendo da cidade de Santo Antônio até Vila Bela da Santíssima Trindade, tudo região do Estado de Mato Grosso.
Em 1940 o presidente Vargas vem a Porto Velho para visita de 3 horas e fica quase 3 dias, quando foi alvo de muitas homenagens, bailes, etc, e em 1943 decreta a criação de um Território na região, estendendo sua área ao município amazonense de Porto Velho, por pedido de Aluízio Ferreira (*), o que irritou as lideranças da fronteira.
Na eleição a deputado federal em 1946, ainda assim, Aluízio seria candidato único, até porque não havia outra liderança capaz de contrapor, conforme o jornalista Euro Tourinho. Esron e Abnael Lima, historiador, contavam o mesmo fato. Mas houve problemas, lembravam Euro, então com 24 anos e Abnael, este narrando como ouvira de seu pai, com 14.
Em 1946 o político paulista Ademar de Barros veio em campanha e numa reunião Ademar precisou assinar um documento, mandando que um morador local virasse de costas, colocou o papel em cima e assinou, o que provocou críticas de algumas lideranças.
Mesmo assim Aluízio em 1946 era candidato único. Confirmado como pré-candidato, Aluízio teria ido para o Rio de Janeiro esperar apenas o dia da sua posse, certo de que estava eleito, nem campanha precisava fazer.
Os três fatos: o fato de Aluízio ter conseguido que o Território não fosse criado como os comerciantes de Guajará requereram; a “indelicadeza” de Ademar e Aluízio ir embora alegando já estar eleito, acabaram fazendo com que o coronel Paulo da Cruz Saldanha fosse lançado candidato, além das turbulências então existentes entre Aluízio e o governador indicado por ele, Joaquim Vicente Rondon.
Abertas as urnas, Aluízio foi eleito, mas, principalmente em Guajará-Mirim, o sentimento é de que aconteceu na contagem o primeiro caso de fraude – o que o escritor Paulo Cordeiro Saldanha, descreve em seu livro “O Alferes e o Coronel”.
Sim ou não, a partir de então o Território passou a ter dois lados políticos, o que gerou sdeis anos depois dois grupos, um chefiado por Aluízio, grupo depois chamado “cutuba” e outro, liderado por Joaquim Rondon, chamado “pele curta”.
Aluízio derrota Rondon na eleição de 1950, perde de Rondon em 1954, vence em 1958 e em 1962 um indicado seu perde do “pele curta” Renato Medeiros, seu ex-aliado mas, conforme se comentava, em 1964 através de suas amizades militares, Aluízio teria se vingado, ao conseguir a inclusão do desafeto na lista de cassação.
Em 1967, quando o AI-2 acabou com o pluripartidarismo, ficando dois partidos, a Arena, governista, e o MDB, um conglomerado de oposições.
(*) Historiador Esron Menezes, presente aos encontros de Aluízio com Vargas.