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Coluna PAPUDISKINA – Protesto era contra Bolsonaro, mas o organizador foi mais criticado que o próprio alvo

Papuzzzz

Assim como em outras cidades do Brasil, um grupo pequeno de manifestante também se mobilizou em Cacoal para gritar “fora Bolsonaro”.

Causou espanto e gerou manifestações acaloradas nas redes sociais o fato de o principal orador nessas manifestações ser um reconhecido e próspero empresário e proprietário de terra. Foi ainda mais espantoso que, em frente ao orador, havia uma faixa bem destacada da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), organização que defende invasões de terras.

Os críticos desse empresário e proprietário de terra alegavam que ele, por discursar em frente à faixa de uma organização que viola o direito à propriedade, de certa forma também valida o que essa organização defende. Recentemente a LCP esteve em evidência na mídia nacional, após ser acusada da morte de dois policiais em Rondônia, coisa que os organizadores negam veementemente.

A organização, muitas vezes acusada de ser violenta, é ela própria alvo de violência e vários de seus líderes foram assassinados ao longo de sua existência. A entidade foi criada após o Massacre de Corumbiara e é considerada uma dissidência do MST.

Logo após a manifestação desse empresário, no sábado, vídeos, áudios e imagens foram divulgadas nas redes sociais defendendo um boicote às suas empresas. Alguns dos que condenaram o protagonismo desse empresário/fazendeiro foram mais além e falaram até em organizar, eles próprios, um grupo de pessoas para invadir suas terras, já que ele, por discursar frente a uma faixa da LCP, não poderia opor-se à invasão de suas próprias terras.

Também chamou a atenção e agudizou os debates o fato de o discurso do empresário/fazendeiro ter ocorrido em frente à Praça da Igreja Matriz. Algumas pessoas chegaram a criticar o pároco da Igreja de ter avalizado o movimento, o que foi desmentido por ele próprio em áudio.

Embora tenha recebido mais críticas do que apoio, o empresário/fazendeiro também foi alvo de solidariedade na própria rede social. Mesmo apoiadores de Bolsonaro defenderam que ele, como cidadão, independente de ser dono de empresas e de terras, tem o direito de se manifestar e defender o seu ponto de vista.

A opinião deste colunista é de que a proposta de boicote contra empresas por conta da ideologia política ou filosófica de seu proprietário é algo que se contrapõe aos valores democráticos. Infelizmente, essa ideia de boicotar e criar embaraços a quem pensa diferente é acampada por gente de todos os espectros ideológicos. Gente de esquerda e de direita defende esse tipo de “punição” aos que se opõem à sua ideologia. Nesse tempo de polarização, está cada vez mais difícil saber quem é mais intolerante. Ao que parece, alguns apoiadores de Lula e alguns apoiadores de Bolsonaro se equivalem. Ambos falam em democracia, mas seu comportamento é antidemocrático com quem se lhes opõe.

No caso dos apoiadores de Lula, eles têm se apegado a narrativas bastante controversas, como essa, em minha opinião covarde e desleal, de atribuir meio milhão de mortes ao presidente, acusando-o de genocídio. Não faz o menor sentido essa acusação, pois o vírus mata igualmente brasileiros, argentinos, norte-americanos, peruanos, chilenos, mexicanos e gente em todos os países do mundo.

A justificativa de que o Bolsonaro é culpado por conta de suas falas desastrosas também não se sustenta. O próprio Lula, em reiteradas ocasiões, disse frases tão infelizes quanto às de Bolsonaro. Os que sustentam a acusação sob o argumento de que no Brasil morreu mais gente do que em outros países da América Latina, também não tem razão, já que o índice de letalidade nesses países é mais ou menos como o do nosso país.

Mesmo que pontualmente haja menos contágios ou mortes em países vizinhos, precisamos ter em conta que o vírus se alastra mais em países mais industrializados e mais desenvolvidos. Logo, o Brasil vai ter uma propagação maior do que países com menos concentração de grandes cidades. Locais onde a população usa menos transporte público, viaja menos de aviões e transita menos entre as cidades vai ter o espalhamento do vírus retardado.

Enfim, as manifestações contra Bolsonaro são legítimas e democráticas, mas as narrativas do genocídio são absurdas e desleais. Não obstante, em um país com tolerância e respeito à liberdade de expressão, até narrativas como essas, sem qualquer fundamento e totalmente absurdas, devem ser toleradas.

As críticas aos que participaram do evento em Cacoal também foram exageradas, pois não houve depredação de patrimônio e os protestos foram pacíficos. A ideia do boicote é tão absurda quanto a narrativa do genocídio. Bolsonaro tem seus defeitos, mas não é o culpado de mortes por coronavírus. O governo federal está vacinando a população em ritmo mais acelerado do que 90% dos demais países do mundo.

(25.06.2021)

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