Desde que o brasileiro Danilo Cavalcante, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos pelo assassinato da ex-namorada, fugiu de presídio, uma grande operação envolvendo centenas de policiais, helicópteros e drones teve início.
Até a manhã desta sexta-feira (6/8), seu paradeiro seguia desconhecido.
O homem de 34 anos fugiu da prisão na manhã de 31 de agosto, escalando paredes separadas por um corredor de 1,5 metro de largura (veja vídeo abaixo).
Sua fuga viralizou nas redes sociais e foi notícia ao redor do mundo.
Uma recompensa de US$ 10 mil (R$ 50 mil) foi inicialmente oferecida por informações que levem à sua captura. Posteriormente, esse valor dobrou, para US$ 20 mil (R$ 100 mil).
Confira abaixo uma linha do tempo desde que Cavalcante escapou da prisão, de acordo com as autoridades, que o descreveram como “extremamente perigoso”.
Quinta-feira – 31 de agosto
Cavalcante escapa da prisão do condado de Chester, na Pensilvânia, às 8h50 (horário local, 9h50 de Brasília) na sexta-feira, dia 31 de agosto.
Ele é visto caminhando na Wawaset Road, na cidade de Pocopson Township, por volta das 9h40 do mesmo dia.
Os investigadores dizem que demorou uma hora para que Cavalcante fosse dado como desaparecido, quando ele não voltou do banho de sol.
Segundo o diretor interino Howard Holland, esta foi a sucessão de acontecimentos:
8h33: Ala de Cavalcante entra no pátio
8h51: Cavalcante escapa da prisão subindo uma parede “como um caranguejo”, atravessa uma cerca de arame farpado, corre pelo telhado e atravessa novamente outra cerca de arame farpado
9h35: Ala de Cavalcante retorna à cela
9h45: Agentes penitenciários responsáveis por ala de Cavalcante notificam controle central sobre desaparecimento dele
9h48: Policiais informam ao controle central que Cavalcante desapareceu. Acreditava-se que ele estava na sala de visitas, mas ele não estava lá.
9h50: A prisão é fechada, e uma contagem de presos é realizada
10h01: A sirene de fuga soa, e o centro 911 (telefone de emergência dos EUA) é notificado
Sábado – 2 de setembro
Cavalcante é flagrado por uma câmera de vigilância por volta de 1h43 (horário local) de sábado, dia 1º de setembro, no quarteirão 1800 da Lenape Road, na cidade de Pocopson.
O local fica a cerca de 2,4 quilômetros da prisão.
Domingo – 3 de setembro
A polícia afirma que Cavalcante foi visto à distância na tarde de domingo por um policial estadual que o perseguiu, mas o perdeu.
E horas antes, o morador Ryan Drummond diz ter visto Cavalcante dentro de sua casa na noite de sexta-feira, por volta das 23h45 (horário local).
A polícia chega ao local, mas o brasileiro escapa de volta para a floresta densa após levar um pouco de comida.
Segunda-feira – 4 de setembro
Por volta das 18h da segunda-feira, dia 4 de setembro, policiais são chamados devido a relatos de que Cavalcante foi visto, mas ele não é encontrado em lugar nenhum.
Poucas horas depois, ele é flagrado por uma câmera de vigilância no jardim botânico Longwood Gardens, uma das principais atrações turísticas da cidade.
O local é evacuado e fechado a visitantes.
Posteriormente, é reaberto.
Quinta-feira – 7 de setembro
Cavalcante é visto novamente perto de Longwood Gardens pouco antes do meio-dia do horário local da quinta-feira, dia 7 de setembro, segundo o tenente-coronel da Polícia Estadual da Pensilvânia, George Bivens, que lidera a busca pelo brasileiro.
Ele foi flagrado por um morador nas proximidades do local.
Por esse motivo, a atração turística volta a ser fechada a visitação.
“Enquanto a busca pelo prisioneiro fugitivo da prisão do condado de Chester continua, nossos jardins estão fechados até novo aviso”, informou a administração do jardim botânico.
‘Aterrorizados e barricados dentro de casa’
Em entrevista a jornalistas nesta quinta-feira, a promotora distrital do condado de Chester, Deb Ryan afirmou que a família de Brandão está aterrorizada e preocupada com sua segurança.
“Eles estão aterrorizados. Não saem de casa e estão barricados, muito preocupados com sua segurança”, disse ela.
Segundo Ryan, uma investigação está em curso para entender como Cavalcante conseguiu fugir da prisão.
Cavalcante também é procurado por assassinato no Brasil ocorrido em Tocantins em 2017.
Ele é réu no caso do homicídio em que Valter Júnior Moreira dos Reis foi morto a tiros em uma praça em Figueirópolis.
O motivo para o crime teria sido uma briga relacionada ao conserto de um carro.
Crime
Autoridades afirmam que Débora Brandão, ex-namorada de Cavalcante, estava fora de casa com os dois filhos no dia 18 de abril de 2021.
Cavalcante se aproximou dela, agarrou-a pelos cabelos, “jogou-a no chão e esfaqueou-a 38 vezes em praticamente todos os órgãos vitais… fazendo-a sangrar até a morte”, disse o gabinete da promotora distrital do condado de Chester em uma postagem no Facebook.
Os filhos de Brandão, de sete e quatro anos na época, correram para pedir ajuda aos vizinhos, e Cavalcante fugiu, acrescentou a promotoria.
A menina de sete anos disse à polícia que quando Cavalcante começou a esfaquear Brandão, disse que iria matá-la, segundo o inquérito policial.
Ele foi preso várias horas depois no estado americano da Virgínia.
As autoridades acreditam que Cavalcante estava tentando fugir para o México com a intenção de seguir mais tarde para o Brasil, disse a promotora distrital Deb Ryan.
A polícia da cidade de Schuylkill foi enviada à casa por volta das 16h17 do dia do assassinato e encontrou Brandão no chão “com múltiplas facadas no peito”, disse o gabinete da promotora.
Uma vizinha tentou realizar primeiros socorros em Brandão enquanto esperavam a chegada dos serviços médicos de emergência, mas ela foi declarada morta em um hospital pouco depois.
Após o esfaqueamento, a filha de Brandão, de sete anos, disse à polícia que Cavalcante apareceu na casa deles e “disse que ia fazer algo ruim na vida deles e tirou duas facas de uma bolsa preta que estava nas costas”.
A filha disse que começou a gritar e Cavalcante jogou uma pedra nela, atingindo sua perna, segundo o inquérito policial.
Após correr até o vizinho em busca de socorro, a menina olhou para fora e viu Cavalcante fugindo em um carro preto.
A irmã de Brandão, Sarah, disse que as duas eram melhores amigas e que, quando soube do assassinato de Débora, seu “mundo acabou”. Ela ficou com a guarda das crianças.
Brandão havia entrado com um mandado de prevenção de abuso contra Cavalcante em dezembro de 2020, segundo o inquérito policial.
A ordem de restrição mostra que ele tinha histórico de agressões a Brandão e já havia apontado uma faca para ela.
“Esta foi uma tragédia sem sentido que impactou inúmeras pessoas devido às ações frias, calculadas e hediondas do réu”, disse o procurador Ryan, que liderou a equipe de acusação contra Cavalcante, no mês passado.
“Os filhos de Brandão ficaram agora órfãos de mãe e ela nunca terá a oportunidade de ver os filhos crescerem, terminarem a escola ou constituírem família própria”, acrescentou ele.
A filha de Brandão testemunhou no caso e “ajudou a obter justiça para sua mãe”, disse o promotor público. A menina também identificou Cavalcante em uma fotografia logo após o assassinato e disse à polícia: “É ele, é o cara que matou minha mãe. Por favor, pegue-o e coloque-o na prisão”, segundo o depoimento.
Em 16 de agosto de 2023, Cavalcante foi condenado por homicídio, segundo o Ministério Público dos EUA, e poucos dias depois, condenado à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.
Os advogados de Cavalcante disseram aos jurados durante o julgamento que ele foi provocado e “agredido” quando atacou Brandão.
Sarah disse que vive com medo desde a fuga de Cavalcante da prisão e teme que ele venha atrás dela.
“Faz muitos dias que não durmo. Desde então, tenho acordado assustada à noite. Cochilo e acordo com medo”, disse ela à CNN.
Apesar disso, ela acredita que a polícia irá capturá-lo. (BBC)