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quinta-feira, dezembro 26, 2024

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REESCREVENDO A HISTÓRIA (II) (de forma errada)

REESCREVENDO A HISTÓRIA (II)
(de forma errada)

Por Lúcio Albuquerque, repórter

 

 

 

 

 

Manoel Rodrigues Ferreira, desmistificou uma nacionalização que não aconteceu

 

Aluízio Ferreira, governador e três vezes deputado federal (F. Recorte da Cãmara Federal)

 

Assisti ao vídeo “História de Porto Velho” umas cinco vezes, não que eu estivesse buscando erros, mas apenas para não cometer injustiças. Inclusive para com a história. Foi na narração que eu soube um absurdo, dentre outros do texto, o ter sido a Bolívia “o país “cabeceador” da construção” (da ferrovia, suponho).
Foi a primeira vez que ouvi tal citação – eu e outros que conhecem bem nossa história.
E vamos em frente. Foi novidade saber que Porto Velho era um “distrito de Humaitá”. Éramos da Comarca de Humaitá. A diferença é abissal!
“Do lado esquerdo da avenida Divisória (atual Presidente Dutra) moravam os brasileiros que cresceram de forma espontânea”. Pelo texto quem cresceu de “forma espontânea” foram os brasileiros. Bom, a sugestão é citar que a cidade foi que “cresceu de forma espontânea”, mas não os “moradores”.
Antes de seguir é bom citar o historiador Francisco Matias, que sempre lembrava que Porto Velho só passara à condição de “cidade” em 1919. Há mais: “Só em 1931 foi que a Bolívia entregou a ferrovia ao Brasil”. É mais uma afirmação errônea: a Bolívia não entregou nada em razão de que a estrada não era dela, disse um importante historiador.
Seguindo (até por quê a sequência vem com dois erros graves, um deles comum quando o nome do capitão Aluízio Ferreira é citado sobre a EFMM). “E o novo administrador do local, Aluízio Ferreira, decidiu nacionalizar a obra e integrar novamente a cidade”.
Inicialmente a questão de “nacionalizar”. Aluízio era a única liderança local à época. Em 1931 o consórcio que explorava a ferrovia (que não tinha como sócio a Bolívia, decidiu ir embora). Sobre o assunto sugiro meu livro “A Cesta página de um repórter”, onde narro fato contado pelos historiadores Esron Menezes e Abnael Machado sobre como Aluízio, personagem a quem Rondônia deve muito, enganou os “gringos”, o que permitiu a intervenção do governo brasileiro.
Primeiro brasileiro nomeado diretor da Madeira-Mamoré, Aluízio passou a ser chamado pelos seus aliados daqui de “nacionalizador da EFMM”. Que poder ele tinha para “nacionalizar” a ferrovia? A EFMM era um bem nacional desde sua implantação. Havia um contrato de concessão, o que não tornava o concessionário seu proprietário.
Manoel Rodrigues Ferreira, cujo livro “Ferrovia do diabo” é tido por muitos como a “bíblia”, quando o assunto seja a Madeira-Mamoré, em 1981 num seminário realizado num galpão da ferrovia, lembrou que “nacionalizar é tornar nacional”. E que o fato de Aluízio ter sido o primeiro diretor-geral não o fez “nacionalizador”.
Houve reclamações, mas quem reclamou não teve argumentos para contrapor.
Sobre o vídeo, ouvi muita gente, e a impressão é que há tantos absurdos que o melhor seria a prefeitura mandar tirar a peça do ar, com um pedido de desculpas. Um dos que ouvi disse ter procurado a Comunicação da prefeitura e ouvido que fora feita uma reunião e decidido manter como estava.
Outro fator: consulta feita sobre “nacionalizar” teve, nas duas vezes que consultei, a mesma resposta: quem tem poder para nacionalizar algo no país é o presidente da República. No caso da Madeira-Mamoré, o então presidente Getúlio Vargas.
Ao final da mídia da prefeitura, a apresentadora sugere a quem assistiu “…fiquem ligados porque, logo mais, eu trago outras curiosidades sobre a nossa capital.”
Tenho dois temores, o primeiro é que tais “outras novidades” venham cheias de absurdos como essa aí.
O segundo, e muito mais grave, é que estudantes vejam o vídeo e acreditem piamente em tudo que ela disse, como ainda há muitos que creem ser verdadeiro outro absurdo, “cada dormente é um homem morto na construção da ferrovia”.

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