Da Alemanha à República Dominicana, autoridades médicas governamentais estão recomendando a mistura de vacinas de tecnologias diferentes (uma na primeira dose e outra na segunda) na esperança de obter uma proteção mais eficiente.
Mas essa estratégia realmente oferece uma imunização mais robusta e é necessária? De uma perspectiva científica, ainda não há uma resposta. Estudos estão sendo feitos para entender melhor os riscos e benefício de misturar vacinas contra a Covid-19 – o que pode facilitar problemas logísticos para alguns programas de imunização. Mas são necessárias mais pesquisas para responder se a mistura funciona no mundo real.
Na sexta-feira (2), a Alemanha emitiu a recomendação mais incisiva sobre a mistura de vacinas. O Comitê Permanente de Vacinação Alemão (STIKO) disse na última quinta-feira (1º) que as pessoas que recebem a primeira dose da vacina Oxford-AstraZeneca “devem receber uma vacina de mRNA como segunda dose, independentemente de sua idade”.
As vacinas da Pfizer e da Moderna usam RNA mensageiro (mRNA), enquanto a da AstraZeca é feita com um vírus chamado adenovírus. De acordo com o STICKO, os resultados dos estudos atuais mostram que a resposta imune gerada por meio dessa mistura de vacinas é “claramente superior”.
Autoridades da República Dominicana disseram na quinta (1) que irão começar a oferecer a terceira dose da vacina a profissionais de saúde, um reforço para conter as variantes, e que essas pessoas receberão vacinas diferentes das que tomaram na primeira dose. Estão disponíveis no país as vacinas da AtraZeneca, Sinovac e Pfizer.
Em junho, o Comitê Consultivo Nacional de Imunização do Canadá fez uma recomendação menos incisiva quando afirmou que “as vacinas de mRNA são preferíveis como segunda dose para indivíduos que tomaram a primeira dose da AstraZeneca”.
O comitê canadense diz que fez a recomendação com base nas “evidências emergentes de que há uma melhor resposta imune à mistura de vacinas”.
Esquemas de vacinação que misturam as vacinas da AstraZeneca e da Pfizer induzem a uma resposta robusta do sistema imunológico, no entanto, a resposta a duas doses da Pfizer se mostrou ainda mais forte, segundo pesquisadores do Reino Unido.
Em outro estudo também realizado no Reino Unido, pessoas que receberam um tipo de vacina diferente como segunda dose apresentara mais efeitos-colaterais como febre, tremor, fadiga e dor de cabeça. Mas esses efeitos foram passageiros e não representaram nenhuma preocupação relativa à segurança da vacinação.
Vacinas de segunda geração
A ideia de usar vacinas diferentes para a primeira e a segunda dose já foi explorada anteriormente – antes da pandemia do novo coronavírus – disse o pesquisador Amesh Adalja, do Centro Johns Hopkins para Segurança da Saúde. O conceito é chamado de dose-reforço heteróloga e já foi usado para estudar a gripe aviária, segundo Adalja.
Ele diz que ainda é cedo para estabelecer se vai demorar meses ou anos para saber como as vacinas contra a Covid-19 serão no futuro. Mas é importante entender como produzir melhores imunizantes de segunda geração e usar esse conhecimento para outras vacinas contra diferentes doenças infecciosas e entender como o sistema imunológico reponde a diferente a diferentes vacinas.
Para o pesquisador, trata-se de uma área de pesquisa muito promissora, que pode ajudar a desenvolver melhores programas de imunização, especialmente para pessoas que não têm boas respostas imunológicas, como imunossuprimidos que passaram por transplantes de órgãos.
Um estudo publicado em junho na revista especializada Annals of Internal medicine sugere que a terceira dose da vacina contra o coronavírus pode ajudar a reforçar os níveis de anticorpos em pessoas que receberam transplantes de órgãos e que não tiveram respostas robustas ao esquema padrão de vacinação.
Ainda não há necessidade de reforços
Com a variante Delta, que é mais contagiosa, circulando nos Estados Unidos, muitas pessoas estão preocupadas com a possibilidade de precisar receber uma terceira dose da vacina para se manter protegidas – especialmente as que tomaram a vacina da Janssen, considerada menos efetiva.
Mas os resultados de novas pesquisas apontaram que a vacina da Janssen parece proteger adequadamente contra a variante Delta, disse a empresa em um comunicado na noite de quinta-feira (1º). O imunizante fornece proteção que dura pelo menos oito meses.
“Os dados atuais para o estudo de oito meses até agora mostram que a vacina de dose única da Johnson & Johnson contra Covid-19 gera uma forte resposta de anticorpos neutralizantes que não diminui; em vez disso, observamos uma melhora com o tempo”, afirmou Mathai Mammen, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Janssen, braço de vacinas da J&J, no comunicado.
A empresa disse que uma dose da vacina provoca uma resposta duradoura de anticorpos e gera células do sistema imunológico chamadas células T, que também duram oito meses. “os resultados sugerem que não é necessária uma dose de reforço no momento”, afirmou Paul Offit, diretor do Centro de Educação em Vacinas do Hospital Infantil da Filadélfia.
“Devemos nos guiar pela ciência. No momento, a ciência nos diz que duas doses de vacina de mRNA ou uma dose da vacina da Janssen protegem contra as formas graves da doença causadas pela variante Delta”, conclui.
(CNN)