O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu oponente político, Benny Gantz, caminharam juntos para uma pequena sala de conferências e sentaram-se lado a lado.
Quatro dias haviam se passado desde que o Hamas lançara um ataque sem precedentes a Israel, matando mais de 1.400 pessoas e levando pelo menos 239 reféns para a Faixa de Gaza.
Mas isso foi antes de a magnitude das atrocidades ser totalmente compreendida.
Os dois políticos tinham acabado de formar um gabinete de guerra emergencial e encaravam a nação juntos pela primeira vez, ombro a ombro.
Foi uma forma de unidade exigida por muitos israelenses, após meses de protestos generalizados e de uma das fases políticas mais divisivas da história do país.
O novo governo enviou uma mensagem clara de solidariedade à nação e aos adversários do país, mas não incluiu todas as principais figuras da oposição.
O líder do maior partido da oposição, Yair Lapid, recusou-se a aderir depois de Netanyahu ter rejeitado apelos para romper com os dois partidos de extrema-direita de sua coligação.
Desde então, os bombardeios de retaliação de Israel a territórios palestinos já mataram mais de 9 mil pessoas, segundo o Ministério da Saúde gerido pelo Hamas em Gaza.
Unindo forças
O tenente-coronel Ron Sharf estava no aeroporto de Dubai esperando um voo de conexão com sua esposa e três filhos quando o Hamas invadiu os kibutzim (plural de kibutz) e cidades israelenses. Era o último dia de um longo feriado judaico e as férias em família estavam chegando ao fim.
“As mensagens de WhatsApp começaram a chegar por volta das 6h30”, conta Sharf, comandante aposentado de uma das unidades de elite do exército israelense.
Sharf, que cofundou os Irmãos em Armas — um grupo de reservistas israelenses que protestam contra as controversas reformas do governo para mudar a forma como o sistema judicial do país funciona —, entrou em um telefonema.
“Às 8h, depois de uma conferência por Zoom com os outros líderes dos Irmãos em Armas, emitimos um comunicado convocando a todos para se apresentarem ao serviço imediatamente e sem hesitação”, diz.
O serviço militar é obrigatório para a maioria dos israelenses quando completam 18 anos.
Os homens têm que cumprir 32 meses e as mulheres, 24.
Depois disso, a maioria pode ser convocada para unidades de reserva até os 40 anos, ou até mais, em caso de emergência nacional.
O lançamento das reformas governamentais no início do ano havia dividido o país, levando às ruas centenas de milhares de israelenses, que temiam prejuízos à democracia.
“Muitos membros dos Irmãos em Armas, em todos os ramos das forças armadas, suspenderam seu voluntariado para o serviço de reserva devido à legislação governamental”, explica Sharf, que é um importante líder no movimento de protesto, acrescentando: “O contrato entre o Estado e os soldados fora violado.”
Mas, para Sharf, a situação agora era diferente.
“Quando vi o vídeo de dois terroristas dirigindo uma picape em Sderot [cidade fronteiriça próxima ao norte de Gaza], compreendi que algo muito incomum estava acontecendo.”
“Nossos reservistas foram imediatamente enviados para suas unidades. Aqueles que não foram convocados para o serviço se juntaram a um centro de comando civil que abrimos em poucas horas em Tel Aviv.”
Agora, a organização criada para protestar contra o governo estava, na verdade, liderando os esforços de socorro.
“Removemos e resgatamos sobreviventes, transportamos soldados e equipamentos para as unidades, fornecendo refeições quentes às forças.”
(BBC)