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Denúncias de xenofobia na internet aumentam 874% em 2022, aponta estudo

“Passar fome é pouco. Sobre os nordestinos, eles merecem a situação precária que têm!” A frase de uma empresária paulista, publicada em suas redes sociais durante as eleições do ano passado, é reveladora acerca da forma como muitas pessoas manifestaram sua indignação política utilizando-se de preconceito e ódio em 2022.

Em um cenário de ano eleitoral, as denúncias de xenofobia na internet aumentaram 874% em relação a 2021, segundo dados da Central Nacional de Denúncias da Safernet, organização com foco na promoção de defesa dos direitos humanos na internet no país.

Se consideradas todas as categorias de denúncias de crimes de ódio na web, a alta também foi expressiva: 67,7%.

Os responsáveis pela pesquisa consideram uma relação direta entre o crescimento no número de crimes de ódio e os últimos anos de eleição, uma vez que essa tendência se repetiu em 2018 e 2020.

“Anos eleitorais são bastante movimentados, inclusive com a participação pela internet. Isso colabora com o aumento das denúncias, e também devido à aparição, desde 2018, de figuras que questionavam os direitos humanos”, afirma o gerente de projetos da ONG, Guilherme Alves.

Esse ambiente mais tóxico, pondera Alves, faz com que os conteúdos sejam mais disseminados e também as pessoas sejam mais atentas.

Quanto à alta desproporcional nas denúncias de xenofobia, o gerente diz se tratar de uma análise complexa, cujos motivos podem ser variados, dado que o aumento chegou próximo de 900%. Porém, ele ressalta que, em grande parte, esse número foi alavancado por ofensas xenofóbicas especificamente contra nordestinos.

Divulgação de imagens de abuso e exploração sexual infantil tem alta de 10%

Além das denúncias de crimes de ódio, foram medidas as relativas a armazenamento, divulgação e produção de imagens de abuso e exploração sexual infantil, que passaram pela segunda vez consecutiva da casa dos 100 mil.

Os registros tiveram alta de 9,9% — de 101.833 em 2021 para 111.929 no ano passado.

Segundo o pesquisador, o combate a esse problema passa por várias frentes:

— entender como são disseminados os conteúdos, ou seja, como são as redes e como operam;
— conscientizar as pessoas para fazer as denúncias; informar os canais para denúncias;
— reforçar medidas de proteção das vítimas e responsabilização dos culpados.

Queda em denúncias de neonazismo não é necessariamente positiva

Entre os dez crimes avaliados pela Safernet, o único que registrou queda foi o de neonazismo.
A redução foi expressiva — de 81,6% —, mas não quer dizer, porém, que represente uma mudança positiva, segundo o estudo.

Isso porque a análise feita pelos pesquisadores é de que os grupos extremistas migraram para ambientes fechados, como fóruns da deep web e aplicativos de trocas de mensagens.

“Não necessariamente diminuiu o número de células neonazistas. Podem ter migrado a locais menos acessíveis. É um caso a ser melhor estudado pelas autoridades de investigação”, afirma Guilherme Alves.

Canal de denúncia

A Safernet oferece uma central de denúncia de crimes de ódio na internet, e incentiva a população a participar: mesmo — e sobretudo — aqueles que não foram vítimas.

“Temos as centrais de denúncias de crimes cibernéticos, onde as pessoas podem denunciar o que veem pela internet. Basta ter a URL, selecionar a categoria, enviar a denúncia e até acompanhar o status dela”, lembra Guilherme Alves, que prossegue:

“Denunciar é um ato de cidadania. Pensamos que é o momento de enfatizar a conscientização das pessoas, e acabar com essa percepção de que a internet é uma terra sem lei.”

 

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