A exemplo de outras corajosas juízas e promotoras de justiça aqui estabelecidas entre 1960 e 1970, a paraense Salma Latif Resek Roumiê foi a primeira mulher advogada em Porto Velho. Fundadora da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, ela enfrentou preconceitos, mas não esmoreceu e deu exemplo de dignidade à classe. Nos anos 1970 a aceitação da mulher ainda era limitada; hoje, porém, seu protagonismo é pleno.
Salma advogava em seu escritório, no Edifício Ji-Paraná, conhecido pelo importante Café Santos no térreo, o mais frequentado ponto de encontro das pessoas em Porto Velho. Era tratada com alta reverência e respeito pelas pessoas em pleno ciclo do garimpo no território federal.
No mesmo prédio também trabalharam os advogados: Miguel Jorge Roumiê, Nelson Santos Oliveira e Rochilmer Melo da Rocha.
Nascida em Belém do Pará em 18 de maio de 1945, Salma era filha de Jorge Roumié e Josefa Resek Roumié, ambos imigrantes libaneses. Em 1970 formou-se em direito na Universidade federal do Pará e retornou a Porto Velho, Capital do ainda Território Federal do Guaporé, onde iniciou sua vida de advogada.
O escritório de Salma ficava ao lado da sala do seu irmão Miguel Jorge Roumié que já advogava e exercera cargos no governo Marques Henriques.
Em 1981 ela entrou para a vida pública, com designação para a extinta Superintendência Nacional do Abastecimento (Sunab), onde chegou ao cargo de procuradora. E aposentou-se em 1997, depois de viver na Sunab a execução de planos econômicos (congelamento de preços, entre eles) e a redemocratização do País.
Salma foi casada durante 30 anos com o radialista e apresentador de TV rondoniense João Dalmo Alves da Silveira, com quem teve quatro filhos: Dalmo Luís, Fábio Luís, Munnira Cláudia e Jorge Luís.
Faleceu em 20 de maio de 2017 em Poços de Caldas (MG).
“O maior exemplo que minha mãe nos deixou foi a honestidade e sempre lutar e nunca desistir” – conta a filha Munnira em vídeo para esta série de matérias.
“Numa sociedade comandada por homens, minha mãe teve que, a cada dia batalhar o espaço dela, defender suas ideias, seus pontos de vista. Isso moldou muito a personalidade profissional e se refletiu em sua personalidade dentro de casa” – diz o filho advogado Dalmo Luís Roumiê.
“Ele aconselharia hoje as jovens advogadas a firmar o combate, brigando por seus ideais e por sua vontade. Hoje, minha busca constante é sempre honrar aquilo que ela deixou como legado” – acrescenta o advogado Dalmo Luís.
Segundo ele, Salma também gostava muito de bordar, cozinhar, fazer trabalhos manuais e cuidar de plantas.
Munnira e Dalmo Luís
Protagonismo da mulher
A advogada pioneira é agora nome de alta honraria na Seccional: a Medalha Salma Roumiê. Em março deste ano, na Conferência Estadual da Advocacia Rondoniense, no Teatro Estadual Palácio das Artes, a comenda foi entregue a diversos profissionais do Direito.
A vice-presidente da OABRO, Vera Paixão, discursou: “A luta das mulheres é pelo direito de exercer o mais básico: o direito à vida, direito à liberdade de permanecer ou não em um relacionamento, o direito de andar pelas ruas sem receio de ser vítima de uma violência sexual, de não ser morta ou violada pelo simples fato de ser mulher, porque algum homem entende, que tem o direito sobre sua vida ou morte”.
“Somos muitas, somos diversas, talvez muitas de nós não vivenciem ou não percebam a opressão decorrente da desigualdade de gênero, mas todas sabemos que ela existe em nossa sociedade com diferentes contornos provenientes de questões transversais como raça, idade, deficiência e classe social”.
A presidente da Comissão da Mulher Advogada, Vanessa Esber Serrate, se disse “uma pessoa transformada.” “Esta missão, confesso, não foi simples, pois tinha entre meus objetivos principais, engajar e despertar nas mulheres advogadas o sentimento de pertencimento”, disse.
Mulheres advogadas de diversas áreas prestigiaram o evento, entre elas: Val Meireles, Pompília Armelina dos Santos, Helena Debowski, Elisabete Balbinot, Glenda Araújo, Cláudia Fidelis e Vitória Vieira. Valentina, filha da conselheira seccional Joilma Schiavi, representou o futuro da advocacia feminina.
Observatório do Feminicídio
Em parceria com o Tribunal de Contas do Estado, Ministério Público de Rondônia e Rede Lilás, a OABRO está se dedicando à prevenção e combate à violência para realizar trabalhos de prevenção e combate à violência contra a mulher. Rondônia é o estado com maior índice de estupros do país, além de ter casos frequentes de feminicídio.
O recém-criado observatório é uma ferramenta interinstitucional que reúne dados relacionados ao feminicídio no estado. Ele é abastecido por órgãos de fiscalização e controle, do sistema de justiça, saúde, segurança pública e polícia, podendo ser acessado gratuitamente por toda a sociedade.
Acesse: http://observatoriodofeminicidio.net/
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Fotos: Álbum de Família e Assessoria OABRO
Edição de vídeo: Raíssa Dourado
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