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quarta-feira, dezembro 18, 2024

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Coluna Boca Maldita – PONTES ELEITORAIS

 

ESTADO x MUNICÍPIO

 O prefeito Adailton Fúria resolveu manifestar toda a sua insatisfação contra o governo do estado. Esta semana, ele gravou um vídeo e declarou que irá comprar uma briga contra o secretário de estado da saúde em função do sistema de regulação de pacientes que são atendidos no Pronto Atendimento Municipal e que necessitam ser encaminhados ao HEURO. A briga entre governo do estado e o município de Cacoal, porém, não começou esta semana. Bem no começo de sua administração, o prefeito de Cacoal declarou que poderia fazer no município a melhor saúde do estado, como ele costuma dizer sobre outros temas. Na ocasião, Adailton Fúria afirmou que para fazer saúde de qualidade nas unidades municipais, bastava que o estado devolvesse ao município os servidores que estavam cedidos para o estado. O governo de Rondônia atendeu ao pedido do prefeito e devolveu os servidores municipais que estavam à disposição do sistema estadual de saúde e nenhuma mudança significativa aconteceu. O prefeito também já disse que faria na cidade o melhor Centro de Autista de Rondônia, mas não cumpriu. Após as declarações do prefeito, os representantes do governo de Rondônia ainda não se manifestaram, mas existem diversos documentos que provam que o município deixou de cumprir vários acordos que assinou com o governo de Rondônia.

ORQUESTRA POLÍTICA

 Muitas pessoas podem imaginar que a decisão do prefeito de atacar o governo estadual teve início apenas no momento em que ele decidiu gravar o vídeo que circula nas redes sociais, mas a história pode não ser bem assim. Quem assistiu à sessão ordinária da Câmara de Cacoal, na última segunda-feira, dia 15, certamente percebeu que alguns vereadores fizeram duríssimas críticas contra o secretário de saúde de Rondônia e contra o governador Marcos Rocha. Pessoas bem próximas ao prefeito informaram que antes da sessão da Câmara Municipal, ele teria reunido alguns vereadores da chamada base aliada e teria dados ordens para que os vereadores abrissem fogo contra o governo. Entre esses vereadores, estariam Luís Fritz, Zivan Almeida e Edimar Kapiche. Coincidentemente foram esses vereadores que subiram à tribuna e proferiram duros ataques ao governo do estado. Muitas coisas não estão bem esclarecidas nessa história, mas uma coisa podemos afirmar com certeza: o sistema de saúde, tanto estadual quanto municipal, precisa funcionar melhor em Cacoal, porque a população sofre muito com a ineficiência nos dois sistemas. Outra coisa que precisa ficar clara é que o prefeito de Cacoal assinou, dois ou três anos atrás, diversos acordos com o governo do estado para melhorar o sistema de atendimento, mas nunca cumpriu. Não cabe à coluna dizer quem está certo ou errado, mas os prejuízos dessa guerra serão todos para a população.

FALTA DE CONEXÃO

 O vereador Zivan Almeida foi um dos vereadores que fez os ataques mais duros contra o governo do estado e contra o secretário estadual de saúde. Porém, para que se faça a devida justiça, precisamos admitir que diversas outras autoridades devem ser cobradas pelas demandas da saúde, entre elas os deputados estaduais eleitos em 2022 e que carregavam a bandeira da saúde na campanha, em todos os seus discursos. Assim, é preciso saber o que foi feito pelos nossos deputados em defesa do HEURO, Hospital Regional e também das unidades de saúde do município. Atribuir a culpa somente ao secretário estadual pode ser apenas uma estratégia política para proteger as demais autoridades que possuem obrigações com a saúde e que não atuam nesse setor. Embora o município de Cacoal seja chamado de Polo II da saúde de Rondônia, isso não se verifica na prática, em razão das grandes deficiências constatadas na estrutura. No caso do secretário de estado da saúde, ele não mora em Cacoal e provavelmente desconhece as demandas da saúde no município. O papel de levar as informações ao governo cabe às autoridades eleitas por Cacoal e que conhecem a realidade da cidade e as dificuldades que a população enfrenta para conseguir atendimento digno. Pelo discurso do vereador Zivan Almeida, ficou a impressão de que ele não sabia da realidade do HEURO e descobriu somente agora a situação. Como possui forte vínculo politico com os deputados de Cacoal, o vereador deveria ter lembrado de passar todas as informações sobre a saúde desde sua posse como vereador, em 2021.

 CORUJÃO DO SUS

 Outra situação que precisa ser lembrada, já que os vereadores não lembram, é que durante a campanha, uma das principais promessas do prefeito Adailton Fúria era implantar no município um programa chamado Corujão do SUS. Ele dizia que em sua administração as pessoas teriam todas as condições para fazer todos os tipos de exames possíveis e que receberiam os resultados dos exames por e-mail ou por outra via eletrônica. Após tomar posse, o prefeito nunca mais falou sobre o assunto e os vereadores fizeram absoluta questão de esquecer que a promessa foi feita. A realidade sobre a necessidade de exames somente é sentida pelas pessoas que precisam de exames básicos, muitas vezes simples, mas que não encontram esse tipo de atendimento no município. Do jeito que a coisa está hoje, talvez nem seja o caso de oferecer à população todos os tipos de exames, como o prefeito e seus aliados prometeram em campanha. Se o município oferecesse apenas alguns desses exames mais básicos, certamente a fila de espera por um atendimento no HEURO não seria tão grande como é atualmente. Como até hoje o programa Corujão do SUS não foi implantado, resta saber se a promessa será renovada na campanha desse ano e se a população vai acreditar que fazer exames médicos é tão fácil como foi prometido durante a campanha de 2020.

COMISSÃO DE SAÚDE

 Essa polêmica envolvendo a saúde no município de Cacoal e eventuais parcerias e acordos firmados entre governo estadual e governo municipal precisa ser tratada com a devida seriedade e envolver todas as autoridades que possuem obrigações com Cacoal e com a saúde da população. Entre essas autoridades, estão dos deputados estaduais que fazem parte da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Rondônia. A comissão é composta por 7 deputados, sendo que apenas a deputada Taissa Souza não possui relação política com Cacoal. Os demais membros são Alan Queiroz, que assumiu o mandato no lugar do prefeito Adailton Fúria e prometeu ajudar o município; Cássio Gois, que é vice-presidente da comissão e eleito por Cacoal; além dos deputados Luizinho Goebel, Lembrinha, Ismael Crispim, Cláudia de Jesus, todos eles deputados que fazem parte da região chamada pelo governo de Rondônia de Polo II da saúde estadual. Os pacientes desses municípios são atendidos no Hospital Regional e no HEURO, através do pacto formalizado pelo governo do estado com os municípios de Rondônia. Nem todos, uma vez que um paciente de Alta Floresta foi levado na sexta-feira pela saúde daquele município de ambulânca para Porto Velho, devido a falta de um urologista nos hospitais de Cacoal.  Então, está na hora de cobrar da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa que procure saber o que tem acontecido no município. As unidades de saúde de Rondônia, inclusive as de Cacoal, possuem diversos servidores indicados pelos deputados estaduais. Não é possível que eles não saibam da realidade.

 OLHOS FECHADOS

 Ainda sobre a questão da saúde pública, é preciso reconhecer que a administração do prefeito Adailton Fúria fez uma boa reforma na estrutura física do Hospital Materno Infentil e isto certamente contribuiu para melhorar a comodidade dos pacientes. Mas a estrutura física não é tudo. No Materno Infantil faltam técnicos de enfermagem, faltam médicos, faltam enfermeiros e outros profissionais. Com relação à estrutura de funcionamento do PAM, a situação não é muito diferente e provavelmente não tem como melhorar, sem a realização de um concurso público, que foi prometido pelo prefeito apenas na ocasião que recebeu uma notificação do Ministério Público sobre o assunto, mas que não demonstra nenhuma intenção de realizar. Como Cacoal é um município que possui graduação em Enfermagem, curso de Medicina e curso de formação de técnicos de enfermagem, certamente existem muitos profissionais que poderiam ser contratados para o atendimento à população, mas isto somente é possível com a realização de um concurso público. Os vereadores que hoje criticam o secretário de saúde estadual nunca se preocuparam em saber da realidade das unidades de saúde municipal e já houve caso de vereador sendo atendido em Rolim de Moura, quando precisou fazer um simples procedimento cirúrgico de vesícula. Pelos discursos dos vereadores, parece que a saúde municipal não tem nenhum problema. Mas eles fecham os olhos para essa realidade, porque precisam fingir que apenas o sistema estadual é que não funciona.

PONTES ELEITORAIS

 O vereador Luís Fritz usou a tribuna da Câmara Municipal, na última segunda-feira, para dizer que o prefeito Adailton Fúria nada tem a ver com a construção das pontes do rio Pirarara e do rio Machado, que forma prometidas pelo governo federal logo no início do mandato do prefeito, mas que até hoje não foram concluídas. O discurso do vereador Fritz, porém, não combina com os vídeos que foram gravados no local da construção das pontes logo no começo do mandato dele. O próprio prefeito Fúria gravou vídeos no local da obra dizendo que após décadas de muita conversa, somente na gestão dele as pontes estavam sendo construídas e que resolveriam todos os problemas da cidade. O vereador Fritz estava na ocasião e também apareceu nos vídeos gravados, como também usou a tribuna naquela ocasião para dizer que as pontes seriam construídas por um esforço do prefeito. O vereador está certo, quando diz hoje que as pontes não têm nada a ver com a gestão do prefeito e que são obras do governo federal iniciadas em 2021. Mas, ele não disse naquela época a mesma coisa e certamente não diria hoje, se as pontes estivessem concluídas. A chance de ter vídeos do prefeito e do próprio Fritz tentando dizer que a obra era municipal, certamente seria grande, caso a construção das pontes não tivesse ficado enrolada até hoje. Um exemplo disso são as casas populares que devem ser concluídas e entregues esse ano. A obra também é federal, mas como está para ser concluída, tem muita gente querendo ser o pai, inclusive alguns vereadores.

BOLSONARO EM RONDÔNIA

Os militantes do PL de Rondônia estão muito ansiosos com a possibilidade da presença do ex-presidente Jair Bolsonaro visitar o estado nos próximos dias. Bolsonaro tem a missão de andar o país para estimular as candidaturas de prefeitos no maior número de cidades possíveis, para que o PL consiga realizar no Brasil a expectativa de eleger um número grande de prefeitos. Alguns bolsonaristas conhecidos de Cacoal acreditam que a vinda de Bolsonaro ao município pode ser determinante para definir uma candidatura de peso na Capital do Café. O PL ainda não anunciou nenhum nome para a disputa da sucessão municipal, mas o partido está se preparando para o processo deste ano. Pelas informações preliminares, tudo indica que o partido de Bolsonaro não tem interesse em apoiar a candidatura do prefeito Adailton Fúria à reeleição em Cacoal e o próprio Bolsonaro já chegou a declarar que seus eleitores não deveriam votar em candidatos do partido de Gilberto Kassab, desafeto político do ex-presidente. Mesmo que Bolsonaro não tenha uma agenda em Cacoal, caso ele reforce essa ideia, o prefeito pode encontrar dificuldades para organizar seus apoiadores no município, já que Cacoal é um forte reduto bolsonarista no estado de Rondônia.

GUERRA IDEOLÓGICA

Essa questão ideológica em eleições municipais não faz muito sentido, mas, nesse momento de pré-candidaturas, muitas pessoas têm comentado sobre o tema. No caso do prefeito Fúria, ele ficou desesperado, quando soube que o vereador Paulo Henrique assinou a ficha de filiação ao PL, porque segundo Fúria, o vereador é “petista”. Em reação às declarações do prefeito, o vereador citou que os partidos da base aliada do prefeito contam com 10 ministros no governo Lula e que isso faz do prefeito um aliado do governo federal. O prefeito não pode negar que o vice-presidente Geraldo Alkimin é a principal liderança do PSB nacional e que o partido faz parte da aliança municipal de Fúria, desde as eleições de 2020. Além disso, diversos outros partidos do grupo do prefeito realmente fazem parte da composição que apoia Fúria, mas é muito provável que o eleitor cacoalense não tenha pela questão ideológica o mesmo que interesse que demonstra nas eleições nacionais. Não dá para misturar eleições presidenciais com eleições municipais, porque os problemas de um município estão visíveis aos olhos dos eleitores e as relações de amizade determinam com muito mais força os rumos de uma campanha eleitoral.

 

 

 

 

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