A ideia de seres humanos indo e voltando do espaço parece coisa dos filmes da Marvel, com o Homem de Ferro (totalmente humano) preso em um planeta sem gravidade ou oxigênio, em idas e vindas constantes. Ou com a Capitã Marvel (ou Carol Danvers) visitando diversos lugares nos universos afora sempre que um determinado planeta precisa de ajuda, e Peter Quill, de Guardiões da Galáxia, um quase-humano que vive (e trabalha) no espaço.
Ficção científica à parte, a viagem espacial se tornou uma realidade além das tentativas da Nasa de pisar na Lua com a saída de dois bilionários da Terra: Jeff Bezos, da Amazon e da Blue Origin, e Richard Branson, da Virgin Galactic.
Nesta terça-feira (20), Bezos foi além da atmosfera terrestre e, após sete minutos na fronteira espacial, voltou para a Terra com sucesso. Em uma coletiva de imprensa que aconteceu pouco depois da viagem, o fundador da Amazon afirmou que a viagem “pareceu normal, era como se fôssemos humanos desenvolvidos para estarmos naquele ambiente.”
Ele fez questão de destacar que os esforços para concluir esse feito não se tratam de “escapar da Terra”. “Precisamos fazer isso para resolver os problemas daqui”, disse.
Mas ele não é o único. No domingo (11), Branson conseguiu completar o primeiro voo espacial comercial com destino à borda do espaço, localizada a cerca de 50 milhas (80 quilômetros) acima da Terra — distância que o governo dos Estados Unidos considera a fronteira com o espaço sideral.
“Estamos aqui para tornar o espaço mais acessível a todos. Queremos transformar a próxima geração de sonhadores nos astronautas de hoje e de amanhã”, disse Branson logo após a conclusão do voo.
Além de Bezos e Branson, outro bilionário que quer chegar ao espaço em breve é Elon Musk, da Tesla e da SpaceX. Embora Musk seja o único dos três que já realizou um voo tripulado em parceria com a Nasa, ele mesmo ainda não alcançou a borda terrestre para apreciar uma visão panorâmica do planeta que ocupa. Para não ficar de fora do passeio, Musk até reservou uma passagem para um dos voos da Virgin.
É fato que o bilionário excêntrico já está se preparando. Por isso, Musk colocou na lista de designers para as roupas que seus viajantes usarão durante o voo espacial um profissional que trabalhou em filmes como “Batman versus Superman”, “O Quarteto Fantástico”, “X-Men II” e, é claro, nos “Vingadores”.
A ficção, então, não parece tão distante da realidade. Tony Stark que se cuide.
Mas, depois de Bezos e Branson, o que vem por aí?
O turismo espacial tem ganhado espaço nos últimos anos e a expectativa da consultoria Research and Markets é a de que o setor deverá crescer 17,15% ao ano, alcançando US$ 2,58 bilhões até 2031.
O relatório da empresa afirma que o principal fator para o crescimento serão os esforços realizados para permitir o transporte espacial, além do surgimento de novas startups focadas em voos suborbitais e no comprometimento das companhias em desenvolver opções mais baratas para esse tipo de viagem.
Sem levar em conta que a indústria espacial foi avaliada em US$ 385 bilhões em 2020, segundo a consultoria Euroconsult — com espaço para crescer. Segundo o analista Ron Epstein, do Bank of America, o mercado deve chegar a valer US$ 1,4 trilhão já na próxima década, se aproximando de US$ 1,5 trilhão da indústria de turismo.
De olho nisso, Branson espera começar já no ano que vem a realizar voos suborbitais comerciais tripulados da Virgin Galactic.
Ao todo, a empresa vendeu 600 ingressos com preços que começam na casa dos US$ 250 mil e pessoas como Lady Gaga, Justin Bieber e Tom Hanks já garantiram seu espaço para o novo destino que tem tudo para agradar os mais ricos. O ator e investidor Ashton Kutcher, inclusive, era um dos sortudos com ingresso para a viagem espacial, mas abriu mão depois de um comentário de sua esposa, a atriz Mila Kunis.
Para o futuro, a Blue Origin pretende vender ingressos para viagens rápidas a 100 quilômetros acima da Terra — a distância é a altitude considerada internacionalmente a fronteira do espaço sideral, embora o governo dos Estados Unidos a considere ser em torno de 80 quilômetros. A empresa de Bezos afirma que está planejando mais duas viagens com passageiros para ainda este ano, sem definir qual será o valor das passagens para o público.
Apesar de alguns insucessos no caminho da companhia espacial do dono da Tesla (que envolvem explosões de espaçonaves não tripuladas), foi descoberto que os foguetes Falcon 9 podem ser reutilizados. E o objetivo de Musk continua o mesmo: pousar em Marte em 2024.
O bilionário já falou diversas vezes sobre seus planos de colonizar o planeta vermelho. Em seu perfil no Twitter, Musk afirmou que irá construir 100 naves espaciais por ano, capazes de transportar 100 mil pessoas da Terra para Marte sempre que as órbitas dos planetas se alinharem — o que pode levar mais de 780 dias para acontecer.
Mas Musk afirmou que quer enviar cerca de um milhão de humanos para Marte até 2050, realizando viagens para a órbita da Terra a cada 30 dias. Os viajantes, então, ficariam parados em algum lugar do espaço por um período até chegarem ao planeta. Com a tecnologia atual, Musk estipula que isso poderia ser feito em 26 meses.
Enquanto isso não acontece, Musk pretende fazer o primeiro voo comercial da companhia ainda em 2021, em meados de setembro.
O novo capitalismo espacial
Muitas pessoas não concordam com a exploração espacial prevista pelos bilionários — além de que, é claro, o valor das passagens acabam tornando o público dos voos bastante elitizado.
Antes de Bezos viajar, uma petição online tinha mais de 162 mil assinaturas pedindo que o bilionário, o homem mais rico do mundo, continuasse por lá, enfrentando a gravidade.
Mas, segundo a Blue Origin, a história não é bem assim. “A Blue Origin foi fundada por Jeff Bezos com a visão de possibilitar um futuro onde milhões de pessoas estão vivendo e trabalhando no espaço para beneficiar a Terra. Para preservá-la, a Blue Origin acredita que a humanidade precisará expandir, explorar, encontrar novas energias e materiais recursos e mover indústrias que estressam a Terra para o espaço. A Blue Origin está trabalhando nisso hoje, desenvolvendo veículos de lançamento parcial e totalmente reutilizáveis ??que são seguros, de baixo custo e atendem às necessidades de todos os clientes civis, comerciais e de defesa”, disse a empresa em um comunicado.
Tanto Bezos quanto Branson falam sobre “democratizar os voos espaciais”, mas não se sabe exatamente quando isso vai acontecer. No momento a aventura ficará restrita a quem pode pagar por ela. (CNN)