ATENDIMENTO PREFERENCIAL
Luiz Albuquerque
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Até completar seis décadas de vida, quando eu ia a algum estabelecimento onde precisasse ficar numa fila, nunca observei como funcionava o tal atendimento preferencial, procurando sempre, independente de Lei, ceder a vez aos que necessitavam de urgência pela elevada idade ou condição que apresentavam.
E aí completei sessenta anos.
Certa manhã fui a um banco dito “oficial” para fazer um depósito que creditasse imediatamente o valor na conta de um parente. Por ainda não existir, naquela época, a facilidade da remessa bancária via aplicativo, ao invés de depositar via envelope no caixa eletrônico, como sempre fazia, retirei uma senha que me qualificava com a pomposa e destacada reverência de “atendimento preferencial”.
Dois caixas, escondidos atrás de um biombo, atendiam aqueles que eram chamados no sistema eletrônico.
Acontece que, por mais de 40 minutos, vi chamarem diversas senhas que, pelas letras e numeração, deixava claro não tratarem-se de atendimentos preferenciais. Quando fui chamado fiz a observação ao caixa, que alegou: “Senhor, quem controla isso é o sistema”. Eu questionei: “Acontece que, antes de mim, mais de vinte foram chamados e, entre eles, apenas um preferencial foi atendido”. E ele, impassível: “É o sistema, senhor”. Não deixei por menos, e tornei a falar: “Mas, então, não é preferencial. Uma mulher gestante, um idoso, um deficiente, ou alguém com criança de colo é preferencial e deve ser atendido antes dos demais. É isto que determina a Lei”. E ele, tranquilo e infalível como Bruce Lee (como diz a letra da música “Um Índio”, de Caetano Veloso), “senhor, é o sistema”.
Bom! Por causa de situações como essas e outras já vividas por mim é que, quando chego num banco, numa lotérica ou em lugares onde o tal atendimento preferencial existe, eu dispenso a tal preferência. Primeiro porque o atendimento às pessoas nos demais caixas geralmente demora bem menos tempo do que no “preferencial”. Segundo porque, geralmente, o caixa preferencial é, ou se mostra, mais lento no atendimento que os demais. Terceiro porque o cliente “preferencial”, geralmente é bem mais lento de ações que os das outras filas. E quarto porque, devido a sua condição de preferencial, os familiares ou chefes de empresas costumam sobrecarregá-los de papéis para resolver uma série de questões no caixa.
Por isso, e com todo o respeito aos demais da minha faixa de idade, prefiro dispensar o tal “atendimento preferencial”.