Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: A EDUCAÇÃO, O CHAPOLIN E O BODE…
O município de Cacoal vive, nos últimos dias, uma constante discussão sobre a possibilidade de haver graves prejuízos aos alunos matriculados nas escolas da rede municipal de ensino, em função da não renovação de contratos temporários feitos pela Secretaria Municipal de Educação. Essa ameaça de deixar os alunos sem aulas provocou um grande pandemônio que envolve Câmara Municipal, Prefeitura de Cacoal, os alunos ameaçados de ficarem sem aulas e, obviamente, as famílias dos estudantes, que esperam das autoridades competentes uma solução rápida e eficaz. Numa ação completamente injusta, diversas pessoas próximas ao alcaide de Nossa Urbe Obediana têm atuado, dia e noite, nas redes sociais e outros canais de comunicação, tentando colocar a culpa, por todas as lambanças cometidas, no secretário da educação, sob o argumento de que ele é a única pessoa que falhou na história. Em resumo, talvez muitas pessoas não conheçam a lenda, mas o titular da SEMED virou o bode na sala…
A problemática toda, em buscar eventuais culpados, revela apenas muitos desencontros administrativos, improvisos políticos e a evidente falta de zelo com o sagrado direito que possuem nossas crianças e adolescentes de terem professores para atender a essa importante busca pela formação das gerações futuras. O motivo alegado para que os professores não sejam contratados é que o teste seletivo feito para tal finalidade perdeu a vigência. A deficiência na forma de legislar é clara, como também há questões administrativas que precisam ser revistas. Todavia, tentar atribuir toda a culpa ao secretário da educação não parece ser o caminho mais prudente, porque ele é uma parte da estrutura, mas todo mundo sabe, inclusive o próprio secretário, que, desde o mês de janeiro de 2021, ele jamais teve autonomia para gerenciar a pasta. E a ausência de autonomia definitivamente não representa o único problema. No aspecto técnico, o quadro de professores municipais de Cacoal possui centenas de pessoas com muito mais qualificação técnica para ocupar o cargo. Algumas das várias lambanças constatadas na secretaria municipal de educação revelam a clara falta de rumo…
O aspecto pedagógico da condução da secretaria é um verdadeiro samba do crioulo doido. Em três anos e oito meses, o município mudou radicalmente o modelo de ensino em Cacoal, por três ou quatro vezes, sem que houvesse absolutamente nenhuma discussão científica sobre isso. Em vários momentos, ficou a impressão de que distribuir bicicletas, de forma aleatória, aos estudantes serviria para melhorar a qualidade do ensino. É lógico que não!!! Em outros momentos, a compra equivocada, e sem estudos científicos, de apostilas que custaram milhões, e que hoje não são utilizadas, foi comemorada como se fosse uma medalha olímpica, apenas por alguns políticos desinformados e sem muita preocupação com a essência da qualidade que deve ter o ensino. Na prática, os gestores municipais agiram como um verdadeiro exército de Brancaleone, ou como Sancho Pança, sem perceber que, neste caso, os moinhos de vento eram criados pela falta de critérios e planejamento na importante pasta da educação. Não poderia resultar em outra coisa que não fosse a perda de qualidade dos índices do ensino. E, aí, é preciso dizer, com veemência, que os professores municipais não possuem nenhuma culpa, porque eles fazem de tudo para garantir uma atuação de qualidade, e isto é indiscutível!
Agora, reflitamos sobre os seguintes fatos: no momento de comprar as apostilas, sem nenhum planejamento didático ou pedagógico, o secretário não apareceu como o heroico Chapolin; na hora de distribuir bicicletas, de maneira aleatória, o secretário não se vestiu de Chapolin ou Peter Pan, para agradar a criançada; na hora de bater o pé para não realizar o concurso público, o secretário não foi sequer ouvido; na hora de denunciar os desvios de combustíveis da secretaria de educação, apenas para fazer barulho, o protagonista foi outro, e os desvios jamais foram apurados… E talvez isso tenha algum sentido, porque o Chapolin da série televisiva, de fato, não tem assessores. Ele é um herói fajuto e solitário. O secretário deveria se orgulhar pelo fato de nunca ter usado as vestes do Chapolin, porque a personagem jamais resolveu qualquer um dos problemas para os quais foi solicitado. Quem teve a oportunidade de acompanhar a série sabe muito bem que o Chapolin é um herói desastrado, muito atrapalhado e incapaz de resolver as coisas. Na série, sempre que ele aparecia, sua principal missão era criar mais confusão e tumultuar o cenário. Aliás, imaginar que teste seletivo resolve algum problema na educação é agir como um autêntico Chapolin…
Diante deste cenário, constata-se que, se o Chapolin de “verdade” jamais resolveu algum problema, é puro delírio imaginar que um Chapolin Genérico teria alguma utilidade. É claro que eu não sou a pessoa mais indicada para defender o secretário da educação de Cacoal, porque já disse, diversas vezes, que ele é boa pessoa, mas não reúne as necessárias condições para conduzir uma pasta tão importante como a educação. Mas culpá-lo por todas as lambanças não me parece o caminho mais coerente, por enésimas razões. Se hoje ele é acusado por muita gente de ser o culpado pelos improvisos administrativos na educação, por que não foi demitido até agora? E neste patético jogo de improvisos e de personagens inusitadas, o secretário da educação nunca conseguiu, sequer, ser o Chapolin, o que já seria vexatório, mas ganhou a cadeira cativa de bode na sala da educação municipal…
Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista