Cacoal/RO – O número de índios que tenta ingressar em um curso superior cresce a cada ano em Cacoal. Atualmente há dez jovens de várias etnias do município, estudando em faculdades das cidades de Cacoal, Pimenta Bueno, Porto Velho e em Curitiba, no Paraná. Um número muito maior que esse, no entanto, deseja dar continuidade aos estudos, mas enfrenta várias barreiras, principalmente a financeira.
Segundo a chefe do setor de educação da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Cacoal, Ana Néri, normalmente os próprios indígenas que estão concluindo o ensino médio demonstram interesse em ingressar no ensino superior. Ela destacou que os pais dos jovens também procuram o setor de educação para que os filhos continuem estudando, porém esbarram na falta de recursos para mantê-los nas faculdades.
Ana explicou que atualmente apenas seis acadêmicos são beneficiados com bolsa integral, sendo quatro pela Faculdade São Lucas, de Porto Velho e dois pela Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal (Facimed). Na Faculdade de Pimenta Bueno (FAP) há um acadêmico com bolsa de 50% e nas Faculdades Integradas de Cacoal (Unesc) dois que arcam com todas as despesas do curso. “Também temos um aluno estudando na Universidade Federal do Paraná”, informou.
Ana informou também que a Funai oferece a alguns alunos uma pequena ajuda de custo, mas o benefício só contempla os que iniciaram o curso até 2007. Ela explicou que houve um corte no orçamento da Funai para a educação e que isto está dificultando manter os que já estão estudando e oferecer novas oportunidades aos que querem ingressar na faculdade. “Para nós da Funai, manter um acadêmico estudando é um orgulho, porque são muitas as dificuldades enfrentadas para se conseguir isso”, disse.
Segundo Ana, algumas instituições, a exemplo da Facimed, oferecem uma bolsa integral por vestibular. Todos os interessados fazem a prova e o melhor colocado fica com a vaga. Ela destacou ainda que entre os benefícios conquistados para os indígenas está a isenção de taxa para o vestibular da Universidade Federal de Rondônia (Unir). “Todos os indígenas que participaram do vestibular 2008 foram isentos da taxa”, disse.
Reconhecimento e proteção
O acadêmico do 7º período do curso de Turismo da Faculdade São Lucas, Gasodá Suruí, é um dos exemplos de persistência em busca do sonho da formação superior. Sua principal meta como estudante é conquistar reconhecimento e proteção para o seu povo. Ele divide um quarto com mais três colegas Suruís. Juntos eles dividem também as dificuldades e os bons momentos da vida universitária.
Segundo Gasodá, a adaptação longe da família foi difícil e demorada. Além das dificuldades com a língua portuguesa, ele se deparou com a curiosidade dos não índios, que lhe dirigiam as mais diversas perguntas. Hoje, porém, a realidade é outra. Gasodá já conquistou muitos amigos na sala de aula e uma boa interação com os professores. “Fomos muito incentivados por pessoas como a Ana Néri e aprendemos que para ser vencedor temos que enfrentar as dificuldades”, disse.
O acadêmico afirma que decidiu dar continuidade aos estudos para poder buscar saúde, educação e vida de qualidade para sua comunidade. Ele ressaltou que ao concluir os cursos, eles mesmos poderão trabalhar em benefício de suas famílias. “Somos nós quem melhor pode entender os problemas de nosso povo”, afirmou.
Gasodá destacou também que a cada dia procura se superar, capacitando-se em vários cursos e participando de seminários que divulguem a cultura e a importância do povo indígena para a sociedade brasileira. “Não quero parar de estudar. Vou fazer mestrado e doutorado, tanto no Brasil quanto lá fora”, disse.