Apesar de reconhecer que os estudos existentes até o momento têm pouco valor científico, o Conselho Federal de Medicina (CFM) liberou o uso de hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19, inclusive no início dos sintomas, disse nesta quinta-feira o presidente do órgão, Mauro Ribeiro, depois de encontro com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Nelson Teich.
“Não é uma recomendação. O Conselho Federal de Medicina não recomenda o uso da hidroxicloroquina. O que nós estamos fazendo é dando ao médico brasileiro o direito de, junto com o paciente, em decisão compartilhada com o paciente, utilizar essa droga”, disse Ribeiro. “Uma autorização. Mas não é recomendação, isso é muito importante ficar bem claro”.
De acordo com o presidente do CFM, os estudos existentes no momento sobre os efeitos da cloroquina para pacientes com Covid-19 são “observacionais” e tem “pouco valor científico”, mas ele os considera importantes de qualquer forma. No encontro com Bolsonaro, um entusiasta do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, o CFM entregou um parecer em que aponta a possibilidade de uso em três possibilidades.
A primeira delas, no caso de pacientes em estado crítico, internados em UTI, com lesão pulmonar e sem outros resultados. Brites afirma que, nestes casos, não há nenhuma evidência de efeitos da cloroquina, mas o médico pode fazer uso “por compaixão”.
“Ou seja, o paciente está praticamente fora da possibilidade terapêutica, e o médico, com autorização dos familiares, pode usar essa droga”, disse Brites.
As demais possibilidades, segundo o CFM, são o uso quando um paciente chega com sintomas no hospital, em um momento em que os médicos chamam de replicação viral, e ainda quando o paciente procura os médicos com sintomas leves, mas já foram descartados H1N1 e Influenza. Nesses casos, diz o parecer do conselho, em discussão com o paciente, e destacando que não há comprovação científica, o médico poderá receitar a cloroquina.
“O conselho não recomenda, ele está liberando o uso da droga. Fica a critério do médico dentro da sua autonomia profissional em decisão compartilhada pelo paciente”, afirmou.
“Não existe nenhuma evidência científica forte que sustente o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid. É uma droga utilizada para outras doenças já há 70 anos, mas em relação ao tratamento da Covid não existe nenhum ensaio clínico prospectivo e randomizado, feito por grupos de pesquisadores de respeito, publicados revistas de ponto, que aponte qualquer tipo de benefício do uso da hidroxicloroquina no tratamento.”
Brites destacou ainda que existem efeitos colaterais graves, mas disse que são raros e há relatos de melhora de pacientes, então este é um momento que essas observações não podem ser desprezadas.
“Em outra situação muito provavelmente o CFM não liberaria o uso da droga a não ser em caráter experimental. Mas, diante dessa doença devastadora, a opção foi dar um pouco mais de valor ao aspecto observacional de vários médicos, importantes e sérios”, disse.
Bolsonaro é um entusiasta do uso da cloroquina desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou a droga como uma possibilidade de tratamento da doença. Ele inclusive determinou que os laboratórios do Exército passassem a produzir a droga.
A insistência de Bolsonaro com o medicamento foi um dos motivos de atrito com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que se recusava a fazer uma indicação formal do ministério sem estudos científicos mais aprofundados. Não existem estudos formais que demonstrem uma eficiência real da droga até o momento.
O próprio presidente tem diminuído a defesa do medicamento. Na semana passada, depois de empossar o novo ministro da Saúde, diminuiu o tom ao falar do remédio, dizendo7 que era uma “possibilidade”, mas que havia “uma interrogação”.
(Fonte: Reuters).