Jaru-RO – Os índios da etnia Uru-Eu-Wau-Wau se reuniram nos dias 10, 11 e 12 de maio, para participar de mais duas festas da menina moça. O cerimonial é realizado sempre que uma índia, com idade entre 10 e 13 anos, deixa de ser criança para entrar na fase adulta. Na maioria das vezes a menina sai da festa já casada.
A menina passa a permanecer a maior parte do tempo na maloca, no mínimo uma semana antes da festa, período em que recebe orientações dos pais sobre a nova fase de sua vida. Um dia antes, é banhada pela mãe com óleo de babaçu, em sinal de purificação. Os preparativos para a festa também começam no dia anterior, quando os índios da aldeia e seus convidados saem em busca de caça, peixe, mandioca, castanha e lenha.
Às 3 horas da manhã todos que estão na aldeia são chamados para ajudar a descascar castanhas. Às 6 os pais enfeitam a menina com pulseiras e colares e cantam para ela, orientando-a sobre suas novas responsabilidades. Quando não há casamento, a menina é banhada novamente pela mãe e em seguida começa a trabalhar, preparando a comida da festa.
Casamento surpresa
De acordo com os índios mais velhos da aldeia, quem decide sobre os casamentos são os pais dos jovens. O noivo pode ser escolhido com antecedência ou momentos antes do casamento.
A festa da menina moça Deí, 11 anos, da Aldeia Alto Jaru, acabou em casamento. Ela e o jovem Buri foram informados de que se casariam no momento da cerimônia. Em silêncio os dois aceitaram a decisão dos familiares e cumpriram os rituais matrimoniais.
Deitados e cobertos na rede, Dei e Buri ouviram os conselhos dos mais velhos, que os orientaram em relação as responsabilidades do casamento. Em seguida receberam autorização para sair da maloca. Ela com baldes na mão e ele com flechas. A partir daí a festa teve continuidade, enquanto Deí assumiu os deveres de uma mulher casada e passou a cozinhar para os familiares e convidados.
Valorização cultural
Os membros da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, destacaram a importância da festa para a valorização cultural do Povo Uru-Eu-Wau-Wau. “Estamos aqui como convidados para mostrar que apoiamos essas manifestações e que isso é importante não só para eles, mas também para nós, que somos de outra cultura”, disse a historiadora Ivaneide Bandeira Cardoso.
Segundo o antropólogo Samuel Cruz, os Uru-Eu-Wau-Wau deixaram de fazer suas manifestações culturais por um bom tempo, mas agora estão retomando esta prática, valorizando sua própria cultura. “Isso com certeza terá reflexos também na relação deles com o território”, disse. Samuel destacou também a importância da festa no sentido de reunir os moradores das aldeias vizinhas, fortalecendo os laços parentescos.