Espigão do Oeste/RO – A garimpagem de diamantes na Reserva Indígena Roosevelt, localizada no município de Espigão do Oeste, a cerca de 500 quilômetros de Porto Velho, capital de Rondônia, foi paralisada. Pelo menos é isso que garantem os caciques da Tribo Cinta Larga, que há 30 dias expulsaram mais 270 garimpeiros do local. No dia 20 de maio os barracos também foram derrubados e o maquinário foi retirado da área.
Cerca de 2 mil índios habitam a Reserva Roosevelt, formada por 231 mil hectares. A destruição ambiental da área vem tomando proporções cada vez maiores. A Funai (Fundação Nacional do Índio) já elaborou um plano de recuperação da área degradada, mas o projeto só deverá ser colocado em prática depois que a situação da garimpagem ilegal for resolvida.
Funcionários da Funai acreditam que no mínimo 10 mil garimpeiros tenham estado no local nos últimos seis anos. Somente no trecho conhecido como Baixão, a área garimpada já ultrapassa 10 km de extensão.
A terra dos Cinta Larga já foi palco também de vários conflitos entre índios e garimpeiros. Há dois anos, 29 corpos de garimpeiros foram retirados da área em uma única operação policial. Funcionários da Funai acreditam, porém, que no mínimo 100 já teriam sido assassinados dentro da reserva.
Negociação
Os caciques João Bravo, Alfredo, Uita e Tataré afirmaram que decidiram fechar o garimpo, na tentativa de negociar com o Governo Federal a legalização da garimpagem. Eles não informaram, no entanto, por quanto tempo vão aguardar uma posição das autoridades. “O fechamento do garimpo representa prejuízo para nós, mas vamos mantê-lo fechado para que as autoridades confiem em nossa palavra”, disse Tataré.
O desejo dos índios é de que a garimpagem seja feita apenas por eles, sem a participação de homens brancos. “Homem branco traz muitos problemas aos índios”, disse João Bravo.
Estupros
Mesmo afirmando que querem usar as riquezas encontradas em suas terras para melhorar a vida de quem vive na reserva, os índios reclamam que até agora o garimpo só trouxe problemas ao Povo Cinta Larga. O cacique Uita afirmou que houve inclusive casos de garimpeiros que estupraram crianças indígenas. “Houve vários estupros. A gente não fala, porque ninguém acredita em nós”, reclamou.
Quanto ao assassinato de garimpeiros, Uita disse que foram praticados por índios de aldeias distantes da área do garimpo. “Isso aí não foi feito por gente daqui. Nós vamos proibir até a entrada de vários parentes que vem de fora fazer besteira aqui dentro”, disse.
Fiscalização
Além da fiscalização que é feita pelos índios, a Polícia Federal e a Polícia Militar mantém barreiras nas principais entradas do garimpo. Homens da Funai e da Polícia Ambiental também permanecem na reserva.
O delegado Rodrigo Carvalho, disse que a Polícia Federal mantém seis bases de fiscalização do garimpo, mas que muitas máquinas, equipamentos e garimpeiros acabam conseguindo entrar na área por caminhos alternativos, usando inclusive propriedades rurais particulares. “As vezes conseguimos deter esse pessoal, mas outras vezes não”, disse.
Quanto ao estupro de crianças indígenas dentro da reserva, o delegado disse que a Polícia Federal ainda não foi informada sobre o assunto.