Por Moisés Selva Santiago
Outra vez. Hoje não será diferente. Mais uma vez um dia será somado ao calendário. Com exceção do festivo fevereiro, todos os demais meses só chegam a 31 dias. E sempre um a um. Alguém resolveu juntá-los em 365 e deram o nome de ano. A gente tem essa mania de dar nome a tudo. Desde o Éden.
Nesta ininterrupta marcha diária, o trecentésimo sexagésimo quinto dia usa fantasia. Se traveste de diferente e desfila numa passarela imaginária, arrancando de tanta gente lágrima de saudade, dor pelo luto, e desespero por tantas perdas causadas pelas tempestades da Natureza e do desgoverno político.
Ao desfilar, as 24 horas do 365º dia também causam sorriso de gratidão, oportunidade de reencontro e novos planos para o dia 1 que inevitavelmente virá. Há quem também desfile de roupa nova, erga brindes, participe de adoração em templos e terreiros. Ou fique sozinho. Alguns até com fome.
O calendário sorri de todos nós, de tudo isso! Sim, porque depois virá o dia 2 e passará janeiro e chegará outro 31 de dezembro. Com ou sem a gente. E num planeta arredondado, com tantos fusos horários, neste exato momento já é amanhã em tanta parte, enquanto essas letras são lidas.
Damos o nome de tempo a essa areia que descontroladamente escapa da mão. Cada grão que cai nos torna mais frágeis. O tempo não tem sentimentos; por isso, não se importa conosco, tampouco com o que desejamos. A prova disto está na sequência de tantos números que voam do relógio da vida.
Mas, enquanto o calendário é eternamente preso à rotina, as pessoas são livres. Quando decidimos, damos um novo rumo a cada dia. Agimos pelo bem-estar nosso, de quem nos cerca e de quem precisa de ajuda. Recolhemos os grãos de areia e os misturamos à fé, amor e solidariedade, construindo cada dia, semana, mês e ano.
Imagine que todas as noites podem ser um réveillon! Que cada amanhecer não é somente um número no tempo, mas a oportunidade de vivermos melhor. No amor a Deus, a si mesmo e ao próximo, como ensinou Jesus. Na construção de uma democracia que respeita o povo, num estado democrático de direito.
Entanto, se continuarmos culpando o tempo e dando nomes agradáveis e justificativas às nossas idiossincrasias, egoísmos e intolerâncias com o próximo, todos os dias do novo ano serão terrivelmente iguais. Repetiremos insucessos, injustiças, reclamações e amarguras. E sem percebermos, o tempo marchará. Outra vez.