A bacia Amazônica, possuindo a maior extensão de floresta quente e úmida do Globo, ocupa quase a metade do Território Brasileiro.
Os sistemas de circulação atmosférica, que atuam diretamente, exercem importante papel na variação de composições climáticas na Amazônia, no tempo e no espaço.
No setor oriental da Região sopram, periodicamente, ventos de E a NE do anticiclone subtropical semi-fixo do Atlântico Sul e do anticiclone subtropical semi-fixo dos Açores. Em virtude de possuírem uma subsistência superior e conseqüente inversão de temperaturas, tais ventos são acompanhados de tempo estável. No setor ocidental predomina a massa de ar equatorial (m Ec), formada pela convecção termodinâmica dos ventos de NE do anticiclone dos Açores e da convergência intertropical (CIT). Esta massa de ar, pela sua forte umidade específica e ausência de subsidência superior, está freqüentemente, sujeita a instalabilidades causadoras de chuvas abundantes. Sendo caracterizada por uma vasta planura situada próxima ao nível do mar e cortada de um extremo a outro pelo paralelo do equador, a Região possui clima quente.
As áreas serranas da fronteira setentrional e da chapada dos Parecis em Rondônia (pela altitude bem acima da planura regional) possuem temperatura média anual inferior a 24º C. Neste aspecto o que bem caracteriza esta Região são temperaturas que variam de 24 a 26º C.
Convém observar que durante o inverno toda zona meridional da Região, especialmente o setor sudoeste (Rondônia, Acre e parte do Amazonas) é freqüentemente invadido por tais anticiclones de origem polar, após transpor a cordilheira dos Andes, ao sul do Chile. Alguns são excepcionalmente poderosos e provocam o chamado fenômeno da friagem, caracterizada por forte umidade específica e relativa, acompanhada de chuvas frontais e sucedidas por tempo bom e extraordinária queda de temperatura que atinge a mínima como aquelas citadas.
Além da direção predominante do vento e de sua velocidade, os fatores locais que governam o curso diurno da temperatura são a topografia, a altitude, a natureza do solo e a nebulosidade. No caso da Região a topografia e a altitude baixa favorecem o aumento da amplitude diurna, entretanto a natureza do solo, profundo e coberto pela vegetação pujante da selva, e a notável rede de rios largos, além da forte nebulosidade durante todo o ano agem em sentido contrário. É bem verdade que na Amazônia predominam calmarias, porém o ar está diariamente muito carregado de umidade. Por esses motivos a amplitude térmica diurna na Amazônia é um pouco inferior às registradas em outras regiões da zona equatorial.
Se em relação à temperatura, a Região apresenta certa homogeneidade espacial e estacional, ou seja, pouca variedade térmica ao longo de seu território e uma variação estacional pouco significativa, o mesmo não acontece em relação à pluviosidade.
Em virtude dos sistemas de circulação atmosférica a Região Amazônica constitui-se no domínio climático mais pluvioso do Brasil. Há uma área ou um corredor menos chuvoso, de orientação NW-SE, em Roraima que apresenta um total com cerca de 1.400 a 1.800 mm. Em linhas gerais levando-se em conta o regime de temperatura, toda a Região possui clima quente, uma vez que todos os meses se mantêm com temperatura média superior a 22º C.
Estima-se que a Amazônia, recebe no limite superior da atmosfera um máximo de 875 cal.cm-2.d-1, entre janeiro a dezembro e um mínimo de 730 cal.cm-2.d-1 em junho e julho, sendo que 50 % dessa quantidade chegam à superfície. Devido ao regime de temperatura, toda a região Norte do Brasil, na qual estão contida 70 % da bacia Amazônica, possui domínio climático quente, sendo que os principais subdomínios climáticos, o super úmido e o úmido. O super-úmido domina a porção Oeste da bacia, grosseiramente a parte de Manaus, onde o tipo climático é o equatorial, já na posição Leste da bacia a partir de Manaus, domina o úmido, com tipo climático tropical.
A distribuição de precipitação na bacia é sensivelmente menos uniforme. O movimento meridional do Sol entre os paralelos 23o27’ cruzando a linha do Equador duas vezes por ano em intervalos de seis meses conjuntamente com a fonte de água e ar quente que é o Oceano Atlântico, são os principais fatores que determinam os padrões de clima e conseqüentemente a pluviosidade da região Amazônica. A quantidade média de vapor de água armazenado na atmosfera (água precipitável) é da ordem de 35 mm, enquanto a media mundial é de 28 mm, conferindo à região condições isotérmicas, com alta pluviosidade. A pluviosidade anual é maior na costa Norte com valores acima de 3.250 mm, sendo que esse valor decresce em direção a Amazônia Central atingindo um mínimo de 1.750 mm., a partir da Amazônia Central, a quantidade anual de precipitação começa a aumentar, desta feita em direções Nordeste e Sudeste. Na direção Nordeste, encontraram-se os maiores índices, ficando em torno de 3.500 mm e a Sudeste, esses valores são menores alcançando 2.250 a 2.500 mm. Porem, esses índices pode chegar a 5.000 mm.ano-1, na região Andina.
Se considerarmos a bacia como um todo, 48% da precipitação (2.379 mm.ano-1) é evapotranspirado e 52 % é escoado pelo rio Amazonas. Podemos estimar ainda, que pela precipitação, a bacia recebe 11,87.1012 m3.ano-1 e, através da descarga do rio Amazonas, deixa o sistema 5,44.1012 m3.ano-1. Assim, a Amazônia pode ser caracterizada, por altas temperaturas com baixas amplitudes térmicas onde predomina o clima quente e úmido; precipitação bastante elevada durante o ano, em media 2.200 mm, e com uma ciclagem interna de vapor de água bastante intensa, onde a massa total desse vapor, é constituída de 50 % de vapor d’água de origem marinha (Oceano Atlântico) e 50 % originário da própria bacia, através da evapotranspiração.
Sergio Roberto Bulcão Bringel
Químico, doutor em Agronomia na área de Concentração de Solos e Nutrição de Plantas. Especialista em Hidrogeoquímica da Amazônica.
Pesquisador da Coordenação de Pesquisa em Clima e Recursos Hídricos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA/CPCRH; Professor da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas-UEA/EST; Consultor da Fundação de Ampara a Pesquisas do Estado do Amazonas-FAPEAM; Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Amazonas – CERH-AM
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