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quarta-feira, dezembro 18, 2024

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Bolsonaro quer se afastar de aliados radicais, mas sem ruptura

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BRASÍLIA, DF – Na tentativa de evitar derrotas no Parlamento, o presidente Jair Bolsonaro pretende fazer mais trocas nas vice-lideranças do governo no Congresso e se afastar cada vez mais do núcleo considerado radical do bolsonarismo.

Nesta quarta (22), o presidente destituiu a deputada Bia Kicis (PSL-DF) do cargo de vice-líder do governo no Congresso. Ela votou contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) que tornou permanente o Fundeb, contrariando a orientação de Bolsonaro.

A ideia, segundo auxiliares palacianos, é trocar outros nomes que não votam tão alinhados ao Planalto ou que não defendem o presidente publicamente. E ampliar o espaço do centrão nessas funções.

Além da visibilidade, os postos de vice-líder são importantes porque constituem a linha de frente da articulação do Planalto com os parlamentares.

Em paralelo, com o baixo crescimento econômico e a perda de apoio nas redes sociais, fatores avaliados como preocupantes para a campanha eleitoral, Bolsonaro abandonou a postura agressiva e tem se afastado de aliados de primeira hora, identificados com o núcleo ideológico.

A avaliação do presidente, manifestada por assessores, é que o discurso incisivo de assessores e deputados olavistas, ligados ao escritor Olavo de Carvalho, tem atrapalhado a pauta governista e gerado ruídos com o Legislativo.

Apesar de ter se afastado do grupo ideológico, o presidente não pretende romper com ele ou esvaziar radicalmente seu espaço no governo.”

O movimento começou quando o presidente foi convencido da necessidade de acelerar a aprovação de medidas com potencial eleitoral, como a reforma tributária e o Renda Brasil.

Desde abril, Bolsonaro começou a esboçar mudanças na máquina pública para acomodar indicados do centrão, em cargos de segundo escalão e lideranças do governo, e passou a priorizar os conselhos da cúpula militar e do núcleo econômico.

O presidente tem, por exemplo, levado mais em consideração a opinião dos ministros Paulo Guedes (Economia), Fernando Azevedo (Defesa) e Fábio Faria (Comunicações).

O Planalto também espera poder dar um novo aceno ao centrão, caso o atual presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), José Múcio Monteiro, antecipe sua aposentadoria. Múcio avalia essa possibilidade e, como a indicação da vaga eventualmente deixada por ele cabe ao presidente da República, Bolsonaro poderia escolher um parlamentar ligado ao bloco.

Com a irritação do presidente com deputados federais do PSL que votaram contra a renovação do Fundeb, uma parcela da sigla tem avaliado desistir de se filiar ao Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta viabilizar para 2022.

Um dos caminhos cogitado é o PTB, de Roberto Jefferson. “Eu estou de coração e portas abertas para receber todos eles”, disse Jefferson à reportagem.

Em outra frente, o presidente tem tentado melhorar a articulação política do governo. Os principais atores da negociação com o Parlamento tanto no governo como no Legislativo, porém, batem cabeça e culpam uns aos outros.

Integrantes do centrão, como PP, Republicanos e PL, reclamam do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e dizem que de nada adianta trocar líderes e vice-líderes se não mudar o ministro.

Já ministros reclamam do líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO), que pode ser substituído pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), ex-ministro da Saúde no governo Michel Temer (MDB).

Essa mudança, embora empolgue setores ligados ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não agrada muito a parlamentares do núcleo duro do centrão.

O líder informal do grupo, Arthur Lira (PP-AL), já teria feito inclusive chegar a Bolsonaro a informação de que defende a permanência de Hugo e que é contra a entrada de Barros.

A avaliação de aliados de Lira é que, se o correligionário assumir a liderança do governo, o deputado alagoano perderá protagonismo na articulação do governo.

Aliados de Vitor Hugo também rebatem a provável substituição dizendo que Bolsonaro replicou publicações do deputado em suas redes sociais, endossando o aliado.

Na noite desta quinta (23), o presidente voltou a prestigiar Vitor Hugo, que acompanhou do Palácio da Alvorada a live semanal do presidente.

Em tom de brincadeira, Bolsonaro se referiu às publicações da imprensa que indicam a insatisfação de auxiliares presidenciais com o desempenho do deputado. “Há pouco fiquei sabendo que ele [Vitor Hugo] tinha sido demitido da liderança”, ironizou.

Apesar da tentativa de buscar uma base no Congresso, o trabalho do centrão ainda não agradou uma ala do governo.

A equipe econômica critica Ramos e os parlamentares. Integrantes do time de Paulo Guedes reclamam que a Economia teve de ceder na votação do Fundeb para os anseios do Legislativo. A intenção do Planalto era vincular parte da verba do fundo a um programa de transferência de renda. A maioria do Congresso, no entanto, não cedeu.

Do outro lado, deputados bolsonaristas acusam os membros da pasta de Guedes de inábeis e dizem que, no caso do Fundeb, eles entraram tarde e com uma péssima proposta para negociar.

Na esteira das mudanças que pretende promover, Bolsonaro deve trocar vice-líderes do governo no Congresso e no Senado. Além da saída de Bia Kicis, o presidente já havia retirado da vice-liderança do governo na Câmara deputados que atacaram o STF (Supremo Tribunal Federal).

Parlamentares e integrantes do governo avaliam que há chances de substituições do deputado Pedro Lupion (DEM-PR), vice-líder do governo no Congresso, e de Izalci Lucas (PSDB-DF) e Elmano Ferrer (Podemos-PI), vice-líderes do governo no Senado.

A necessidade de mudanças é uma certeza por interlocutores ouvidos pela reportagem. Eles argumentam que Bolsonaro tem ampliado sua base no Congresso e que, portanto, será preciso abrir espaço para a nova composição de forças no Legislativo.

Procurado, o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), disse desconhecer conversas sobre trocas em sua equipe de vice-líderes no momento, mas destacou que a decisão sobre indicação dos postos é prerrogativa de Bolsonaro.

“É um cargo exclusivo do presidente da República e ele tem uma base muito ampla no Congresso, então é natural que possa fazer mudanças.” (Folhapress)

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