Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: A CIÊNCIA, A EDUCAÇÃO E OS TRANSPORTES…
O estado de Rondônia, infelizmente, demonstra forte tendência a um grau muito elevado de obtusidade, e este clima se fortalece com significativa contribuição de muitas autoridades e pessoas comuns que fingem não ver os problemas e vivem de fantasias, em diversos setores que certamente comprometem o desenvolvimento do estado. Entre as principais vítimas desse faz-de-conta administrativo está o setor de educação, costumeiramente prejudicado pela negligência, omissão ou incompetência de autoridades municipais, estaduais e federais cujas atribuições constitucionais são estabelecidas claramente no ordenamento jurídico do país, mas muitas vezes ignoradas pelas próprias autoridades. No mesmo ritmo, diversos setores da sociedade ajudam esconder os graves problemas ocorridos no estado. Recentemente, Cacoal recebeu a visita de diversas autoridades estaduais que estiveram presentes em Nossa Urbe Obediana sob o pretexto de participar de uma solenidade referente ao “início do ano letivo” na Capital do Café e das pontes inacabadas. Como sempre ocorre em Cacoal, houve cultos religiosos, bajulação aos políticos, tapinhas nas costas, ósculos e amplexos, mas pouca coisa foi dita sobre a educação…
Antes de entrar em outras particularidades, é necessário salientar que o governo Marcos Rocha tem investido em alguns setores da educação. O fato de ser opositor do governo, não me impede de reconhecer que as escolas ganharam algumas carteiras novas, aparelhos de ar-condicionado, pinturas e outras coisas básicas que qualquer escola precisa ter. Há quem diga até que Marcos Rocha é o “governador que mais investiu na educação”, embora eu não tenha nenhuma condição de concordar com esse pensamento, por razões absolutamente lógicas. O governador que mais investiu na educação de Rondônia, sem nenhuma sombra de dúvida, foi Jorge Teixeira e são excessivas as provas deste fato. Praticamente metade das escolas em funcionamento no estado foram construídas pelo Teixeirão e isto pode ser constatado com extrema facilidade. O fato de a SEDUC entregar computadores aos professores é tão básico como o Exército Brasileiro entregar um par de coturnos para um conscrito ou como um fazendeiro ceder ao caseiro um cavalo para os trabalhos diários. Fazer educação, porém, vai muito além de distribuir mimos, em parceria com o MEC, e organizar uma plateia para bater palmas e ouvir discursos de líderes religiosos que não têm absolutamente nada a ver com a educação. É preciso tratar a educação com mais seriedade…
Caso Jorge Teixeira ainda estivesse no cargo, com certeza, os estudantes do Ensino Médio que residem nos bairros Alfa Park, São Marcos, Paineiras e adjacências não sofreriam, há anos, com a falta de uma escola que atenda as demandas desses bairros. Nos últimos anos, diversas medidas adotadas pela Seduc, em relação ao município de Cacoal, serviram apenas para dificultar a vidas de quem estuda, e isso é visível. A escola Josino Brito, palco dos cultos religiosos na solenidade de início do ano letivo, foi transformada em uma escola com o sistema dito “integral”. Essa medida fechou as portas para os alunos dos bairros já citados, porque muitos deles trabalham pela manhã ou à tarde e não podem ficar o dia todo na escola. A medida poderia muito bem ser aplicada na escola onde funciona o CEEJA, exatamente, porque o ensino integral deve ser uma escolha das famílias e não uma imposição. No aspecto geográfico, é muito ruim a vida de um estudante que precisa atravessar a cidade inteira para estudar no CEEJA, porque a escola perto do seu bairro possui um modelo educacional que lhe tira a possibilidade de frequentar a escola mais próxima. E não se trata de condenar o modelo educacional instalado na escola Josino Brito. A questão é a Geografia…
A SEDUC não pensou na ciência, quando fez essas mudanças, pensou apenas em palanque político. Isso é um grande equívoco. E tudo isso acontece com as palminhas dos deputados e vereadores que adoram pedir votos nos bairros distantes do centro da cidade, mas fazem questão de fechar os olhos sobre os problemas das escolas, da educação e dos estudantes. Durante aquele palanque montado na escola Josino Brito, onde estavam o secretário municipal de educação de Cacoal e a secretária de educação de Rondônia, ninguém falou que quase 1.500 estudantes estão sendo prejudicados pela falta de transporte escolar, desde o início do ano letivo. E por diversas vezes a secretaria de educação de Cacoal já tentou colocar a culpa no Tribunal de Contas, Ministério Público, empresas de transporte, Câmara de Cacoal, no comunismo, no presidente da Rússia e até no terremoto da Turquia, numa clara tentativa de fugir da responsabilidade. Os problemas de falta de transporte para todos esses estudantes ocorrem pela visível incompetência da secretaria de educação de Cacoal, pela tiflose dos deputados e vereadores e porque provavelmente o Ministério Público não está sabendo da quantidade de alunos que hoje sofrem pela falta de transporte.
E não vale o argumento fajuto de que “os ônibus contratados pela administração municipal não têm obrigações com alunos de escolas estaduais”. Esse argumento é ridículo!! Esse argumento é criminoso!! É um argumento asqueroso! Os estudantes de escolas estaduais e municipais são filhos de famílias que pagam impostos em Cacoal. Deixar esses alunos abandonados para frequentar as aulas, usando transporte de motos e carros de aplicativo, é uma conduta absolutamente covarde e não combina em nada com os discursos religiosos feitos no palanque montado na escola Josino Brito. As escolas representam um ambiente científico. É necessário abrir uma discussão sobre treinamento de professores, condições sociais dos estudantes, aspectos geográficos do município e outras particularidades. E para não esquecer os fortes investimentos que Jorge Teixeira fez na educação de Rondônia, vale ressaltar que ele jamais aceitaria ver as famílias rondonienses pagando quase 1.500 reais num “kit escolar” para ter o direito de estudar numa escola pública. O ensino nas escolas públicas deve ser gratuito e universal. Os políticos e outras autoridades que acham bonitinho ver os alunos vestidos de militares, pagando valores absurdos pelos uniformes, deveriam acordar para a realidade.
Os alunos que andam vestidos de militares, e cujas famílias pagam muito caro por isso, são exatamente iguais aos alunos que usam a camiseta branca com a bandeirinha de Rondônia no peito. Qualquer pessoa que imaginar que os alunos são diferentes não possui nenhum interesse pela ciência e vê a educação apenas como palanque eleitoral de políticos medíocres… Tenho dito!!!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e jornalista