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quinta-feira, dezembro 19, 2024

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Cacoal: As Eleições, os Clichês, as Sereias e os Adágios…

Os eleitores de Cacoal certamente já estão muito habituados com campanhas eleitorais, conquanto muitos ainda se deixem levar pelo canto da sereia, ou das sereias, ou dos tritões. Muito se ouve falar de mudanças, de novidades, de renovação, de fazer diferente… Mas os problemas são os mesmos, os eleitores são os mesmos, os  chavões são os mesmos, os adágios são os mesmos e as condutas são as mesmas. As situações são tão semelhantes que pessoas novas entram em partidos velhos, conhecidos pela prática da corrupção, porém pregam a mudança e a realização de atos e fatos cujo ineditismo cabe apenas na cabeça dos eleitores que não conhecem a história de Ulisses e não procuram conhecer…

Como sou amante da Literatura, preciso contar (ou lembrar) rapidamente aos meus leitores e aos eleitores cacoalenses que Ulisses foi a principal personagem de Homero, na indiscutível obra Odisseia, escrita há mais de 3 mil anos. Ulisses se juntou a outros gregos para derrotar Troia e após vencer a guerra, viveu muitas aventuras quando voltou para Ítaca, porque precisou passar perto da ilha de Capri, ao navegar pelo Mediterrâneo. A ilha de Capri era cheia de muitas sereias que, com seu canto, atraiam as pessoas dos navios a se jogarem ao mar e morrer. Assim surge a história de dizer que alguém “caiu no canto da sereia”. Obviamente que a história de Ulisses não pode ser resumida a um parágrafo, mas meu leitor já sabe que para passar pela ilha de Capri, Ulisses colocou uma cera no ouvido de cada marinheiro. Depois, Ulisses determinou aos marinheiros que o amarrassem ao mastro do navio e somente o soltassem quando chegassem ao destino. Como Ulisses não tinha cera nos ouvidos, ele tentou de todas as formas se soltar do mastro, ao ouvir o canto das sereias, mas seus marinheiros não o soltaram. Ulisses foi salvo, porque ele não tinha cera nos ouvidos, mas os marinheiros tinham e, felizmente, não ouviram seus gritos pedindo para ser solto do mastro, quando as sereias começaram a cantar…

No caso das eleições, a quantidade de sereias é muito maior do que a quantidade existente na ilha de Capri. Metaforicamente, o canto das sereias é representado pelos slogans, clichês e chavões, inclusive alguns bíblicos, usados à exaustão pelas sereias e pelos tritões. Todos os eleitores já ouviram e leram em campanhas frases do tipo: “A educação em primeiro lugar”; “O legítimo homem do campo”; “Saúde para todos”; “Muda, Cacoal”; “Renovação já”; “Agora o esporte tem vez”; “A força da mulher”; “Cacoal não pode parar”; “Pioneirismo em ação”; “O vereador da saúde”; “O trabalho continua”;  “Juntos somos mais fortes”; “Chegou a vez do agricultor”; “Irmão e amigo”; “Jesus é Fiel”; “Trabalho e honestidade”; “O futuro começa agora”; “Juventude e trabalho” ; “Com a força do povo”; “Dignidade e ação”;  “Agora é a vez do povo”; “O trabalho não pode parar” e muitas outras… Há os políticos mais hipócritas e que preferem retirar da bíblia o canto da sereia ou tritão, para usar em campanha, como fez Olavo Pires, em 1990, quando pregava “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”; assim como fez Bolsonaro em 2018, quando pregava o “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”… Claro que não podem faltar os candidatos poucos ortodoxos, como Gabriela Leite, que usou, em 2010, o slogan: “Gabriela Leite, uma puta deputada” e Tiririca que apareceu no mesmo ano  com o slogan: “Tiririca, pior que tá não fica”. Quem conhece a história de Gabriela Leite sabe muito bem por que ela usou a frase; já, no caso de Tiririca…

Agora, meu leitor, puxe a cadeira e sente! Você precisa saber que, assim como existe o canto da sereia (os slogans), também existe a cera de Ulisses (os adágios populares). Então, não custa nada lembrar que: “Quando a esmola é muita, o santo desconfia”; “Cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça”; “O povo tem o governo que merece”; “É melhor andar sozinho do que mal acompanhado”; “Em casa de ferreiro o espeto é de pau”; “Cão que ladra não morde”; e muitos outros… Caso os eleitores de Cacoal não consigam lembrar dos adágios, ou não tenham a cera de Ulisses, certamente irão lembrar, após as eleições, que o Grande Machado de Assis dizia, mais de 200 anos atrás, que  “o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo nas mãos”. Hoje, em Rondônia, existem muitos políticos apreciando o chicote à Machado de Assis. Se alguém perguntar aos dois filósofos da honestidade a situação atual do país, do estado ou de Cacoal, eles certamente dirão que, nas últimas eleições, muitos eleitores “caíram no conto do vigário”; ou no “conto dos pastores”; ou no “conto dos rabinos”; ou no “conto dos pais-de-santo”… Resta saber se os cacoalenses irão às urnas este ano para agir como Ulisses e tentar chegar à ilha de Ítaca; ou se querem ficar mais quatro anos passando pela ilha de Capri… Tenho dito!!!!

FRANCISCO XAVIER GOMESProfessor da Rede Estadual e Articulista

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