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quinta-feira, dezembro 19, 2024

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CACOAL: LÁBAROS, ARMAS, ÓSCULOS E AMPLEXOS…

Por FRANCISCO XAVIER GOMES

 

O dramaturgo inglês William Shakespeare, que viveu na segunda metade do século XVI, e parte do século XVII, declarou, certa feita, que “guardar mágoas é como beber veneno e torcer para que a outra pessoa morra”. Obviamente o célebre inglês não teve oportunidade de conhecer o cenário brasileiro que se desenha para o pós-dois-de-outubro, mas suas reflexões se materializam a cada dia em que nos aproximamos da pior ressaca eleitoral que a nação brasileira viverá, não se sabe por quanto tempo, dado o clima que se instalou no país. Embora muitos brasileiros façam discursos em favor da paz eleitoral, enquanto outros ostentam orgulhosamente o lábaro nacional, a tendência é a beligerância social em todos os rincões da pátria. Não é possível afirmar, com a mesma segurança do Datafolha, quantas gerações serão afetadas, porém há uma certeza incontestável: as coisas serão muito complicadas, principalmente em estados como Roraima e Rondônia…

Hoje é fato muito natural ver pessoas carregando a bandeira brasileira, como símbolo de patriotismo, mas não se pode perder de vista o fato de que o brasileiro é muito sazonal, quando se trata de escolhas políticas e de amor ao próximo. A situação pode mudar radicalmente, caso as quimeras do neofascismo tenham que recolher suas flâmulas. É possível até que o modismo de ostentar a bandeira tenha fôlego antes do encerramento da Copa do Mundo, mas os ósculos e amplexos terão dado lugar para milhares de armas que nem o Exército Brasileiro tem mais o controle de quantas foram distribuídas, nesse clima onde o feijão e arroz foram violentamente substituídos por atos inconsequentes da Caneta Bic de 2019. Muitos conceitos foram distorcidos, em nome do fanatismo, e outros tantos foram negligenciados ou banalizados pela constante desinformação que contagiou a plebe ignara. Difícil será controlar os ânimos daqueles que tomaram o porre da dissimulação e do óleo de peroba…

Uma rápida visita ao portal do Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia mostra como há contradições e equívocos naquilo que se prega. Centenas de candidatos que fazem discursos dizendo que são “defensores da família” ostentam o status de “divorciados” nos perfis oficiais que a Justiça Eleitoral revela e que são solenemente ignorados por quem se recusa a conhecer o perfil daqueles que se apresentam como postulantes a defender os interesses da sociedade. Não que haja nenhuma intenção de demonizar o divórcio, porque é um instituto democrático, embora não combine, nem um pouco, com o “conservadorismo” obediano ou rondoniense. E o que dizer dos candidatos que declaram ser “empresários” à Justiça Eleitoral, mas não possuem “um cipó para dar num gato”, como dizem os guaporeanos? Estranho, não? Talvez fosse interessante a Caixa Econômica implementar um programa habitacional pós-campanha e comprar todas as casas declaradas pelos candidatos, com valores entre 30 e 50 mil reais, localizadas em lugares nobilíssimos de Porto – Velho, Ariquemes, Jipa, Cacoal, Vilhena… Daria para abrigar todas as famílias contempladas com as casinhas do Vale Verde de Cacoal…

O problema é que a realidade será bem diferente, depois da eleição. O sentimento de mágoa que Shakespeare previra, mais de 400 anos atrás, infelizmente, dará o tom do convívio social. A aparente paz do período de campanha, as bandeiras do Brasil e liberdade tão propalada pelo neofascismo ofuscarão duramente os ósculos e amplexos. E não se pode descartar a possibilidade de ver todas as armas que o Exército Brasileiro permitiu, sem nenhum critério, chegarem a incontáveis lares dos “cidadãos de bem” caírem nas mãos de pessoas sem nenhuma preocupação com a paz que o Brasil precisa… Nem Sobral e Três Lagoas, tão pacificadas e unificadas por Ciro Gomes e Simone Tebet, durante a  campanha, escaparão da mágoa e do veneno shakespearianos do século XVI. Alimentar a ilusão de que tudo ficará bem, após da primeira semana de outubro, ou talvez da primeira semana de novembro, é fechar os olhos para o sentimento que dará vez ao negacionismo…

O velho ACM afirmou, um dia, que o Brasil necessitaria de mais 150 anos para ser depurado politicamente, mas tudo indica que ele se enganou redondamente. A esperança, agora, é que esses 150 anos comecem a ser contatados logo depois dos 300 anos necessários para trazer de volta os ósculos e amplexos que reinaram triunfantes até setembro de 2018. Passados esses anos, quem sabe seja possível tentar implantar o niilismo, mas esta será uma tarefa das mais árduas… Tenho dito!!!

FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Jornalista

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