O episódio envolvendo o senador licenciado Cid Gomes no Ceará – baleado ao investir, com uma retroescavadeira, contra policiais que faziam uma paralisação – revelou o extremo da tensão entre funcionários das forças de segurança pública e o governo.
Outros casos de violência envolvendo uma possível greve de policiais ocorreram no estado. Nesta quinta-feira (20), um policial foi detido no Crato, suspeito de atear fogo em um carro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, o ataque teria sido motivada por críticas que a dona do veículo fez à paralisação da categoria. As informações são do jornal “O Povo”.
Não são somente os policiais cearenses, entretanto, que estão em conflito com o governo estadual (veja os detalhes da situação em cada estado abaixo). De acordo com a Associação Nacional de Entidades Representativas de Policiais Militares e Bombeiros Militares (Anermb), ao menos outros dois estados têm situação crítica na relação entre os policiais e o Executivo: a Paraíba e o Espírito Santo.
“Esperamos que, tanto na Paraíba quanto no Espírito Santo, o governo abra um diálogo maior com a categoria, para que a situação não chegue ao ponto do que ocorreu no Ceará”, disse o sargento Leonel Lucas, presidente da Anermb, em entrevista à Gazeta do Povo.
Segundo ele, nesses estados, os governos não vêm negociando com a categoria de forma adequada. Um exemplo de boa condução da situação, de acordo com o sargento, é o estado de Minas Gerais. “O governo dialogou muito bem e chegou a um bom termo com a tropa”, afirmou.
O estado, governado por Romeu Zema (Novo), concedeu reajuste de 41,47% a policiais militares e bombeiros, escalonados até 2022. Durante a tramitação na Assembleia Legislativa, o reajuste foi estendido para o funcionalismo de todos os poderes.
Em outros estados, policiais fazem reivindicações, mas situação está controlada. Ainda de acordo com o presidente da Anermb, outros estados também têm policiais insatisfeitos e se organizando para fazer reivindicações ao governo. Por enquanto, Alagoas, Pernambuco e Piauí estão nessa situação.
“Não podemos ter governantes surdos. O governo do Ceará não dialogou. O que tivemos foi um senador da República dando um mau exemplo e houve uma reação. Não achamos que foi certo ter ocorrido o tiro, mas o que ele fez também não foi correto”, opinou o sargento.
Veja os detalhes das manifestações dos policiais em cada estado:
Paraíba
Policiais militares, civis e bombeiros do estado fizeram uma paralisação na quarta-feira (19), entre as 12h e a 0h de quinta-feira (20). A categoria negocia com o governo a incorporação de uma bolsa de desempenho ao salário, além de um reajuste na remuneração. A proposta do Executivo é de incorporar 30% da bolsa aos salários em um período de 60 meses, além de conceder 5% de reajuste em outubro. A reivindicação da categoria é de que 100% da bolsa seja incorporada em 36 meses, e de um reajuste de 24% em dois anos.
Também na quarta-feira (19), seis viaturas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros tiveram os pneus furados antes do desfile de um bloco de Carnaval, em João Pessoa. O relato de um dos PMs é de que um grupo de vinte policiais encapuzados fizeram a abordagem e danificaram os pneus.
A paralisação foi considerada ilegal pelo desembargador Leandro Santos, do Tribunal de Justiça da Paraíba. A decisão do magistrado se estende à possível deflagração de uma greve. Se a liminar for descumprida, o Fórum das Entidades das Polícias Civil, Militar e Bombeiros terá de pagar uma multa de R$ 500 mil por dia.
Espírito Santo
Na semana passada, policiais militares, civis e bombeiros fizeram um ato em Vitória, capital do estado, pedindo reajuste salarial. Após o ato, o governo recebeu representantes da categoria, mas não houve acordo.
Diante da possibilidade de novas manifestações, o Ministério Público do Espírito Santo fez um alerta a associações e sindicatos, informando que os policiais não devem realizar atos que violem a ordem pública.
As reivindicações dos policiais vêm pouco depois de horas de terror no Espírito Santo. No dia 14 de fevereiro, Vitória teve uma série de ataques de criminosos em avenidas importantes da cidade. De acordo com a Polícia Militar, as ações são uma resposta dos grupos à ocupação do Complexo da Penha pela corporação.
Alagoas
Em Alagoas, policiais civis fazem uma paralisação desde segunda-feira (17), reivindicando reajuste de salários. O movimento está previsto para terminar na sexta-feira (21), às 8h. Buscando solucionar o impasse, o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) decidiu intermediar as negociações entre o Sindicato de Policiais Civis (Sindpol-AL) e o governo.
Pernambuco
Na terça-feira (18), após uma reunião entre representantes dos policiais civis e do governo estadual, a categoria decidiu não paralisar as atividades até o dia 11 de março. Nessa data, ficou marcada uma reunião para que o Executivo apresente uma proposta de melhoria no plano de carreira e de reajuste salarial dos policiais.
“Estamos dando esse voto de confiança ao governo do estado e não vamos paralisar no Carnaval”, disse o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol), Áureo Cisneiros, ao Jornal do Commercio.
Piauí
Após um protesto de policiais na terça-feira (18), o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), assinou um decreto garantindo o pagamento de diárias e horas extras por operações planejadas. A medida deve beneficiar os policiais no Carnaval, já que, no período, os profissionais trabalham além da jornada normal. (Fonte: Por Giulia Fontes – Gazeta do Povo)