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sábado, dezembro 21, 2024

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Ceplac: 65 anos de pesquisa e tecnologia para o cacau brasileiro

O trabalho da Comissão contribui para o Brasil produzir cacau de qualidade e se tornar autossuficiente até 2025. Bahia é, atualmente, o maior produtor de cacau do país. Destacam-se também os estados do Espírito Santo e Rondônia, 3º e 4º maiores produtores nacionais.
Cacau no Extremo Sul da Bahia. Foto: Arquivo/Ceplac
Cacau no Pará. Foto: Arquivo/Ceplac
Cacau no Cerrado. Foto: Arquivo/Ceplac
Cacau Clonal. Foto: Arquivo/Ceplac
Amêndoas de cacau. Foto: Arquivo/Ceplac
Laboratório da Ceplac. Foto: Arquivo/Ceplac
Pulgão polinizando flor de cacau. Foto: Arquivo/Ceplac
Há três anos, em uma área inicial de cultivo de bananas em Barreiras, na Bahia, o produtor Moisés Schmidt resolveu aumentar a capacidade produtiva do seu negócio e ingressar em um novo projeto com uma cultura incomum para o Cerrado do Oeste baiano: o cacau.

O produtor da terceira geração de uma família de agricultores já estabelecidos no Cerrado com soja, algodão e milho em áreas extensivas, resolveu, então, aplicar a tecnologia e mecanização das experiências prévias nos cacauais.

“A Ceplac forneceu as primeiras 10 mil mudas de cacau adaptado para uma região mais seca. Isso era 2013, quando o cacaual ocupava uma área de três hectares com o diferencial de terem sido plantadas onde já havia coco, pois naquela época a visão era a de que o cacau precisava de sombra e hoje estamos demonstrando o contrário”, contou Moisés, ao lembrar o começo da atividade cacaueira no Oeste baiano.

Mas para que houvesse essa expansão do cacau para áreas não tradicionais, abrangendo não apenas o Cerrado, como também a Caatinga, a espécie teve que ser adaptada para um solo mais seco do que os da Mata Atlântica e Floresta Amazônica, seus biomas de origem.

E foram as pesquisas realizadas pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) que permitiram com que os cacauais se fixassem no campo a pleno sol e com bons resultados de produtividade. Além de não terem a sombra da copa das árvores, os cacaueiros recebem água e fertilizantes pela irrigação a partir de pivô central, espaldeira ou gotejamento.

Atualmente, o grupo familiar Schmidt tem um viveiro, criado a partir daquelas primeiras mudas de cacau adaptadas pela Ceplac. No primeiro ano de atividade, em 2021, foram produzidas 140 mil mudas para suprir a demanda da região e a previsão é que em 2023 esse número alcance 1 milhão de mudas.

“E não é só produtividade, o cacau do Cerrado tem alto padrão de qualidade e gera um ecossistema ambiental e socialmente responsável. Temos as áreas extensivas bem como o cacau consorciado com a fruticultura em sistema agroflorestal”, acrescentou Moisés ao destacar que o plantio em Sistema Agroflorestal (SAF) ainda permite a recuperação de áreas degradadas e produção agrícola mais sustentável em harmonia com a natureza.

O cultivo de cacau pela família Schmidt só se tornou possível por causa dos 65 anos de trabalho de excelência desenvolvido pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Reconhecida como Instituição de Ciência e Tecnologia, a Ceplac, ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), realiza pesquisas e desenvolve tecnologias para a conservação de recursos genéticos e melhoramento do cacaueiro, incluindo a prevenção fitossanitária.

“A nova revolução cacaueira passa pela modernização dos modelos de produção e mecanização dos processos. Assim, escreveremos a nova história do cacau no Brasil”, destaca o diretor Ceplac, Waldeck Araújo, em comemoração ao aniversário da instituição, celebrado no dia 20 de fevereiro.

Recuperação para a autossuficiência

Apesar da recente expansão da cacauicultura para áreas não tradicionais, ainda existe no Brasil um déficit na produção de amêndoas de cacau para suprir a capacidade das indústrias processadoras aqui instaladas. O país, que, em meados da década de 1980, era o segundo maior produtor de cacau do mundo, foi rebaixado à condição de importador, após os cacauais (predominantemente do sul da Bahia) serem afetados pelo fungo vassoura-de-bruxa no auge de sua produção.

Segundo a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), a capacidade de moagem das indústrias na Bahia é de mais de 300 mil toneladas de amêndoas ao ano. Mas, a brusca queda de produção tornou as plantas industriais ociosas e a importação se tornou opção para que a cadeia não fosse ainda mais afetada.

O desafio de enfrentar a praga e retomar as posições pedidas no ranking mundial fez com que a Ceplac desenvolvesse clones (de plantas de cacau) com diferentes graus de resistência e com potencial de produtividade para encarar de frente a vassoura-de-bruxa.

São 4.767 acessos clonais e seminais na coleção de germoplasma de cacau, criada pela Comissão e considerada uma das maiores do mundo. Isso tudo para assegurar a conservação das bases genéticas que permitiram criar um programa de melhoramento genético para o cacau.

Além do controle genético, a vassoura-de-bruxa encontrou seu inimigo natural em outro fungo, o Trichoderma stromaticum, que está presente no primeiro bioinsumo desenvolvido para o controle da praga. O bioinsumo foi disponibilizado aos agricultores pela Ceplac e Mapa, agora, recebe a autorização para produção pela indústria e comercialização.

“Temos um agente antagônico disponibilizado aos produtores que representa 97% de eficiência no controle da vassoura-de-bruxa”, explica Waldeck Araújo.

As tecnologias de melhoramento do cacaueiro, de prevenção fitossanitária, juntamente com a expansão de novas áreas plantadas corroboram para a retomada da autossuficiência nacional.

A meta estabelecida pela Ceplac é atingir a autossuficiência do país na produção de cacau até 2025 com 300 mil toneladas por ano, e alcançar 400 mil toneladas até 2030, o que permitirá ampliar as exportações de cacau, derivados e chocolate, com potencial de elevar o Brasil para a terceira posição entre os maiores produtores de cacau no mundo.

Valorização do cacau fino

Mas não se trata apenas de incrementar a produção. Há também meta para se aumentar a qualidade das amêndoas de cacau fino ou especial de 3% para 10% do total de amêndoas produzidas. E os resultados já começaram.

Nas Olimpíadas do Japão, realizadas no ano passado, além da medalha entregue aos vencedores, os atletas ganhavam chocolate com a cara e o sabor do Brasil. A empresa japonesa utiliza exclusivamente amêndoas importadas do município paraense de Tomé-Açu para a produção de seus chocolates.

O chocolate comemorativo das Olimpíadas é do tipo Bean To Bar (da amêndoa a barra), fabricado de forma artesanal a partir de amêndoas de cacau da melhor qualidade. A produção é mais natural e aproveita melhor as propriedades desse insumo.

Isso os diferencia dos chocolates industrializados, que são produzidos, na maioria das vezes, a partir da massa de cacau.

É do estado do Pará também a amêndoa de cacau utilizada na receita da chocolateira vencedora do prêmio CNA Brasil Artesanal, além do cacau premiado na categoria prata da maior premiação de chocolate do mundo, Cocoa of Excellence Awards (Salão do Chocolate de Paris), de 2021.

O estado é, atualmente, o maior produtor de cacau do país e junto com a Bahia responde por cerca de 95% da produção nacional. Destacam-se também os estados do Espírito Santo e Rondônia, 3º e 4º maiores produtores nacionais.

E não é só em produção do cacau que o Brasil se destaca mundialmente. Os brasileiros representam o quinto maior mercado consumidor de chocolate do mundo. “Assim, o Brasil é um dos poucos países do mundo que possui em seu território nacional todos os elos da cadeia de suprimento do cacau. Produzimos o cacau, processamos a amêndoa, produzimos chocolate e temos um parque consumidor importante, o que permite o aumento do consumo e, consequentemente, aumento da produção nacional de cacau”, avalia Waldeck Araújo com entusiasmo.   (Fonte: Lara Aliano – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)

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