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COLUNA DO XAVIER – Cacoal: A Educação, a Política e o Ideb… (18/09/2020)

O estado de Rondônia parece predestinado para eleger esses políticos que possuem uma bazófia incomensurável e adoram sair falando de temas sobre os quais não possuem nenhum conhecimento. Esta semana, o governador Marcos Rocha gravou um vídeo para fazer uma “avaliação” sobre o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) que foi uma coisa absolutamente sofrível. Os dados divulgados esta semana são referentes ao ano de 2019, uma vez que as provas do IDEB são aplicadas em anos ímpares. No vídeo gravado pelo governador, o Secretário da Educação de Rondônia, como já é tradição, aparece como papagaio-de-pirata do governador, encarnando uma versão Hélio Negão do bolsonarismo, conquanto sejam bem diferentes as proporções.   As pessoas que conhecem os critérios e fatores adotados pelo IDEB para a aferição desses índices sabem que a realidade é muito diferente dos devaneios do governador e do suamismo exacerbado do secretário, porque a educação é uma coisa séria…

O governador do estado e o secretário gravaram o tal vídeo apenas para agradar a claque, mas em momento algum apresentaram números referentes ao desempenho das escolas do estado. Numa atitude sofismática, ou talvez por paralogismo, nas raras vezes em que falou de números, Marcos Rocha citou que Rondônia ocupa a oitava colocação no “ranking” dos estados. E o que isso significa? Absolutamente nada que justifique tamanho ufanismo! Apenas para fazer uma comparação, o Brasil é a oitava economia do mundo, mas não aparece na lista dos 20 países considerados os melhores lugares para se viver. Dizer que Rondônia virou o paraíso porque está em 8º lugar na lista do IDEB dos estados é jogar para a plateia. A educação em Rondônia tem regredido muito nesse governo e os motivos são claros. Segundo os principais analistas dos números do IDEB, entre os principais fatores para melhorar os índices, está a eleição de diretores de escolas, e outros dirigentes da educação, feita pela comunidade escolar e sem interferência politica. Logo após assumir o cargo de governador, a primeira coisa que Marcos Rocha fez foi acabar com a eleição de diretores. Desde 2011, quando começou esse processo de eleição de diretores, as escolas de Rondônia vinham crescendo nos índices do IDEB. Agora, houve regressão nos números…

A estrutura e funcionamento das escolas de Rondônia não pode sofrer interferência de deputados e outros políticos, porque isso prejudica a qualidade de ensino. Hoje praticamente todos os cargos de direção de escolas e coordenações regionais de ensino são controlados por deputados. Esse tipo de interferência é muito negativo. É muito curioso constatar que geralmente dirigentes das escolas escolhidos por políticos são sempre desqualificados, porque, para o politico, o que importa é manobrar alguém. Os deputados que controlam coordenadores de ensino ou diretores de escolas são tão tolos a ponto de pensar que diretores de escolas controlam votos de servidores. É preciso ser muito tolo para acreditar nisso!  Claro que existem diretores de escola que possuem liderança, mas eles são raros, muito raros, raríssimos!!! Se houvesse eleição hoje para diretores de escolas em Cacoal, talvez uns dois ou três diretores fossem eleitos, porque a imensa maioria não possui a menor condição de estar no cargo e não tem a aceitação dos professores e técnicos. Quem trabalha em escola sabe disso.  Já que falou do IDEB, por que o governador não fala da eleição de diretores?? Por que o governo não faz eleição para Coordenadores Regionais de Ensino?? Porque a educação de Rondônia tem sido controlada pelos deputados.

Além dos problemas estruturais das escolas, não se pode falar de IDEB, ignorando as famílias dos alunos de todas as escolas, porque nenhum aluno tem bom rendimento escolar, se houver problemas de desajuste familiar. E não venham os nefelibatas do IDEB falar de um aluno que conseguiu uma vaga para estudar odontologia em uma instituição privada, com a nota do ENEM.  Não se pode confundir coisas tão distintas. O IDEB não tem absolutamente nada a ver com ENEM. Esse papo furado de que um aluno indígena teve um resultado brilhante em uma redação não pode ser argumento para avaliar os índices do IDEB. Rondônia possui milhares de estudantes indígenas. Comemorar o resultado apenas de um aluno indígena é prova clara de que as coisas não vão bem. Gravar um vídeo para dizer que de 200 mil alunos de Rondônia, um aluno conseguiu uma vaga numa instituição de ensino privada não é argumento razoável para avaliar o IDEB. Tanto o governador, como o secretário de educação, precisam levar a educação a sério. Durante o ano de 2019, a Coordenação de Ensino de Cacoal e a direção da escola Bernardo Guimarães, apenas para citar dois casos, contribuíram de modo significativo para prejudicar o trabalho dos professores da escola. Aliás, os professores fazem de tudo para melhorar, mas muitas vezes são boicotados ou perseguidos…

Em determinada ocasião, a Coordenação Regional de Ensino aplicou uma prova para os meus alunos que havia 22 questões, sob a alegação de que queriam ajudar melhorar o rendimento dos alunos. Das 22 questões, o gabarito produzido pela Coordenação de Ensino e pela escola continha 09 questões com as respostas completamente erradas. Na época, eu pedi várias vezes que a escola e a CRE explicassem por que tantos erros e eles nunca explicaram. Durante meses, em 2019,  era normal na escola Bernardo Guimarães a escola trocar as aulas de Matemática e Língua Portuguesa dos alunos que fariam as provas do IDEB, por palestras que não tinham nenhuma relação com os conteúdos das provas do IDEB. Agora vem o governo falar que está tudo bem?? Isso é uma vergonha!!! Não existe a menor condição de melhorar índices do IDEB enquanto houver diretores de escolas e coordenadores de ensino em Rondônia perseguindo professores para agradar políticos. Não há como melhorar a qualidade da educação com diretores de escolas inventando notas para aprovar alunos. A educação precisa ser discutida com seriedade e sem a interferência desses seres nocivos à qualidade que se pretende. Não é possível fazer educação com os delírios e com a falta de compromisso com que agem atualmente muitos gestores da educação… Tenho dito!!!

FRANCISCO XAVIER GOMES é Professor da Rede Estadual e Articulista

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