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Coluna do Xavier – Cacoal: A Educação, Os Alimentos e os Lucros… (26.03.2021)

Francisco Xavier E1599229223641

A cidade de Cacoal é conhecida pelo apelido de “Capital do Café” e este carinhoso cognome certamente não foi colocado por acaso e muito menos por Anísio Serrão, mesmo porque ele houvera aludido à fruta do cacau para designar o torrão natal de Obedis. Infelizmente, diversas pessoas autointituladas pioneiras e hoje ocupantes de vários cargos políticos no município distorcem completamente a História de Cacoal e as tradições de nossa Urbe Obediana, atuando de maneira danosa às tradições e às possibilidades futuras da sociedade, como é possível verificar no recente debate que tem ocorrido à surdina, entre autoridades municipais,  objetivando fechar pelo menos duas escolas rurais do município. Essa conduta evidencia, no mínimo, falta de respeito para com as famílias que vivem nas linhas e que trabalham para manter o apelido da cidade e fazer com que o brasão não se torne obsoleto. As autoridades que discutem o fechamento de escolas rurais certamente não sabem que isto pode prejudicar a produção agrícola, além do que fechar escolas, sob o argumento de que não dão lucro, é uma coisa abominável…

Conforme dizem as autoridades municipais que tratam do fechamento de escolas rurais, duas escolas estariam na lista para o primeiro momento da ação que eles chamam de “reordenamento” da educação. As escolas fechadas seriam: Maria Montessori, localizada na Linha 10; e a escola Anita Garibaldi, localizada na Linha 12. Claro que as pessoas que planejam esse ato não fazem a menor ideia de quem  foram essas duas mulheres, porque nenhuma pessoa em sã consciência teria coragem de fechar uma escola com o nome de Maria Montessori, italiana cuja biografia deveria ser estudada pelos vereadores de Cacoal e pelo secretário da educação do município, além de outros guachebas que caucionam esse tipo de ideia. Aliás, a professora italiana criou um método próprio para ensinar pessoas que tinham problema de retardo mental. É uma pena que ela não tenha sido professora dos vereadores e demais pessoas que desejam fechar a escola da Linha 10. Maria Montessori tinha como lema de sua brilhante trajetória a frase “Educar para a vida”, e lutou bravamente contra o sanguinário Benito Mussolini, quando ele determinou o fechamento de muitas escolas na Itália…

A professora Montessori, que também era médica, dizia que “A verdadeira educação é aquela que vai ao encontro da criança para realizar a sua libertação”. Fechar a escola da Linha 10 é fazer justamente o contrário do que ela pregava. No caso da catarinense Anita Garibaldi, somente os brasileiros muito desatentos desconhecem sua história, visto que TV Globo já exibiu uma minissérie com riquíssimos detalhes biográficos. As famílias que vivem na Linha 12, que produzem alimentos na região e que precisam da escola Anita Garibaldi aberta para atender seus filhos certamente vão refletir sobre aquilo que ela dizia, quando enfrentava as batalhas: “Não tenha medo de viver, de correr atrás dos sonhos; tenha medo de ficar parado”. A comunidade rural de Cacoal precisa lembrar que todos os vereadores que querem fechar as escolas rurais pediram votos nas linhas e disseram que desejavam ser eleitos para representar a população e defender as famílias de Cacoal. Agora, eles agem para representar o secretário de educação. O argumento mais sólido que eles usam para fechar as escolas é que as escolas das linhas 10 e 12 não dão lucros para o município… Ridículo esse argumento!!! Somente na cabeça de uma pessoa muito desinformada cabe a ideia de que escola pública tem a finalidade de dar lucro. Será que essas pessoas já pararam para pensar qual o lucro que as famílias das linhas 10 e 12 dão para o município? Claro que não!!! Esse pessoal não pensa em quem vive na zona rural.

Agora, uma pergunta para o meu leitor: Você sabe quantas crianças, filhos de vereadores de Cacoal, do secretário de educação e outras pessoas que querem fechar as escolas estudam na Maria Montessori e Anita Garibaldi?? Obviamente que nenhuma!!! Essa é a maior razão para fechar as escolas. O argumento de que essas escolas não dão lucro serve apenas para convencer quem não respeita as famílias que produzem alimentos nas linhas. Qual é a escola pública que dá lucro?? Outro argumento, igualmente fajuto, é que essas escolas possuem poucos alunos. E daí?? Quem disse que salas cheias representam garantia de qualidade de ensino? A legislação brasileira estabelece que as salas de aulas do ensino fundamental devem ter até 25 alunos. O termo “até” significa que pode ser 1, 2, 3, 4, 5… Se chegar a 26, está fora da norma!!! Há, ainda, os que usam o argumento de que é inconcebível a ideia de pagar a quilometragem dos ônibus que circulam com poucos alunos dentro. Neste caso, fechar a escola é a solução?? Claro que não!!! Sinceramente, esse argumento de custos é um argumento que não faz o menor sentido. A faculdade onde Maria Montessori fez Pedagogia era muito diferente da que diplomou o secretário de educação de Cacoal. Onde ela estudou, o lucro era a educação de qualidade e o respeito pela vida…

As famílias que vivem esse dilema de fechamento de escolas nas linhas 10 e 12 precisam adotar o espírito do general italiano Giuseppe Garibaldi, esposo de Anita Garibaldi, e lutar bravamente contra essas medidas inspiradas em Mussolini. No caso das pessoas que vivem no setor urbano, elas deveriam agradecer pelos alimentos que são produzidos nas linhas rurais de Cacoal e que alimentam os vereadores e secretários municipais. A permanência das famílias nas linhas rurais é garantia de alimentos na mesa de quem vive na cidade. Aliás, as famílias que vivem na Zona Rural precisam de tão pouco: elas querem apenas estradas, escolas, saúde e vereadores e secretários que tenham o mínimo de respeito por quem produz alimentos… Tenho dito!!!

FRANCISCO XAVIER GOMES

Professora da Rede Estadual e Articulista

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