Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: A SAÚDE, A POLÍTICA E OS ACOMPANHANTES…
O município de Cacoal tem vivido dias bem turbulentos no cenário administrativo, financeiro e político. Este fenômeno ganhou corpo, a partir do momento em que a lua de mel vivida entre a administração e o contribuinte dá sinais visíveis de que não é a mesma dos primeiros seis meses do ufanismo obediano. Obviamente que os atores políticos desse cenário de indecisões não percebem as caneladas e seguem agindo como adolescentes que tendem a negar tudo, ainda que seja visível a falta de planejamento e organização. A realidade que bate à porta da administração municipal é bem diferente daquela que está nas quimeras da edilidade e de outros prosélitos da teoria do “Cacoal tem pressa”. Não obstante o quadro de inegáveis lambanças administrativas, mais da metade dos vereadores segue dizendo que “acompanha” os fatos. O problema é que, na administração pública, os acompanhantes são sempre cúmplices do descaso e da falta de zelo com a res populi…
Um ano atrás, o município de Cacoal foi parar nas páginas dos jornais e em todas as redes sociais, por conta do escândalo dos desvios de combustíveis em diversas secretarias municipais. Após as denúncias, nada foi feito. Absolutamente nada. Uma tal “Comissão de Averiguação” foi formada, na época, com o claro objetivo de barrar as investigações que a Câmara de Cacoal tinha o dever de fazer, mas preferiu se omitir, sob a alegação de que era melhor esperar o delegado investigar e, depois, pensar no que os vereadores poderiam fazer. Desculpas completamente esfarrapadas. É evidente que os crimes praticados contra a administração pública devem ser investigados também pela polícia, mas utilizar esse argumento para não cumprir as obrigações para as quais foram eleitos revela que os vereadores são cúmplices; e não acompanhantes dos fatos. Paralelamente às investigações policiais, a Câmara de Cacoal tinha o dever de abrir uma investigação séria sobre os fatos. Não o fez. Os vereadores inventaram uma tal “Comissão de Averiguação” que não serve para absolutamente nada, a não ser para empurrar para baixo do tapete os fatos denunciados. Isso tem nome e sobrenome: negligência e omissão…
Nos últimos dias, o presidente da “Comissão de Averiguação”, declarou que já tinha um relatório pronto e que o conteúdo tinha sido produzido pelo delegado de polícia que trabalha na investigação policial. O vereador disse claramente que nada no relatório foi produzido por eles. Isso é prova da omissão. E tem mais: o vereador afirmou, com todas as letras que os desvios de combustíveis não tinham valores na casa de um milhão e meio, como fora especulado, por alguns “boca-aberta” (sic), mas que os valores de desvios comprovados pelo delegado são “apenas 400 mil reais”. Ora, meu caro leitor! Se quase meio milhão de reais desviados de combustíveis não servem para indignar os vereadores, o que eles estão fazendo no mandato? Minimizar esse tipo de escândalo é zombar do contribuinte obediano. Se a Câmara de Cacoal considera 400 mil reais um valor irrelevante, isso é pressuposto para permitir que outros desmandos ocorram na administração, sob as bênçãos dos vereadores que foram eleitos com a obrigação de zelar pelo patrimônio público. Há muitas coisas que poderiam ser feitas em benefício do contribuinte com esse valor…
No mesmo período em que surge a notícia de que os desvios de 400 mil reais em combustíveis não causaram nenhuma indignação nos vereadores, surgem diversas denúncias relacionadas com o setor de saúde municipal que também nunca foi fiscalizado pela Câmara de Cacoal. Poucos dias atrás, em diversos grupos de redes sociais, foram divulgados dezenas de áudios e vídeos denunciando o descaso na saúde e mostrando que é necessário haver uma fiscalização séria, por parte dos vereadores. Mais uma vez, apareceram alguns vereadores desse grupo que se dedica a bajular a administração, dizendo que “acompanham os fatos”. Acompanhar não é sinônimo de fiscalizar. Os vereadores têm o dever de adotar medidas enérgicas para fiscalizar estes fatos. Os edis não foram eleitos para serem “acompanhantes”; foram eleitos com a obrigação de cuidar do patrimônio público e zelar pelo bem-estar dos cacoalenses. O termo acompanhante é tão incompatível com o mister da vereança que serve para denominar as mulheres ou homens que fazem programa. Os vereadores não podem agir como garotos de programa da Administração Municipal. É compreensível que muitos deles não tenham condições para fiscalizar coisa nenhuma, porque usam o mandato como currículo para empregar amigos e parentes, mas tudo tem limite. Não se pode admitir que a política transforme em acompanhantes de luxo as pessoas que foram eleitas com o dever de mudar as práticas políticas que eram condenadas por esses mesmos vereadores nos palanques de campanha, em 2020. Nada mudou!!
Recentemente, o vereador Paulo Henrique encaminhou, na Casa de Leis, um documento solicitando que a Secretária de Saúde e a empresária que fez algumas denúncias sejam ouvidas na Câmara de Cacoal. A medida é absolutamente correta, porque os fatos denunciados precisam ser esclarecidos. Isto não significa que a secretária tenha feito nada de errado, mesmo porque não há razão plausível para condená-la. É possível que ela nem saiba de muitas coisas que acontecem, porque a desorganização e a falta de planejamento são gritantes nessa administração. É justamente por isso que é preciso apurar as denúncias e verificar o que tem de verdade na história. Quanto aos vereadores acompanhantes, todo mundo sabe que muitas coisas em Nossa Urbe Obediana são inflacionadas, mas não se tem notícias, ainda, de acompanhantes que cobrem 10 mil reais pelos serviços. Após a apuração dos fatos, se não houver nenhuma razão para preocupações, podemos seguir pagando o salário de 10 mil dos vereadores e batendo palminhas, mas a saúde pública do município não pode ser tratada com a mesma indiferença e omissão com que são tratados os 400 mil dos combustíveis… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Jornalista