O mês de novembro ficará marcado como o mês em que ocorreu em Rondônia a primeira eleição para mandatos municipais, sob a força total das redes sociais. Obviamente que não podemos esquecer 2018, quando havia a possibilidade de constituir um legislativo e um governo estaduais mais qualificados e o eleitor preferiu o amadorismo, o despreparo, o apedeutismo e a inépcia que se verifica atualmente. Todavia, precisamos pensar com boa vontade e acreditar que, após as lições deixadas pela eleição estadual, será possível que os eleitores rondonienses tenham um pouco mais de dedicação, na hora de avaliar nomes. Teremos a possibilidade de fazer, nas urnas, as mudanças que a sociedade cobra no âmbito municipal, entretanto, e considerando algumas manifestações de pré-candidatos nas redes sociais, é necessário tomar muito cuidado, para não piorar ainda mais a situação, principalmente no Poder Legislativo de Cacoal, tão questionado nos últimos anos…
Certamente muitos leitores e eleitores dirão que este tema já foi, ou já fora, abordado outras enésimas vezes. É fato! Apenas não consigo lembrar quantas vezes questionei, aqui na coluna, e outros veículos, sobre a eventual qualidade técnica de pretendentes a cargos eletivos. Mas este assunto é inesgotável, porque a diversidade de pré-candidatos também é muito grande. Assim, a cada dia, nos deparamos com inúmeras novas declarações insólitas e completamente descabidas, proferidas por neófitos e até mesmo políticos dos mais empedernidos de nossa urbe obediana. Recentemente, em um desses grupos de uatizápi, um pré-candidato a vereador declarou que se sente preparado para exercer o mandato, porque sabe fazer massa de cimento, sabe operar pá-carregadeira e sabe fazer requeijão. Confesso que o tom de seriedade com que ele falou me causou uma paúra daquelas que nunca senti nos últimos 53 anos. Caso o arrivista eleitoral estivesse brincando, a situação seria muito diferente!!!! Assim, devemos admitir que não existe nenhum problema no fato de uma pessoa com esse perfil disputar a eleição, porque não é crime disputar eleição, ainda que o indivíduo não tenha nenhuma clareza das atribuições do cargo que pretende. Todavia, o eleitor que sair de casa, nesta pandemia, enfrentar a fila e votar num candidato desse deveria ser internado imediatamente, porque o caso é gravíssimo…
As eleições municipais acontecem no mês de novembro e as pessoas que pretendem verear em Cacoal deveriam conhecer as atribuições constitucionais da edilidade, os trabalhos que precisam ser feitos e que dependem de ações de vereadores. Entretanto, raramente ouvimos um pré-candidato falar sobre a necessidade de promover alterações no Plano Diretor de Cacoal, na Lei Orgânica, no Regimento Interno da Casa Legislativa, na legislação municipal sobre servidores e outras normas que precisam ser revisadas. A falta de óleo de peroba para hidratar a tez de alguns candidatos é muito evidente. Quando uma pessoa comenta que deseja se formar em Medicina, para citar um exemplo, certamente a pessoa se imagina atendendo pessoas em uma unidade de saúde, fazendo cirurgias, prescrevendo medicamentos; se uma pessoa deseja ser guia turístico, é muito provável que se imagine viajando por muitos ou por todos os destinos mais cobiçados do “ex-Globo Terrestre” (para os bolsominons, o Globo foi achatado); se um garoto de Cacoal sonha ser jogador de futebol, é indubitável que pensa em jogar nos grandes clubes do país e de outras nações… Até aí, não há absolutamente nada de anormal!!! Mas, então, por que diabos os candidatos a vereadores pensam em “fazer diferente”; “trazer indústrias”; “gerar empregos”; “construir creches, escolas hospitais”???? É como se uma pessoa fizesse a faculdade de Veterinária e depois abrisse um escritório de advocacia… Não dá para entender por que o cargo de vereador existe, no Brasil, desde 1824 e os candidatos ainda não conheçam as atribuições do mandato…
O problema é que muitos desses pré-candidatos de hoje possuem como tema preferido criticar os atuais vereadores e tachar de incompetentes os atuais vereantes. Alguns chegam a sugerir a redução do salário pela metade e xingam os vereadores de hoje até a quinta geração. Lembra do pré-candidato epigrafado que sabe fazer requeijão?? Pois, é! Enésimas vezes, ele já declarou que os atuais vereadores não sabem trabalhar e que o povo quer vereadores que saibam trabalhar. Desde criança, eu nunca gostei de leite e muito menos dos derivados, mas não faço a menor ideia do motivo, porque não tenho mesmo interesse em saber. Porém, a partir de agora, quando alguém quiser saber a razão pela qual tenho total ojeriza a requeijão, mesmo sem nunca ter provado, vou explicar que este sentimento surgiu das propostas feitas por um pré-candidato a vereador de Cacoal. Aliás, os dois filósofos da honestidade deveriam dar umas aulas para aquele senhor e mostrar a ele quais são as atribuições de um vereador. Por diversas razões, incluindo-se a legislação eleitoral, não vou citar o nome do pré-candidato do requeijão, mas, se ele for eleito, falando para as pessoas que sabem preparar este alimento, teremos que fazer uma eleição em Cacoal para trocar o povo… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Articulista