A enchente provocada pelas chuvas, no início desta semana, causou, mais uma vez, enormes prejuízos para centenas de famílias e empresas no município de Cacoal. As residências e imóveis comerciais instalados nas proximidades dos rios, Machado, Tamarupá e Pirarara voltaram a ser atingidas duramente pelas chuvas que caem todos os anos na Amazônia. Claro que a população de Nossa Urbe Obediana demonstrou enorme solidariedade, como tem ocorrido, sempre que este fenômeno absolutamente previsível atinge a Capital do Café. O contraste, em relação à solidariedade da população, ficou por conta de diversos políticos muito oportunistas, que logicamente aproveitaram a situação de extrema calamidade para fazer propaganda pessoal, usando a dura realidade das vítimas como objeto para ilustrar seus discursos de hipocrisia, falta de caráter e um tipo de oportunismo que causa asco até mesmo para as pessoas mais insensíveis e insensatas do Globo Terrestre. As cenas foram lamentáveis…
Inicialmente, é necessário lembrar que a enchente não foi provocada pela administração municipal e, neste caso, não podemos ser levianos, visto que se trata de uma situação realmente complexa, porque não há como impedir que as estações do ano aconteçam, ainda que elas tenham período muito bem demarcados e inevitáveis. O problema é que todas as autoridades municipais sabem muito bem que este fato acontece, a cada ano, invariavelmente, e alguns dos fatores que provocam as inundações são provocados, infelizmente, pela ação humana, como é o caso da enorme quantidade de objetos de pequeno, médio e grande porte jogados nos rios do município. Quando Glaucione ainda exercia o mandato de prefeita, em certa ocasião, foram retirados dos rios do município cerca de 10 a 15 caminhões de lixo que obstruíam a passagem das águas do Tamarupá, Pirarara e Machado. Esta ação foi realizada há vários anos, mas nunca houve, após isso, nenhuma campanha publicitária oficial que tive a finalidade de conscientizar as pessoas sobre os males que o lixo jogado nos rios pode causar. Claro que o canal dos rios, principalmente o Pirarara e Tamarupá, já é muito reduzido a assoreado, porque não existe nenhum trabalho permanente de desassoreamento e as consequências são inevitáveis.
Muitas pessoas não lembram, mas, no ano passado, alguns políticos de Cacoal chegaram a fazer passeios de barco nos lugares onde a água avançou e seus sorrisos eram de prazer e alegria, mesmo quando diziam que estavam trabalhando para ajudar as vítimas. Aliás, naquele momento, diversos vereadores pegaram diárias e correram para Brasília, alegando que iriam buscar barcos para que fossem usados em ocasiões semelhantes. Outros fizeram vídeos, nos quais apareciam com a água pela cintura, enquanto percorriam os lugares alagados. Um verdadeiro festival de hipocrisia e de uso das imagens de tragédia para fazer registros de promoção da imagem política deles. Após as águas de 2023 recuarem, esses políticos todos sumiram e ficaram esperando a enchente novamente esse ano, para fazer propaganda outra vez. Observe o leitor que, neste período de mais de um ano, nenhuma medida concreta foi adotada para diminuir o grau de assoreamento dos rios, nenhum projeto ambiental ou de infraestrutura foi discutido e nenhuma discussão séria sobre as áreas atingidas anualmente pela enchente foi estabelecida pelos políticos locais. Eles sabiam que este ano seria “muito interessante” voltar a fazer vídeos expondo as vítimas, porque cria uma situação de comoção social. E fizeram muitos vídeos. Vídeos chocantes! Que chocaram, ainda mais, pela cara de pau dos políticos obedianos…
É lógico que a população inteira se mobilizou para ajudar as vítimas da enchente e foram formados grupos de solidariedade, entre as pessoas comuns, para a arrecadação de objetos e alimentos. Esse trabalho continua a ser feito de maneira anônima, porque as pessoas comuns praticam, sim, a solidariedade e a coisa mais destacada nessas ações é o anonimato, como está claramente escrito no capítulo 6 do livro de Mateus, nos versículos 3 e 4 da Bíblia Sagrada. Claro que os políticos que fizeram vídeos para expor as vítimas, não conhecem esse trecho bíblico e nem possuem interesse em conhecer, porque isto não interessa para eles, em anos de reeleição. Assim, as centenas de pessoas atingidas tristemente pela enchente foram duplamente vítimas, já que perderam seus bens, sofreram abalos psicológicos, inevitáveis nessas situações, e ainda tiveram seus rostos de dor e sofrimento mostrados nos vídeos gravados pelos políticos. Crianças, idosos e outras pessoas eram abraçadas cinicamente pelos políticos oportunistas, nos vídeos exibidos nas redes sociais. Alguns deles fizeram grande esforço para chorar diante das câmeras, forçando um sentimento de solidariedade que tem unicamente a finalidade eleitoral. Quem ajuda de verdade não expõe as vítimas desse tipo de tragédia. Isso é tão básico. E bíblico…
As chuvas diminuíram, embora ainda sejam uma ameaça e, infelizmente, não se pode descartar nova enchente. Logicamente que a torcida da população, daquelas pessoas que ajudam sem fazer propaganda política, é para que o problema não se repita, porque causa muita dor, sofrimento e perdas irreparáveis. Nos vídeos eleitorais divulgados nas redes sociais de diversos políticos, as imagens são de tristeza, quando se verifica que o esforço das vítimas para construir suas residências e adquirir seus móveis e outros objetos foi inundado pelas chuvas e pelo cinismo de políticos puramente oportunistas. Até mesmo a sessão ordinária da Câmara Municipal foi usada para promover o teatro eleitoreiro. Houve casos de vereadores encenando choro de crocodilo e fazendo discursos emocionantes. Que espetáculo patético!! E as perguntas que ficam são as seguintes: Qual projeto será colocado em discussão, para fazer o desassoreamento dos rios que cortam o município, para evitar novas vítimas das chuvas? Qual o projeto de infraestrutura será executado? Claro que nenhum, porque as enchentes servem para fazer vídeos de promoção pessoal e propaganda política!
Assim, enquanto muitas pessoas foram vítimas das chuvas e dos vídeos gravados para expô-las, a parcela da população que realmente pratica a solidariedade age como diz o livro de Mateus: de maneira anônima, solidária e afetuosa, porque isto é a essência de quem ajuda pelo sentimento humanitário; não pela campanha eleitoral que se aproxima… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista