O brilhante pensador inglês William Shakespeare, que faleceu 100 anos antes do período chamado de Iluminismo, dizia que “guardar ressentimentos é como tomar veneno e torcer pela morte de outra pessoa”. Agora, mais de quatro séculos depois da morte de Shakespeare, e com o advento das redes sociais, vê-se que ele profetizara a existência de alguns usuários de redes sociais e políticos do baixo clero de Brasília que se aproveitam da fragilidade intelectual, moral e política da onagrocracia, para tentar achincalhar atividades profissionais consagradas na história da humanidade, entre elas a atividade docente, sem a qual a humanidade teria que voltar ao período paleolítico. O grande problema nisso tudo não reside apenas no uso das redes sociais por apedeutas negacionistas. As declarações do deputado federal Ricardo Barros e do deputado estadual Eyder Brasil deixam claro que as agressões contra professores foram institucionalizadas no país e são alimentadas pela evidente ausência de livros na vida de tais personagens. Aliás, o Brasil vive uma gravíssima crise de inversões de valores, em que indivíduos completamente desprovidos das informações mais básicas sobre diversas ciências se dão o desfrute de agredir a ciência, tentando impor a desinformação como referência, para um país que teve gente como Santos Dumont, Rui Barbosa, Machado de Assis, Luís Gama, Cora Coralina, Cecília Meireles, Zilda Arns e outras personalidades…
Essas agressões contra professores ganharam força nas redes sociais, desde o período da campanha eleitoral de 2018, mas elas já eram propagadas por gente como Damares Alves, bem antes disso. O problema não é somente porque são agressões contra professores. A gravidade da situação é porque são coisas inventadas e compartilhadas até mesmo por pessoas de boa formação. Uma pessoa precisa ser muito criminosa para sair divulgando a “informação” de que professores praticam masturbação em crianças nas escolas do Brasil. As escolas públicas são frequentadas por pessoas de todos os setores da sociedade, inclusive existem professores de todas as religiões. Não é possível que as pessoas não percebam que acusar professores de masturbar alunos é uma conduta criminosa, bandida, burra… Ver pessoas compartilhando nas redes sociais de Rondônia mensagens contra professores é uma coisa que causa asco. Ver o deputado Ricardo Barros dizer que professores não trabalham é uma coisa que causa nojo. Ricardo Barros é deputado federal desde 1995 e neste período jamais conheceu uma escola pública. Ele não tem nenhuma autoridade moral para fazer discursos contra professores. Aliás, ninguém sabia que Ricardo Barros era deputado federal. Ele ficou famoso, em 2014, quando foi flagrado pelo Ministério Público do Paraná num esquema de propina, em Maringá, cidade de onde também saiu Sérgio Moro. Em 26 anos como deputado, Ricardo Barros jamais apresentou um projeto para melhorar a educação brasileira…
No caso de Eyder Brasil, as declarações feitas por ele, esta semana, na Assembleia Legislativa, mostram que, até hoje, ele não sabe o que está fazendo no mandato. Em recente audiência na Casa Legislativa, o sargento Eyder Brasil perguntou ao secretário de saúde e de educação do estado de Rondônia qual a referência científica que eles têm para afirmar que escolas são focos de contaminação pela covid-19. Qualquer recruta do Exército Brasileiro, ainda que fosse instruído por Eyder Brasil ou Eduardo Pazuello, saberia entender que o que causa a contaminação de pessoas não é o tipo de instituição; mas sim a aglomeração de pessoas. A própria Assembleia Legislativa tem emitido sucessivos decretos limitando a circulação de pessoas em suas dependências, em virtude da doença. Talvez Eyder Brasil nem saiba disso. O deputado certamente imagina que as mais de 5 mil mortes em Rondônia não significam nada. Querer fazer palanque político contra os professores não é o melhor caminho para um deputado tão limitado como Eyder Brasil. Se ele fosse ouvir os professores ou procurar fazer a leitura de bons livros, dificilmente passaria por esse tipo de vexame. Em vez de falar bobagens sem conhecer a realidade das escolas de Rondônia, o deputado bem que poderia usar o mandato para exigir que os profissionais de educação sejam vacinados e não que sejam obrigados a serem expostos à doença. Pode-se dizer que Eyder Brasil é o Ricardo Barros na versão rondoniense. Um deputado que não conhece as escolas, não conhece a realidade dos professores, não sabe quantos profissionais de educação morreram vítimas da covid-19 e cujo projeto mais importante é colocar nome de ponte em Pimenta Bueno não pode dar opinião sobre educação. Esse tipo de político jamais foi produzido pela ciência ou pela orientação de professores; esse tipo de político nasce nas redes sociais, local em que, muitas vezes, a ciência é trocada pela estupidez…
A mágoa citada por Shakespeare, mais de quatro séculos atrás, está muito viva no coração de muita gente que abandonou a escola, abandonou os livros, e preferiu fazer a faculdade de uatizápi ou de feicibuque. A prova maior da mágoa e estupidez de usuários de redes sociais está no fato de que muitos deles são pais, filhos, irmãos, primos, amigos de professores; mas compartilham nas redes sociais mensagens agressivas contra professores, como se tivessem vontade de se vingar, por estarem distante dos livros e da escola. Claro que existem nas redes sociais muitas pessoas que, por alguma razão justificada, não puderam frequentar a escola. Essas pessoas não fazem nenhum ataque contra professores. Mas também existem pessoas que agem como os eyders brasis e ricardos barros da vida, ficando cada dia mais distante dos livros e da escola e cada dia mais perto de externar a mágoa e o ressentimento contra os profissionais da educação. Quem sabe um dia essas pessoas voltem para a escola, lugar de onde jamais deveriam ter fugido… Tenho dito!!!! (30.04.2021)
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Articulista