Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: O TEATRO, OS DENUNCIANTES E AS GAZELAS…
As pessoas que acompanham as sessões da Câmara de Cacoal certamente esperavam que a primeira sessão ordinária do ano tivesse alguma novidade, em virtude de vários discursos de moralidade proferidos pelo grupo de vereadores controlados pela Administração Municipal, durante os meses finais do ano passado, quando estava em discussão a eleição dos membros da Mesa Diretora. Alguns desses vereadores chagaram a fazer juras sobre filhos, esposas, mães e outros parentes que nada têm a ver com as lambanças protagonizadas por eles, neste período de mandato. Foram diversos discursos pregando a moralidade, a honestidade, a honra e todos os demais bons costumes que fazem parte de qualquer discurso de políticos hipócritas e demagogos. Em todas as ocasiões nas quais proferiram os “emocionantes” discursos, a turma da moralidade afirmava, em verso e prosa, que o vereador Valdomiro Corá não reunia as condições morais para presidir o legislativo municipal. A volta das sessões ordinárias deixou claro que essas miniaturas de Macunaímas parecem mais gazelas fujonas, como diriam os membros da Turma da Depressão…
O problema de vários vereadores de Cacoal é que eles não reconhecem os dissabores do mandato como parte do pacote da vereança. Na cabeça de bagre de alguns deles, todos os contribuintes estão obrigados a elegê-los e passar quatro anos dando os parabéns e batendo palmas para todos os excrementos produzidos por eles, em detrimento da coletividade. Os discursos de moralidade proferidos contra o vereador Corazinho pelos mamulengos da Administração Municipal não servem como prova para determinar a extinção de direitos políticos de ninguém. Corazinho foi eleito pela população e tem direito a exercer seu mandato. As condições para que ele seja impedido de exercer o mandato estão estabelecidas no Art. 15 da Constituição Federal; não na opinião dos vereadores que não gostam dele. O mandato de vereador deve ser exercido com base na legislação vigente no país; não com base em opiniões. Quando o vereador Corazinho tiver alguma conduta que justifique ser criticado, farei as críticas com a mesma independência com a qual critico o grupo de vereadores controlados pela Administração Municipal. Eles foram eleitos para exercer o mandato e, para exercer o mandato, é preciso estudar. Quem tem mandato e não estuda vira capacho do Poder Executivo, de asseclas do prefeito e de outras pessoas. Os vereadores que orbitam o prefeito atualmente o fazem apenas e exclusivamente por interesses que nada têm a ver com os anseios da população. Então, esses discursos “emocionantes” de vereadores que dizem defender o município não passam de colóquio flácido para acalentar bovino…
Um exemplo claro da ausência de personalidade está no fato de vários vereadores terem abandonado diversas sessões, com medo de exercer o mandato. Exercer mandato legislativo significa participar de deliberações em que você pode vencer, perder e empatar. Quem tem medo de perder em votação não pode exercer mandato. Os vereadores fugiram, como gazelas, da última sessão, com medo de votar e decidir sobre uma representação feita exatamente por eles. Eles assinaram a denúncia contra o vereador Corazinho (e assinaram apenas porque receberam ordens superiores), fizeram o maior barulho, gravaram lives e mais lives dizendo que não aceitavam ver Corazinho na presidência do legislativo e chegaram a dizer que “seus eleitores” não aceitavam que eles votassem em Corazinho. Pois bem! No dia de votar sobre a denúncia feita por eles mesmos, todo o grupo fugiu e abandonou a sessão. É muita cara de pau! E por que fugiram? Fugiram porque não têm coragem de enfrentar as votações de um mandato. Na prática, eles aceitam somente participar de votações que eles tenham maioria de votos. E esses senhores passaram a campanha de 2020 dizendo que queriam ser eleitos para exercer o mandato…
E não me venham os eleitores mais apaixonados pelos vereadores da Administração Municipal dizer que se trata de pertinácia. Claro que não!! Nesse grupo de vereadores da Administração Municipal estão os vereadores Kapichão das Demandas, Paulinho do Cinema e Zivan Almeida, membros da edilidade com quem costumo conversar longamente. E são pessoas pelas quais tenho carinho. Na realidade, nunca gostei de confundir questões políticas e pessoais. O único inimigo político que tive em Rondônia foi o falecido Valderedo Paiva, político que, aliás, sempre tive respeito justamente porque era um inimigo qualificado. Com relação às demais pessoas de quem divirjo nos últimos 40 anos, talvez tenha havido algum desafeto; mas não considero como inimigos. Com relação aos vereadores de Cacoal, não existe absolutamente nenhuma razão para ser inimigo de nenhum deles, mas eu sou contribuinte e tenho o direito de opinar, cobrar e criticar os políticos eleitos na cidade onde vivo e pago impostos. Nunca incomodei nenhum vereador, pedindo cargos, sinecuras ou prebendas. Considero péssima a decisão dos vereadores de abandonar as sessões, porque isso contraria os discursos que eles fazem, dizendo que enfrentam tudo com dignidade. Fugir não é sinônimo de dignidade…
Na sessão em que os vereadores controlados pelo prefeito fugiram como gazelas, o vereador João Picheck chegou a comentar que ele estava com saudades do tempo em que as sessões eram realizadas no Teatro Municipal. Picheck disse isso para se referir às encenações desse grupo de vereadores que fogem das sessões. E ele tem toda razão. É puro teatro! Claro que tem muita gente encantada com esses discursos de moralidade e com esse teatro. Isso é uma prática que também foi adotada por Téspis, muitos séculos atrás. Assim, resta saber até quando o clima dionisíaco vai influenciar a edilidade e a partir de quando a Constituição Federal será adotada pelos vereadores que um dia juraram cumpri-la… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e jornalista