Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: OS POLÍTICOS, A CIDADE E ANO NOVO…
O leitor pode considerar estranho o fato de o título deste arrazoado trazer a expressão “Ano Novo”, entretanto é necessário esclarecer que o ano tem inícios diferentes, conforme cada finalidade ou atividades profissionais, de lazer, ou de outros diferentes objetivos que se tenha, durante os meses de 2023. Para os que gostam de comemorar a mudança no calendário comum, o ano começa na madrugada de 31 de dezembro; para os que gostam de viajar para outros estados ou países, o ano começa em qualquer dia de janeiro, quando retornam à Nossa Urbe Obediana; para os estudantes, o ano começa no primeiro dia de aula, a depender dos diferentes calendários das instituições; para os deputados estaduais, federais e senadores, o início é 1º de fevereiro; para os vereadores de Cacoal, o começo do ano ainda não tem data certa, visto que a primeira sessão ordinária ocorrerá apenas após o período momesco; e para os simples mortais, depende muito de cada situação social, cultural ou política. Assim, vamos fazer uma breve análise, a partir do começo do ano para os deputados estaduais e federais, visto que Cacoal precisa discutir com os deputados eleitos suas posições e cobrar deles as promessas feitas no ano passado…
Inicialmente, cabe esclarecer que, na história política de Rondônia, é mais comum que deputados estaduais sejam representantes do governador; é que a população fique sem representação. Porém, considerando que Cacoal é uma cidade importante no cenário político e econômico do estado, fica a esperança de que os deputados estaduais e federais tenham pelo menos a possibilidade de discutir com a sociedade e encontrar novos caminhos. Em geral, os discursos de campanha são muito voláteis e costumam desaparecer logo depois da posse dos eleitos. Sabe aquele papo antigo de “minhas prioridades serão saúde, educação, segurança e agricultura”? Pois é! Desde 1982, todos os deputados eleitos em Rondônia falam isso, mas são raros, muito raros, raríssimos, os que cumprem essas promessas. Claro que eles vão dizer que sempre cumpriram, mas a realidade é muito diferente. Defender a agricultura é muito diferente de cooptar duas ou três associações, dirigidas por gente que gosta de sinecura, arrumar uma pá carregadeira ou um secador de café e dizer que defende a agricultura. Isso está muito distante da realidade. A mesma situação ocorre, quando os deputados eleitos colocam alguns lideres religiosos apaniguados em tetas da Assembleia Legislativa, para controlar eleitores por pacote. E não podemos esquecer daqueles que tratam, nos bastidores, da nomeação de apaniguados na saúde e na educação, com a finalidade de consolidar currais, visando a reeleição…
Apenas para citar um exemplo claro, nos últimos dois anos, quem briga para exigir melhores condições de estrutura e equipamentos no HEURO e no Hospital Regional de Cacoal é o vereador Kapichão das Demandas, que chegou a fazer inclusive audiências para discutir os problemas. Nas audiências, nenhum deputado estadual ou federal apareceu, o que revela a falta de interesse para conhecer os problemas e buscar as soluções. Então, o principal representante da população para cobrar assuntos de saúde, no âmbito estadual, foi o vereador; mas ele praticamente nunca foi ouvido pelas autoridades estaduais. Em muitas ocasiões, o HEURO e o Hospital Regional chegaram a ter problemas de falta de lençóis, item absolutamente básico para qualquer unidade de saúde considerada “polo” de atendimento de mais de 30 municípios. Além disso, um município considerado “polo” não pode ficar sem ambulâncias, equipamentos de exames diagnósticos e material de expediente. E, ressalte-se, isto não ocorre por culpa dos servidores que acordam todos os dias para trabalhar no HEURO e Hospital Regional. Isto acontece por falta de representantes da população e por excesso de representantes do governo. Rondônia precisa refletir sobre essa prática de eleger deputados que, na campanha, representam a população; mas, no mandato, representam o governo. Esta velha prática faz com que os quadros policiais tenham efetivos reduzidos; os agricultores não sejam atendidos satisfatoriamente e a educação e saúde sejam resumidas a células de fabricar cabos eleitorais…
É preciso pensar macro! Nossa Urbe Obediana não é uma vila! Há 10 ou 15 anos, os estudantes do Ensino Médio que moram em bairros como Alfa Park, Paineiras e São Marcos enfrentam dificuldades gigantescas para frequentar o Ensino Médio, pela falta de uma escola que atenda esses bairros, em Cacoal. A impressão que fica é a de que todos os estudantes do Ensino Médio de Cacoal moram no Centro, Novo Horizonte, Jardim Clodoaldo, Princesa Isabel e Liberdade. Os bairros localizados em regiões distantes do centro merecem respeito! Já passou da hora de construir uma escola na região do Alfa Park. E nem cabe cobrar isso do governador ou da Secretária de Educação de Rondônia, porque eles não moram em Cacoal e não têm nenhuma obrigação de saber das necessidades. Os deputados eleitos em 2022 precisam cobrar do Governo de Rondônia essas demandas. Kapichão das Demandas não pode ficar sozinho nessa luta!
Assim, como existe a clara necessidade de uma escola que atenda os inúmeros estudantes do Ensino Médio, que vivem nos bairros distantes do Centro de Cacoal, há outras necessidades que precisam ser vistas por quem foi eleito prometendo resolver os problemas da população. Caso estas cobranças feitas aqui sejam ignoradas pelos deputados eleitos, pela enésima vez, de nada adianta comemorar o aumento da população e o surgimento de novos bairros. O Ano Novo precisa começar com nossas autoridades enxergando a realidade da Capital do Café e exigindo as soluções cabíveis… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e jornalista