Houve um tempo em que os políticos faziam suas tramoias, impunham o poder pela força e o povo apenas obedecia e aceitava sua sina. Mas as emoções também despertam consciências e o sofrimento levou a união das massas a propor modelos melhores de governança, surgindo daí uma ideia aparentemente inteligente e capaz de banir para sempre o poder de império de um ou de poucos sobre a maioria, que foi o modelo que hoje conhecemos como democracia.
A ideia por traz da democracia era a inversão da ordem 1 para muitos, transformando-a em muitos para 1, ou, no mínimo, o transverso de poucos para muitos em muitos para poucos. Confuso, não é? Sempre será. Agora esses muitos, que somos nós, o povo, é quem, em tese, sob a égide da democracia, como muitos que somos, dizemos quais são os poucos que terão protagonismo na governança e nas instituições públicas, estabelecendo um pequeno lapso em que nos governarão, e como somos nós quem determinamos quem permanece por algum tempo ou por mais tempo, em tese, o poder estaria conosco.
Ocorre que mesmo a democracia não deu ao povo o controle sobre o seu destino, pois os votos, temos nós, os eleitores, mas as regras do jogo são feitas por quem governa. Ao povo, portanto, o que resta é insistir tentando colocar políticos mais decentes.
Em 2022 teremos novas eleições no Brasil. O foco dos embates, nessa luta por convencer uns aos outros, tem sido centrado em Lula x Bolsonaro. Ao agirmos como fanáticos, acusando os outros do que também somos, deixa-se aquilo que é primordial para o campo superficial. Brigamos por Lula e por Bolsonaro, mas nos esquecemos do que realmente importa, que é eleger pessoas melhores para o parlamento.
A coisa está tão ruim que a gente até duvida que possa ficar pior. O que vemos, no entanto, é que estamos vivendo dias em que um Golpe está à espreita. Fala-se na possibilidade de golpe de Bolsonaro. Mas quê? Não existe golpe de um homem só. Estamos sob risco maior de um golpe ser dado pelo Congresso (via Renan e o aloprado saltitante) ou pelo Supremo, dos arrogantes ministros. A corda está esticada a tal ponto que, diante da situação, o próprio Exército brasileiro poderá até assumir o controle das rédeas, antes que a barbárie se instale de vez.
Não está fácil mudar as peças desse tabuleiro. Temos hoje um Congresso submisso a um grupo de semideuses no Supremo. Onde estão os deputados que nada fazem? Onde estão os senadores? Uma vergonha: Quase 600 membros do parlamento nacional, que tem o poder de criar leis, permitindo que o Supremo tome gosto pelo protagonismo e mergulhe o país no caos. Bolsonaro, o atual governante, luta como um leão, que muitos julgam o rei dos animais, mas que não pode fazer nada se estiver sozinho frente a um grupo de hienas. Bolsonaro é esse leão rodeado por hienas. O Exército seria o grupo de leões que pode salvá-lo dessas hienas formada por maus políticos e um STF cujas más ações ultrapassaram o limite do tolerável.
Deveríamos esquecer um pouco essa dualidade PT x Bolsonaro e trabalharmos para elegermos um grupo melhor e mais digno de parlamentares. Apesar de alguns corajosos deputados e senadores, está difícil colocar ao Supremo em seu devido lugar quando temos a maioria dos parlamentares “nas mãos” do STF, sem forças para estabelecer as regras do jogo democrático. Temos que tirar os frouxos do parlamento e eleger um novo Congresso com homens e mulheres com força para dizer aos ministros do Supremo que o Olimpo é mera abstração mitológica. O poder que o cargo lhes deu tem limites. Eles podem até pensar que são deuses, mas nunca agir como deuses.