Quantitativo também é maior que o total de focos registrados em outubro de 2019. Dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Rondônia acumulou, nos 20 dias de outubro deste ano, 2.190 focos de queimadas, conforme dados captados pelo satélite de referência Aqua do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A quantidade de pontos de fogo faz com que o mês seja o nono pior outubro em incêndios na região desde 1998. O pior ano até então é 2003, época em que o estado somou 7.593 focos ativos.
A quantidade de focos de fogo captados nesses 20 dias já aponta alta 293% na comparação com todo outubro do ano passado, quando o estado registrou 556 pontos de calor.
Nesses 20 dias de outubro de 2020, o estado seguiu na segunda colocação do ranking das regiões do Norte que mais acumularam focos de queimadas, ficando atrás somente do Pará.
Também foi nesse período que Rondônia representou 17,1% das queimadas em toda Amazônia, que registrou 12.774 focos.
A capital Porto Velho aparece na primeira posição do ranking dos municípios da Amazônia que mais tiveram pontos de incêndio detectados. Foram 504 focos de queimadas entre 1º e 20 de outubro de 2020 na capital.
As cidades seguintes foram:
São Félix do Xingu (PA) – 443
Xapuri (AC) – 304
Portel (PA) – 287
Altamira (PA) – 248
Brasiléia (AC) – 246
Colniza (MT) – 225
Pacajá (PA) – 214
Vila Bela Santíssima Trindade (MT) – 204
Já em Rondônia, os municípios que mais registraram focos de queimadas nos 20 dias de outubro são:
Porto Velho – 504
Nova Mamoré – 167
Machadinho D’Oeste – 166
Cujubim – 160
Pimenteiras do Oeste – 105
Candeias do Jamari – 95
Alta Floresta D’Oeste – 92
Guajará-Mirim – 90
Seringueiras – 70
Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), declarou ao G1 que o aumento no número de focos de queimadas abrange toda Amazônia, pois a queda na quantidade de pontos de chamas em outubro do ano passado é considerada “fora do normal”.
Para Ane, o motivo do aumento das queimadas na Amazônia pode envolver dois pontos: se está queimando o que realmente se queimaria em outros anos e um alerta de seca grande em algumas regiões do Brasil. “É preocupante e é preciso observar. Acredito que a chuva é o que pode salvar”.
O número de focos de incêndio registrados na Amazônia de janeiro a setembro deste ano é o maior desde 2010, segundo dados do Inpe. Naquele ano, foram 102.409 pontos de fogo na floresta de 1º de janeiro a 30 de setembro; em 2020, no mesmo período, foram 76.030.
Entenda a coleta dos dados
O Inpe realiza medições desde 1986, após ter realizado um experimento de campo em conjunto com pesquisadores da Nasa. O sistema, porém, foi aperfeiçoado em 1998 após a criação de um programa no Ibama para controlar as queimadas no país. Os dados da série histórica estão disponíveis desde junho de 1998.
Um foco precisa ter pelo menos 30 metros de extensão por 1 metro de largura para que os chamados satélites de órbita possam detectá-lo. No caso dos satélites geoestacionários, a frente de fogo precisa ter o dobro de tamanho para ser localizada.
Os focos de calor, a grosso modo, representam qualquer temperatura registrada acima de 47ºC, mas não é necessariamente um foco de fogo ou incêndio. Na verdade, um foco indica a existência de chamas em um píxel de imagem. Neste píxel pode haver uma ou várias queimadas distintas.
Se uma queimada for muito extensa, será detectada também com píxels vizinhos àquele. Ou seja, vários focos estarão associados a uma só queimada. Neste contexto, o número produzido é um indicador, e não uma medida absoluta.
Ciclo do desmatamento
As queimadas na Amazônia têm relação direta com o desmatamento. O fogo é parte da estratégia de “limpeza” do solo que foi desmatado para posteriormente ser usado na pecuária ou no plantio. É o chamado “ciclo de desmatamento da Amazônia”.
Após o fogo, o pasto costuma ser o primeiro passo na consolidação da tomada da terra. Nos casos em que a ocupação não é contestada e a terra é de qualidade, o próximo passo é a exploração pela agricultura.
O que provoca as queimadas?
Para haver fogo, é preciso combinar: fontes de ignição (naturais, como raios, ou antrópicas, como isqueiros ou cigarros); material combustível (ter o que queimar, como madeiras e folhas); e condições climáticas (seca).
Como a Amazônia é uma floresta tropical úmida, os incêndios mais recorrentes ocorrem quando a madeira desmatada fica “secando” por alguns meses e, depois, é incendiada para abrir espaço para pastagem ou agricultura. Segundo especialistas, um incêndio natural não se alastraria com facilidade na Amazônia.
As queimadas são apenas uma das etapas do ciclo de uso da terra na Amazônia. Depois do desmate, se nada de novo acontecer, a floresta pode se regenerar. Uma floresta secundária, no entanto, nunca será como uma original, mesmo que uma parte da biodiversidade consiga se restabelecer. Na prática, o que acontece é que a mata não tem tempo de crescer de novo.
Fonte: G1 RO